Mirian Goldenberg traz no caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo (07/fev/2012) matéria intitulada “Nunca é tarde”. Ela lembra de uma categoria um tanto esquecida: as mulheres maduras dos dias de hoje. Aquelas que trabalham, são mães, filhas, esposas, amantes, amigas, enfim, mulheres que lutam pelo seu próprio espaço, superando as inevitáveis transformações do corpo e da mente, isto sem mencionar as exigências externas; os chamados insuportáveis padrões de beleza impostos pela sociedade.
Seguindo esta linha de pensamento ela comenta que para nós brasileiros, “o corpo é um capital. A crença de que o corpo jovem, magro e perfeito é uma riqueza produz uma cultura de enorme investimento na forma física e, também, de profunda insatisfação com a própria aparência. Quase 100% das brasileiras se sentem infelizes com o próprio corpo”.
Essa é uma difícil constatação. Não nos fazemos infelizes, nos tornam infelizes (muitos sujeitos desconhecidos que juntos viram monstros prontos para o ataque). Por que tamanha incoerência feminina? Talvez porque tudo que fazemos ou pensemos ao longo da vida se resumo ao outro e para o outro. Quase nos esquecemos de nossos desejos, daquilo que verdadeiramente queremos. Que dura tarefa é esta de dizer NÃO ao outro! E por que para nós mesmos este temido NÃO sai tão fácil e corrente? Tudo para o outro: sangue e suor para o trabalho; coração e sacrifícios para a construção da família.
Com relação a “sagrada” instituição familiar, Goldemberg afirma: “Ter uma família também é importantíssimo. Casar e ter filhos é um desejo ainda muito presente em todas as gerações e classes sociais. Muitas brasileiras, no entanto, se sentem frustradas por não serem reconhecidas ou valorizadas por maridos e filhos”.
Conheço mulheres muito bem sucedidas no trabalho que sofrem tremendamente por não terem encontrado alguém que pudesse compartilhar uma vida, ter filhos e alcançar a tão sonhada família. Dilemas afetivos assombram muitas delas que se sentem fracassadas porque não conseguiram corresponder ao exigido por todos; amigos e familiares. Às vezes me pergunto se este não será um sofrimento gerado mais pelo outro do que por essas mulheres que padecem da dor do vazio.
Uma professora de 41 anos conta sua inquietante experiência: “Passei a vida inteira cuidando da casa, do marido e dos filhos. Meu marido me traiu com uma garota de 22 anos. Meus filhos nem respondem aos meus telefonemas. Deles, só recebo patadas. Minha única alegria são meus gatos e cachorros”.
Goldenberg comentando sua pesquisa com mulheres mais velhas, descobre outra realidade: “Muito mais importante do que a aparência e o marido é a liberdade que adquiriram com a maturidade”.
Uma médica de 63 anos disse: “Descobri que a verdadeira realização não está no corpo perfeito, na família perfeita, no trabalho perfeito, na vida perfeita, mas na possibilidade de exercer meus desejos, explorando caminhos novos e tendo a coragem de ser diferente. Descobri que não devo me comparar a outras mulheres, pois posso ser única e especial”.
Goldemberg acredita, pelos resultados de sua pesquisa que: “Mais velhas, elas passam a exibir seus corpos sem medo do olhar dos outros, sem vergonha das imperfeições e sem procurar a aprovação masculina”.
Ela ainda diz que tais mulheres “aprendem que a felicidade pode estar em coisas simples, como dar risadas com as amigas, ter uma alimentação saudável, caminhar na praia. Passam a investir nos próprios prazeres, como fazer pilates, estudar, viajar etc”.
Será mesmo desta maneira que as coisas acontecem? Não creio que seja uma situação positiva generalizada, mas algumas mulheres, poucas, de fato, chegam lá. Elas conseguem superar o olhar e a palavra exigentes do outro e encontrar seu centro, aquele que lhes pertence e tem consciência do que quer.
Goldemberg reforça que “elas passam a cuidar de si mesmas com o mesmo carinho que dedicaram aos filhos, marido, familiares. Não se sacrificam mais e não se esforçam tanto para provar o próprio valor. O centro do cuidado deixa de ser para o outro e passa a ser para si”.
Uma professora aposentada de 75 anos disse: “Não tenho marido e sou feliz. Invisto meu tempo, energia e dinheiro em mim. Não me preocupo mais com a opinião dos outros. Não tenho mais medo de dizer o que penso e quero. Tudo ficou muito melhor com a idade. Fiquei mais segura, confiante e autêntica. Pena que descobri a liberdade de ser eu mesma tão tarde. Espero que minhas netas descubram o valor da liberdade muito mais cedo”.
Mulheres maduras, resolvidas ou não, talvez sejam sempre assombradas pelo padrão imposto pela sociedade ou forçadas silenciosamente a seguir o desejo oculto do outro. Mas, de qualquer maneira, as escolhas sempre serão nossas. Nunca é tarde, nunca será tarde!
Referências
GOLDENBERG, M. (2012). Nunca é tarde.