Mórris Litvak Jr: do voluntariado ao Conectando Gerações, um negócio social!

O projeto Conectando Gerações tem por objetivo melhorar o bem estar e a qualidade de vida de idosos lúcidos, principalmente os mais solitários, aproximando eles dos jovens, através de uma plataforma de conversa por vídeo em tempo real via internet, permitindo também que quem tem vontade de fazer trabalho voluntário com idosos mas não tem tempo ou condições de ir pessoalmente possa fazer isso via web.

Beltrina Côrte / Fotos: Conectando Gerações

 

morris-litvak-jr-do-voluntariado-ao-conectando-geracoes-um-negocio-socialConheci Mórris Litvak Jr em um fim de tarde num café da avenida Paulista, em São Paulo. De cara deu para perceber o caráter de um homem em busca de outros sentidos à sua vida. Algo não muito comum para quem é formado em TI, com pós graduação em Engenharia de Software, e de apenas 31 anos, solteiro e sem filhos. Menos comum é a virada profissional que está dando em sua vida, empreendendo pelos negócios sociais ligados à solidariedade intergeracional. Mórris é filho de pais vivos e separados e neto de uma avó também viva. Não chegou a conhecer seus avôs, somente as avós e uma bisavó, o que confirma a feminização da velhice.

morris-litvak-jr-do-voluntariado-ao-conectando-geracoes-um-negocio-socialFiquei encantada com seu projeto “Conectando Gerações” por meio das tecnologias e a partir de ações intergeracionais solidárias. Simples e complexo ao mesmo tempo, mas de grande importância para o nosso longeviver ao fortalecer redes de suporte sociais, pois sem solidariedade a velhice se torna insustentável. Para que os leitores do Portal do Envelhecimento possam conhecer o projeto, inclusive apoiá-lo, entrevistamos Mórris Litvak Jr, começando por sua trajetória de vida.

Portal – Qual é a sua trajetória de vida?

Moro e nasci em São Paulo. A única época em que não vivi aqui foi quando morei durante 6 meses na Austrália, em 2007, para estudar inglês. Fiz curso técnico de publicidade junto com o colegial, mas me formei em processamento de dados na faculdade. Fundei uma empresa de internet com meu pai dentro de casa em 1996 fazendo websites e com o tempo nos especializamos em desenvolver um sistema de reservas online de hotéis. A empresa foi vendida a um grupo europeu em 2012. Atualmente ainda presto serviços para esta empresa, mas quando me desliguei da sociedade dela no meio deste ano, comecei a me interessar por negócios sociais.

morris-litvak-jr-do-voluntariado-ao-conectando-geracoes-um-negocio-socialPortal – Quando começou seu interesse pelo envelhecimento? Conte um pouco como seu interesse pela área teve início?

Em 2011 procurei uma instituição para fazer trabalho voluntário e cheguei na Liga Solidária. Após me oficializar como voluntário na ONG, mas sem saber exatamente qual trabalho executar, me sugeriram conhecer o Lar Sant’Anna, um residencial pertencente a essa instituição, por ser próximo à minha casa. Então comecei a “dar aula de informática” lá, ajudando os idosos a mexer no computador e internet e gostei muito, então decidi continuar por lá e assim surgiu meu interesse pela área. Esse trabalho voluntário durou pouco mais de 1 ano.

Portal – Conectando Gerações, afinal, do que se trata?

O projeto Conectando Gerações tem por objetivo melhorar o bem estar e a qualidade de vida de idosos lúcidos, principalmente os mais solitários, aproximando eles dos jovens, através de uma plataforma de conversa por vídeo em tempo real via internet, permitindo também que quem tem vontade de fazer trabalho voluntário com idosos mas não tem tempo ou condições de ir pessoalmente possa fazer isso via web.

Portal – Como o projeto pode amenizar a solidão dos idosos?

Criando vínculos entre os idosos e os voluntários, estimulando e gerando trocas intergeracionais, trazendo companhia e carinho aos idosos mais solitários e permitindo que eles possam também passar experiências e ensinamentos, fazendo com que eles se sintam mais úteis, e reinseridos na sociedade, inclusive pelo próprio uso da tecnologia.

Portal – Como funciona o projeto?

De um lado o projeto capta pessoas interessadas em conversas com os idosos voluntariamente, via internet, através de um site e Fan Page. Por outro lado, contatamos as instituições de longa permanência e afins para selecionar idosos para participar, também voluntariamente. Procuramos cruzar perfis com interesses semelhantes dentro do possível, bem como horários de disponibilidade iguais, e assim incentivar a criação de vínculo com pelo menos uma conversa semanal, de no mínimo 30 minutos e um eventual contato pessoal no futuro.

morris-litvak-jr-do-voluntariado-ao-conectando-geracoes-um-negocio-socialPortal – Onde o Conectando Gerações atua?

Nas instituições com idosos lúcidos e com tempo livre, que recebem pouca atenção/carinho ou que normalmente não tenham muito contato com pessoas diferentes no seu dia-a-dia. Ainda estamos iniciando o trabalho de captação desses residenciais por meio de contatos feitos de diversas maneiras. Por enquanto estamos em São Paulo, mas pretendemos atuar em todo o país.

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Portal – Como as pessoas podem participar? Elas ganham? Tem que fazerem cursos para serem voluntárias?

As pessoas se cadastram pelo nosso site, no ar desde o mês passado e o trabalho é voluntário, então as pessoas que participam não recebem por isso. Estamos elaborando uma formação online para os interessados em participar, com a ajuda de psicólogos especializados na área de envelhecimento.

Portal – Como você vê a importância da formação do voluntário?

É fundamental que haja uma boa formação e acompanhamento dos voluntários para que saibam corretamente como lidar com idosos e que se comprometam seriamente com o projeto, além de criar um vínculo saudável e conseguir fazer com que existam as trocas que incentivamos.

Portal – Quem tem procurado o Conectando Gerações até o momento?

Além de já haver algumas empresas interessadas em saber mais sobre o projeto, temos recebido diariamente cadastros de pessoas interessadas em participar voluntariamente. Já temos muitos inscritos no programa, a maioria mulheres, e na média de 30 anos de idade.

Portal – Em termos de custo, compensa um projeto como esse para o empreendedor? E para a Instituição?

Acredito que sim, estou cada vez mais convicto que compensa. Entretanto, ainda estou analisando a viabilidade econômica e formas de fazê-la, levantando os custos, formas de cobrança e/ou parcerias, estudando diversas possibilidades, já que a ideia é de que o Conectando Gerações vire um negócio social.

Portal – Qual seu olhar sobre a situação do idoso hoje no país?

Na minha visão há um atraso muito grande na cultura de respeito e valorização do idoso no Brasil. Ainda faltam políticas e iniciativas que olhem com carinho para os idosos e se preocupem com a questão, principalmente partindo dos jovens. De uma forma ou de outra isso vai ter de mudar pois o envelhecimento da população é uma tendência cada vez maior.

Portal – Como você vê o mercado do envelhecimento hoje no Brasil?

Devido a essa questão e a tendência de envelhecimento da população no Brasil e no mundo, eu acredito que existe muita oportunidade a ser trabalhada, principalmente na prevenção de doenças e atividades para os idosos que continuam física e mentalmente ativos por muito tempo depois da aposentadoria, e possuem muito conhecimento e experiência para passar às novas gerações.

morris-litvak-jr-do-voluntariado-ao-conectando-geracoes-um-negocio-socialPortal – O Conectando Gerações também atua se conectando com outros empreendedores sociais?

Pretendemos levar a plataforma para dentro de ONG’s, clubes e instituições de idosos carentes em geral, com custo financiado por apoiadores, para seguir sempre no nosso objetivo de levar bem-estar e colaborar na qualidade de vida dos idosos, com o maior alcance possível. Sabemos que a internet é uma ferramenta que nos permite escalar a ideia, por isso o projeto é baseado na web, e que as parcerias são essenciais.

Portal – Quais são até o momento as principais barreiras encontradas? E como tem superado?

Nos pilotos realizados até o momento a principal barreira encontrada é a tecnológica, não só com relação ao uso do computador pelos idosos, mas também com relação aos equipamentos e conexão rápida à internet dentro dos residenciais. Fora isso estamos muito contentes com os resultados e interesse gerado até agora.

Portal – Para que o Conectando Gerações seja realidade, quão forte tem que ser o trabalho articulado entre os donos das instituições, os voluntários e os cidadãos idosos residentes?

É preciso que haja bastante articulação entre todos os envolvidos, e também apoio de parceiros. O engajamento e divulgação dos voluntários também é essencial e estamos contando com a colaboração e envolvimento de todos para que o Conectando Gerações seja e vire um sucesso!

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