O medo de cair, também chamado de Ptofobia (medo de assumir a postura em pé ou andar) é considerado, no meio científico, um importante problema de saúde para a população idosa desde os anos 80. Este sintoma está presente na Síndrome pós queda, mas idosos que não caíram também podem apresentar a fobia. Pessoas que sofreram quedas tendem a ter mais medo de cair e com isto aumentar mais a chance de cair novamente, como um ciclo vicioso.
Gabriela Correia de A. Goldstein(*)
O indivíduo que sofre uma queda apresenta alterações na percepção de suas habilidades, diminuição da autoestima e da autoconfiança em evitar um novo episódio, com isso, ele tende a evitar situações do cotidiano que sejam mais desafiadoras. Quando o idoso que sofreu uma queda está diante de uma situação que representa um risco de cair ele se preocupa mais com os obstáculos do que com a tarefa a ser realizada, diminuindo suas estratégias de superação. Nestes casos, é comum que o indivíduo apresente alterações de marcha e reduza suas atividades do cotidiano, acarretando no descondicionamento físico e maior propensão à queda. Socialmente, o idoso vai deixando de frequentar locais que antes faziam parte de sua rotina, como igrejas, shoppings, parque, eventos sociais etc.
O que é “medo de cair”?
CONFIRA TAMBÉM:
É possível encontrar na literatura diversas definições para o termo “medo de cair”. Internacionalmente, relaciona-se com a diminuição da autoeficácia em lidar com situações cotidianas sem cair. A autoeficácia refere-se a condições físicas, motivação e confiança. Idosos que evitam situações desafiadoras deixam de desenvolver estratégias de superação de limitações, base da construção do medo.
A avaliação do medo de cair é fundamental uma vez que desenvolvido este sintoma ele tende a persistir, havendo novos episódios de queda ou não. Em algumas situações o medo pode ser protetivo, fazendo com que o idoso evite situações de risco, mas devemos ficar atentos ao medo exagerado que leva a diminuição da qualidade de vida e situações de isolamento social.
O medo da queda é multidimensional e algumas pessoas relatam mais medo de cair do que outras, por exemplo, aquelas que não praticam atividade física, as que apresentam déficit visual, alterações no equilíbrio, as que possuem dor crônica, artrose, as do gênero feminino e as que já passaram dos 80 anos.
A causa do medo de cair é multifatorial e está relacionado à interligação de vários fatores como alterações da mobilidade, declínio da funcionalidade, quadro intenso de dor, problemas no equilíbrio, aumento da fragilidade, depressão, fatores ambientais, baixa qualidade de vida e institucionalização. O histórico de queda também contribui para o desenvolvimento do medo de cair, principalmente se este histórico está associado a problemas no equilíbrio. Um idoso com déficit de equilíbrio evita atividades que exigem maiores demandas funcionais, entre elas, atividades externas, ao ar livre, ou eventos sociais com inúmeros distratores.
Tratamento
O medo de cair pode ser tão comum e tão incapacitante como uma queda, portanto, ele deve ser prevenido. Nos casos mais graves, o medo leva ao isolamento social, ansiedade, depressão, prejuízos na marcha e no equilíbrio acarretando novas quedas. O profissional da saúde pode utilizar ferramentas que avaliam a intensidade do medo auxiliando no planejamento do tratamento e avaliando sua eficácia.
No Brasil, os avaliadores utilizam a Falls Efficacy Scale International (FES-I –BR) que foi traduzida para o português. Na avaliação do medo de cair, questões físicas e psicossociais precisam ser consideradas. O tratamento deve ser acompanhado por equipe multiprofissional para um olhar mais integral do sintoma e resultados mais efetivos.
Já existem muitos programas de prevenção de quedas, mas são raros aqueles que consideram o fator “medo de cair” como parte da atenção ao idoso. Os profissionais de saúde que trabalham com esta população devem ser sensibilizados a buscar, além de fatores físicos e ambientais, sintomas emocionais relacionados à queda. O apoio social e familiar, a acessibilidade e a mudança de comportamento por parte do idoso são fundamentais para o tratamento bem sucedido.
A família deve ficar atenta para não reforçar o medo da queda. É comum que familiares, na tentativa de proteger o idoso, acabem contribuindo para a fobia, restringindo o idoso de atividades que ele costumava praticar, o lembrando sempre da possibilidade de novas quedas e interferindo na sua autonomia. É preciso que os riscos sejam diminuídos para que novas quedas sejam evitadas, mas deve se ter cuidado, também, em não restringir a pessoa idosa de sua vida social, impactando na qualidade de vida.
Referencias
Almeida, P. & Neves, R. (2012, set.). As quedas e o medo de cair em pessoas idosas institucionalizadas.Revista Kairós Gerontologia,15(5), 27-43.. Disponível Aqui. Acesso em 08122014.
Lopes, KT, Costa, DF, Santos, LF, Castro, DP, & Bastone, AC. (2009). Prevalência do medo de cair em uma população de idosos da comunidade e sua correlação com mobilidade, equilíbrio dinâmico, risco e histórico de quedas. Brazilian Journal of Physical Therapy, 13(3), 223-229. Epub May 15, 2009. Disponível Aqui.. Acesso em 051214
Malini FM, Lopes CS, Lourenço RA. Medo de quedas em idosos: uma revisão de literatura. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto. 2014; 13 (2): 38-44. Disponível Aqui. Acesso em 61214.
(*)Gabriela Correia de A. Goldstein – Fisioterapeuta com Mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo. É especialista em Fisiologia e Biomecânica do aparelho locomotor pelo Instituto de Ortopedia do HC- FMUSP, e Especialista em Gerontologia Social pela PUC-SP. É blogueira e atua na área de Saúde Pública e Gerontologia. Escreve na Categoria Saúde-doença e Políticas. Email: [email protected]. Blog: Aqui. Currículo Lattes: Aqui