Morreu no dia 24 de janeiro de 2015 a atriz Maria Della Costa, aos 89 anos. Ela estava internada no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio, e teve um edema pulmonar agudo. O teatro brasileiro deve muito à ela, que foi uma espécime rara nas artes brasileiras, uma mulher à frente do seu tempo. Ela fez as primeiras montagens de obras inéditas de grandes dramaturgos.
Luciana Helena Mussi / Fotos: Divulgação
Os anos passam para todos e a “passagem” acontece, até para os mais belos e competentes. No dia 24 de janeiro de 2015, Maria Della Costa, uma das maiores atrizes do teatro brasileiro, decidia “navegar por outros mares”, aos 89 anos.
Sempre lamento quando uma pessoa querida, completa, livre e sem limites se vai. Falo de um tipo de ser humano com um mundo ainda por fazer, dotado de uma imensidão de recursos prontos para serem explorados. Para Maria Della Costa, os adjetivos não bastam e não cessam.
Nascida em Flores, no interior do Rio Grande do Sul, Gentile Maria Marchioro, ou simplesmente Maria Della Costa, iniciou a sua carreira artística no Rio, em 1944, aos 18 anos de idade, a convite da amiga Bibi Ferreira. Seu primeiro papel foi numa adaptação de “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo.
No teatro, interpretou grandes textos como “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues, “Prostituta Respeitosa”, de Sartre, “Ralé”, de Gorki, entre outros. Em 1954, abriu sua própria casa de espetáculos, o Teatro Maria Della Costa, localizado no bairro da Bela Vista, em São Paulo.
Na TV, a atriz participou de novelas como “Beto Rockfeller”, da extinta TV Tupi (1968), “Te Contei” e “Estúpido Cupido”, na TV Globo, na década de 70. O seu último trabalho na televisão foi em “Brasileiras e Brasileiros”, pelo SBT, em 1990.
A atriz era viúva do também ator Sandro Polloni e não tinha filhos.
Sobre Maria Della Costa…
O jornalista Artur Xexéo, na Globo News, lembra: “Foi uma das pessoas mais importantes na modernização do teatro brasileiro, nos fins dos anos 40 e início dos anos 50. Perder os ‘tiques’ que tinha do teatro português. Se tornou mais brasileiro. Ela é daquelas atrizes, como Tônia Carrero, que teve muitas dificuldades de convencer a crítica porque era bonita demais. Ela era tão bonita como a Marilyn Monroe”.
Nathalia Timberg ressalta o trabalho da atriz: “Eu acompanhava a trajetória da Maria e ela foi uma operária abençoada do teatro. Com força, com dignidade e sucesso. Uma pessoa linda que ela foi, mesmo quando já estava debilitada pela doença”.
Nei Latorraca lembra a mulher e sua importância para o teatro brasileiro: “Uma gaúcha poderosa e linda, sem nenhum tipo de estrelismo. Eu falei com ela na semana passada para saber como ela estava. Nós nos víamos sempre quando eu estava em Paraty. A Maria foi uma atriz muito importante dentro do teatro, ela viajava o mundo inteiro de navio levando o repertório dos autores brasileiros. Era uma pessoa muito simples”.
Tânia Brandão, crítica de teatro e autora do livro “Uma empresa e seus segredos: Companhia Maria Della Costa (1948-1974)” destaca: “Ela significou uma revolução no jeito de se fazer teatro no Brasil. As tentativas de mudança que havia na época, como as que fazia o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) seguiam um modelo de produção europeu. Eram produções caras, de grandes autores, que não se pagavam. Isso levou o grupo à falência. Já a Companhia Maria Della Costa, que lançou gente como Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ney Latorraca, conciliava textos densos e comerciais. Por isso, foi a companhia moderna mais longeva do Brasil”.
A secretária de Estado de Cultura, Eva Doris Rosental, emitiu um comunicado sobre a morte da atriz: “O teatro brasileiro deve muito a Maria Della Costa. Belíssima, forte e empreendedora, Maria foi uma espécime rara nas artes brasileiras, uma mulher à frente do seu tempo. Ela era uma estrela e uma grande atriz, mas era também uma realizadora dedicada, antenada no mundo inteiro. Maria levou nosso teatro ao mundo e, com sua companhia, fez as primeiras montagens aqui de obras inéditas de grandes dramaturgos”.
Assim, a diva, a bela, a eterna Maria Della Costa, se despede, declamando o poema de Mario Quintana, “O Tempo” – Acesse Aqui
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Referências
DO G1 RIO. Morre no Rio a atriz de teatro Maria Della Costa. Disponível Aqui
SILVA, Tania Brandão. Peripécias Modernas: Companhia Maria Della Costa (1948-1974). Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em História Social do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ, IFICS, 1998.
WARDE, Marx. Maria Della Costa: Seu Teatro, Sua Vida. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Cultura – Fundação Padre Anchieta, 2004 (Coleção Aplauso. Série Especial).