Mão na roda

Os usuários de cadeiras de rodas têm um bom motivo para comemorar. Um módulo de locomoção motorizado é o invento que a engenheira Flávia Bonilha acaba de patentear. A tecnologia permitirá, a preços acessíveis, que os cadeirantes vençam rampas ou longos percursos sem o desgaste físico a que são submetidos ao usar uma cadeira não-motorizada.

Rosa Maria Mattos

 

O Libero – nome dado ao módulo de locomoção em referência à palavra liberdade em italiano – é pouco maior que um videocassete e pesa 25 kg. Serve como um kit de motorização que pode ser acoplado pelo próprio usuário sob o assento das cadeiras de rodas manuais e ser retirado quando não houver necessidade do uso. O Libero dispõe de motores que impulsionam as rodas do próprio módulo que, ao girar, movem também as rodas da cadeira.

A conexão entre o módulo e a cadeira é feita através de engate rápido e é de fácil manuseio. Os motores elétricos são alimentados por baterias recarregáveis de longa duração – o tempo de utilização depende do tamanho do usuário e do tipo de terreno em que ele está andando. O controle do módulo é feito pelo próprio cadeirante, por meio de um joystick que permite determinar a direção dos movimentos.

O módulo foi desenvolvido durante o mestrado em engenharia mecânica de Flávia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob orientação do professor Franco Giuseppe Dedini. A engenheira chegou à idéia do projeto após fazer entrevistas com usuários de cadeiras de rodas. “Fui a fóruns específicos e conheci diversos usuários de cadeiras de rodas”, conta. “Cheguei até a criar uma comunidade no Orkut, o que me possibilitou entrevistar e averiguar os desejos dos cadeirantes para chegar a um modelo ideal para os futuros usuários.”

Baixo custo

No Brasil, dos 14,5 milhões de portadores de deficiências físicas, 4,9 milhões recebem até dois salários mínimos por mês. Enquanto uma cadeira de rodas motorizada custa no mínimo R$ 4.000, o módulo de locomoção seria vendido a R$ 600, o que democratizaria o acesso dos deficientes com menor poder aquisitivo à nova tecnologia.

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A engenheira Flávia Bonilha e seu orientador Franco Dedini assistem à exibição de um protótipo do Libero (foto: Neldo Cantanti).

A cadeira motorizada, além do preço muitas vezes inacessível, é ainda motivo de muitas reclamações dos usuários, que se queixam do peso, da dependência e pouca durabilidade das baterias, da dificuldade para o transporte, montagem, desmontagem e manutenção, além do incentivo ao sedentarismo.

“Queríamos criar um equipamento que permitisse conciliar as vantagens da cadeira manual com as facilidades que uma cadeira motorizada proporciona”, afirma Flávia. “Além do que, a cadeira manual é largamente usada no aqui no Brasil. A acoplagem de um módulo motorizado seria mais útil do que trocar de cadeira”.

A engenheira sugere ainda que o produto seja usado também em espaços públicos. “Shoppings, supermercados e universidades, por exemplo, poderiam dispor de alguns módulos para uso dos freqüentadores.”

A invenção, que foi feita em 2002 e estava em segredo até ser patenteada, só espera uma empresa interessada em produzi-la. “Em três meses já seria possível fabricar o módulo em série e comercializá-lo”, acredita Flávia.

Segundo o presidente da Associação dos Amigos Deficientes Físicos do Rio de Janeiro, Paulo Sérgio, a nova tecnologia certamente agradará os cadeirantes. “A idéia, além de ser acessível aos bolsos, é fantástica em cidades em que o transporte coletivo não atende aos deficientes”.

Paulo Sérgio é também membro da diretoria da escola de samba Tradição, na qual coordena uma ala específica para foliões cadeirantes. “Esse módulo nos ajudaria bastante e, dispensando os acompanhantes que empurram os deficientes, abriria espaço para mais cadeirantes desfilarem.”

Fonte: Ciência Hoje On-line, 13/04/2006. Acesse Aqui 

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