Mais que qualidade de vida, eles querem reconhecimento

Os idosos têm prioridade nos bancos de ônibus, nas filas, têm direito a passagens gratuitas e até benefícios em empréstimos. Mas para eles, no Dia Nacional do Idoso, comemorado hoje, nenhuma dessas regalias é suficiente para suprir o que eles mais querem nessa fase da vida: dignidade e reconhecimento, principalmente da família.

 

Olga Mantovani, 92, João Carminatti, 65, e Maria Moreira Carneiro, 63, vivem com outros 34 idosos no único abrigo regularizado em Cascavel, o São Vicente de Paula, no Bairro Jardim Maria Luiza. O Hoje fez uma visita aos moradores do abrigo que integram a população média de 18 mil pessoas idosas em Cascavel. Apesar de receberem comida, carinho e cuidados médicos, muitos sentem a ausência da atenção de algum familiar que passam meses e até anos sem visitá-los.

“O idoso é tratado mal e não somos nada para a sociedade. Os jovens vivem em um mundo de ilusões e esquecem que os pais são suas raízes e que amargaram para criar os filhos. Um dia os filhos casam e a maioria não quer saber dos idosos”.

As palavras de Olga revelam a perspectiva da terceira idade. Desde que se separou do marido, há 17 anos, Maria Moreira Carneiro mora no abrigo. Sua família vive em Minas Gerais e, segundo ela, nenhum de seus parentes sabe que ela está em Cascavel. “Quando não temos casa para morar você tem que se conformar. Eu era feliz quando vivia com meus pais, mas eu chegar até essa idade é um troféu que Deus me deu. Mas meus parentes nem devem saber que estou aqui”, lamenta.

Carminatti, que também recebe os cuidados da equipe do Abrigo São Vicente há 11 anos, fala das lições que adquiriu em seus 65 anos de vida e de sua visão das famílias de hoje, principalmente das que têm um idoso para cuidar. “A maior parte dos parentes de quem vivem aqui não os visita e muitos sequer sabem que o idoso está aqui. Um pai consegue cuidar de dez filhos, mas dez filhos não são capazes de cuidar de um pai”.
“Os filhos casam e não querem saber dos idosos”. Olga Mantovani, 92 anos
“Muitos parentes nem sabem que o idoso está aqui”. João Carminatti, 65 anos

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Obstáculos
Faltam preparo, tempo e paciência das famílias

De acordo com a assistente social do Abrigo São Vicente Vanice Schaedler e com a presidente do CMDI (Conselho Municipal dos Direitos do Idoso), Elisa Pompeu, as declarações dos idosos são justificáveis. A necessidade dos abrigos, que seria descartada caso os mais velhos fossem assistidos pelas próprias famílias, revela como muitas pessoas da terceira idade são tratadas hoje.

O CMDI faz um levantamento de quantos abrigos existem em Cascavel, mas já estima que a demanda de idosos que precisam de um lar é maior que a quantidade de locais disponíveis. “Os primeiros responsáveis pelo idoso são a família. E muitos filhos não pensam que um dia eles é que chegarão à terceira idade e poderão ser vítimas dos próprios filhos”, condena Elisa.

Vanice atribui a presença de idosos em asilos a duas situações: a falta de tempo da família cuidar dos idosos e a ausência dos membros da família. No segundo caso, os abrigos são o melhor amparo que um idoso pode receber. Mas para ela, a família querer colocar o idoso em um asilo é quase inadmissível. “O abrigo deve ser a última instância para quem não tem vínculo familiar com ninguém ou quando não consegue se manter. Já recebemos idosos encaminhados por ordem judicial, mas existem casos que não têm necessidade de a família abrigar o idoso em um asilo”.

O despreparo das famílias para retribuir a criação que receberam também colabora para o abandono de quem precisa de cuidados. Vanice esclarece que diante de doenças comuns em idosos, como mal de Parkinson e de Alzheimer, filhos e netos não sabem o que fazer. “Muitas famílias não estão preparadas para assumir um idoso em casa”.

Para suprir essa falta de cuidados é que os abrigos desenvolvem atividades para dar qualidade de vida aos idosos, como alfabetização e atendimento médico e social. Para ampliar o atendimento, até o fim do ano o Conselho do Idoso deve concluir um levantamento de todos os abrigos e de quantos idosos precisam de assistência familiar.

Fonte: Jornal Hoje, 27/;9/2008. Acesse Aqui

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