Assim como a velha psicologia estabelecia limites para o desenvolvimento do adulto, havia por outro lado uma certa crença de que toda pessoa que em sua juventude ou mesmo com mais idade tivesse apresentado comportamentos considerados socialmente não aceitáveis e mesmo desastrosos, com o passar do tempo e com o acúmulo de experiências, corrigiria automaticamente suas condutas, se tornaria uma pessoa madura.
Waldir Bíscaro
Se assim fosse, todo o problema se reduziria a uma questão de se ter paciência, e aguardar a chegada dos cinqüenta, sessenta anos para que o indivíduo sem juízo “criasse juízo”.
“Criar juízo”, na crença popular, representava a síntese de todo o processo de crescimento psicológico e definiria a maturidade tanto cronológica quanto a psicológica ou emocional, todo “velhinho seria sempre o bom velhinho” e o envelhecimento constituiria o apogeu desse processo.
Acontece que o desenvolvimento psicológico não se dá de forma automática, como ocorre com o crescimento do corpo. No crescimento dos ossos, dos músculos e dos órgãos, de modo geral – a não ser em caso de graves perturbações – o processo é contínuo e sem retrações, até atingir os limites determinados pela genética.
O crescimento psicológico não é linear, sempre poderão acontecer avanços e recuos, sal¬tos e paralisações e tudo isso por uma simples razão: É que entra aí o querer humano, com suas instabilidades e suas dúvidas sobre que rumos seguir. Por isso, para muitas pessoas, de pouco ou nada valem anos vividos e experiências acumuladas. Essas pessoas estacionam em seu desenvolvimento, se acomodam na mediocridade e não correspondem ao que delas se esperava. Tudo porque achavam que não havia mais nada a fazer.
É provável que ninguém mais afirme com segurança que a maturidade emocional de uma pessoa ocorra pelo simples passar do tempo. Se a maturidade emocional se desenvolvesse com a idade, poderíamos concluir que maturidade cronológica viria a ser a causa condicionante da maturidade emocional e todo idoso seria automaticamente, do ponto de vista psicológico, mais maduro do que as pessoas mais novas.
Feliz ou infelizmente, a realidade não costuma coincidir com essa crença. O número de anos não garante um amadurecimento emocional. Não é porque um adulto apresenta comportamentos aparentemente equilibrados, que ele poderia ser entendido, a priori, como pessoa madura do ponto de vista emocional. No máximo, seria uma pessoa educada. Além do mais, o que é boa notícia, a maturidade emocional pode ser encontrada entre pessoas bem mais jovens e, até mesmo, em crianças.
O equívoco de se atribuir maturidade emocional a pessoas mais velhas acontece porque as pessoas em geral consideram como condutas saudáveis a ausência de agressividade, certo comedimento nas comunicações, a complacência nos julgamentos, uma certa fleuma em momentos de crise. Ora, tais atitudes tanto podem significar sanidade como mera passividade frente ao real.
A quantidade de tempo vivido e a quantidade de experiências acumuladas até poderiam servir de suporte para um amadurecimento consistente, e com toques de sabedoria, mas será necessário algo mais para que se dê uma real maturação emocional e efetiva.
Se os acréscimos na idade não garantem um avanço para se alcançar o estágio de aperfeiçoamento pessoal, o que será preciso fazer para se chegar a uma maior aproximação desse estágio? É o que veremos, nas próximas anacrônicas.