Longevidade: importante rever o modo de morar na velhice

Longevidade: importante rever o modo de morar na velhice

Morar bem depende do que oferece conforto e segurança a cada indivíduo.


A cada novo recenseamento, fica mais evidente o aumento da expectativa de vida e a necessidade de observar a oferta de produtos e serviços para esse público crescente, como o morar na velhice. Pessoas idosas estão estendendo o tempo de trabalho não somente como meio de manter o padrão econômico, mas também por perceber que a experiência pode oferecer lições aprendidas para novos profissionais.

Viver mais indica a possibilidade de aproveitar mais a vida, desde que seja confortável e segura. A reportagem publicada no The Economist aponta para o aumento de centenários no cenário mundial.

Até agora, os progressos alcançados no aumento da esperança de vida resultaram da luta contra as causas de morte, especialmente as doenças infecciosas. O próprio processo de envelhecimento, com os males que o acompanham, como a demência, ainda não foi retardado. Desta vez, essa é a intenção.

A tecnologia direcionada às pesquisas na área médica já demonstram caminhos, em especial considerando que o resultado será mais efetivo se adotado a partir de uma perspectiva biopsicossocial. O profissional gerontólogo é um integrador de disciplinas e, portanto, torna-se cada vez mais imprescindível nesse contexto.

Um motivo de preocupação é o cérebro das pessoas. Retardar o envelhecimento corporal não mudará o fato de o cérebro ter uma capacidade finita e estar presumivelmente adaptado pela seleção natural à esperança de vida convencional. Isto é bastante distinto das preocupações com a demência, que é causada por doenças específicas. A sociedade terá, portanto, de encontrar formas de se adaptar ao envelhecimento normal do cérebro: os centenários podem, por exemplo, encontrar-se cada vez mais ocupados em fazer perguntas aos seus assistentes diários, cujas respostas uma vez teriam lembrado.

Os diversos aspectos que acompanham essa mudança demográfica já apontam para a necessidade de novas iniciativas que atendam o público idoso, exigindo políticas púbicas que incluam igualmente cidadãos de diferentes faixas socioeconômicas e que garantam a igualdade a todos.

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O fato de muitas pessoas viverem muito mais tempo teria amplas ramificações. Muito obviamente, a vida profissional será prolongada, como já aconteceu, à medida que a esperança de vida aumentou, e possivelmente ainda mais para as mulheres, que perderão menos das suas carreiras por terem filhos, talvez diminuindo a desigualdade no local de trabalho. Com o tempo, poderão ocorrer mudanças mais profundas. As pessoas que vivem mais tempo podem preocupar-se mais com ameaças que estão mais distantes, como o estado do mundo em 2100. A longevidade permite a acumulação paciente de capital, um fator na emergência de uma classe média.

A compreensão de que estamos vivendo mais, com orientações para maior bem-estar em todos os sentidos, incluindo educação financeira e nutricional, trouxe um envelhecimento que permite estabelecer objetivos alcançáveis, com vistas a uma velhice feliz. Perdas funcionais e cognitivas podem ser postergadas e, portanto, o estigma da velhice feia e triste está sendo repensado. 

Morar bem depende do que oferece conforto e segurança a cada indivíduo, especialmente pertencente a comunidades que ofereçam o suporte necessário. Portanto, o melhor lugar para envelhecer no futuro que se instala a cada novo dia está na atenção que cada pessoa dá ao seu conforto, considerando a moradia como o lugar das histórias de vida e, portanto, onde cada momento deve ser vivido com plenitude. Será na moradia que envelhecer pode ser uma dádiva e não uma perda, é nela que se depositam intimidade, prazer e segurança, um lugar a ser ajustado a cada novo dia, colocando-se o conforto como um objetivo constante.

Foto de Mehmet Turgut Kirkgoz/pexels


Maria Luisa Trindade Bestetti

Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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Arquiteta e professora na graduação e no mestrado da Gerontologia da USP, tem mestrado e doutorado pela FAU USP, com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa. Pesquisa sobre alternativas de moradia na velhice e acredita que novos modelos surgirão pelas mãos de profissionais que estudam a fundo as questões da Gerontologia Ambiental. https://sermodular.com.br/. E-mal: [email protected]

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