Na ILPI, por ser um lugar de moradia, o convívio com os idosos torna-se intenso, marcado por vivências e por experiências que têm impacto na vida do idoso, da família e do profissional.
Meu ingresso na área de Gerontologia iniciou-se em final de 1998, sem que eu buscasse este caminho: não escolhi a Gerontologia, ela me escolheu.
Recebi um convite de trabalho diferente de tudo o que havia feito anteriormente: trabalhar em uma ILPI – Instituição de Longa Permanência para Idosos. Lar Golda Meir. Atualmente Residencial Israelita Albert Einstein. Neste momento se abriu um novo universo permeado de emoções e vivências que despertaram meu interesse em conhecer e contribuir para a velhice.
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No residencial permaneci de 1998 a 2013 e convivi com muitos idosos que lá residiam e buscavam uma forma de viver que compensasse suas fragilidades. Nunca mais parei de trabalhar com idosos.
Esta experiência demostrou que cada um de nós – profissionais que lá atuavam – desempenhava um papel fundamental no cuidar. A vivência do cuidado a idosos, especificamente os mais frágeis, direta ou indiretamente, impactou minha forma de ver a vida e, por conseguinte, a velhice.
Acredito ser este um dos pontos importantes na escolha da temática da minha pesquisa que virou livro, a de que todos somos marcados pelas experiências subjetivas produzidas no encontro com o outro, e que agora apresento na forma de livro.
Alguns autores afirmam que todo trabalho tem sua marca inicial no pesquisador. Deste modo, acredito que a escolha do tema e do objeto de pesquisa tem como foco minha história como cuidadora, mesmo que indiretamente, de muitos dos idosos que conheci no residencial.
Sendo assim, foi possível perceber que a instituição pode ser um local de acolhimento e de descobertas não somente para os idosos que lá residem, mas também para os profissionais que ali desenvolvem suas atividades. Isto é, não se sai ileso dessa experiência de cuidado.
A instituição e o cuidado dispensado aos idosos podem produzir conforto ou desconforto, dependendo de como este se dá. A convivência com idosos e com os familiares destes mostrou como o processo de envelhecimento vem acompanhado de sentimentos ambíguos e desafios, ainda mais quando existe a necessidade da internação.
A família vivencia culpa em razão da institucionalização do idoso, mas, simultaneamente, expressa tranquilidade em saber que os cuidados dispensados estão sendo adequados. Para os idosos, o desafio é se adaptar a um novo contexto de vida, buscando, assim, a desconstrução de mitos e de preconceitos sociais sobre o que é uma instituição, um local que busca oferecer um ambiente adequado e digno aos idosos até os seus momentos finais.
Por ser um lugar de moradia, o convívio com os idosos torna-se intenso, marcado por vivências e por experiências que têm um impacto na vida do idoso, da família e do profissional.
Em uma ILPI, os profissionais têm como objetivo oferecer aos residentes – na maior parte dos casos, por um longo período – cuidados especializados. Enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, nutricionistas, técnicos de enfermagem e cuidadores de idosos garantem os serviços necessários. Dentre estes profissionais, o cuidador de idosos na instituição destaca-se pela relação de intimidade e de proximidade com o residente.
Gostaria de ressaltar que a instituição na qual passei estes anos também tinha como preocupação não ser um local de superproteção dos idosos, buscando manter um padrão de atendimento que respeitasse os moradores, promovendo autonomia e independência. Infelizmente, esse tipo de atendimento não é padrão em outras instituições.
Espero que este livro possa promover mudanças junto às instituições para que busquem oferecer aos residentes, por meio de seus cuidadores, atenção adequada e digna. O livro retrata pesquisa desenvolvida em duas Instituições de Longa Permanência para Idosos na cidade de São Paulo, ambas vinculadas a comunidades religiosas – católica e judaica. Tentamos captar os significados que o ato de cuidar pode produzir sobre a velhice. Preocupação que todos devemos ter.
O livro
O livro “O Cuidador do Idoso em ILPI: Uma relação humana e delicada“, de Margherita de Cassia Mizan é resultado da sua dissertação de mestrado, defendida na PUCSP, e da sua experiência prática e teórica como psicóloga e professora convidada das especializações em Gerontologia e Cuidados Paliativos do Hospital Israelita Albert Einstein. Foi editado pela Portal Edições e será lançado no próximo dia 6 de abril em São Paulo, mas o livro já está à venda no Portal Edições.