O caso de uma mulher a viver debaixo de um vão de escada de um prédio foi dos que mais chocou Pedro Silva, membro do núcleo dos Sapadores Bombeiros de Lisboa que há quatro anos presta apoio a idosos necessitados.
Joana Haderer, da Agência Lusa *
A senhora, descreveu à Lusa, vivia num espaço fechado de cinco metros quadrados, onde comia, dormia e fazia as necessidades, uma situação que nunca pensou existir em pleno século XXI, reconheceu o membro do núcleo de intervenção social de apoio ao cidadão do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB), que este ano já respondeu a mais de 400 ocorrências.
O núcleo foi criado pelo RSB para dar resposta aos muitos casos de idosos que eram encontrados em situações de carência: com fome, isolados e sem rede de apoio.
O primeiro alerta chega muitas vezes dos próprios bombeiros, que são chamados para uma emergência ou para uma abertura de porta, porque um idoso está caído no interior da sua casa, e detetam casos de idosos que precisam de ajudam, reencaminhando a informação para esta estrutura, composta por 12 elementos dos Sapadores Bombeiros.
“O NISAC funciona como um socorro preventivo. Sinalizamos a pessoa e direcionamos para as instituições que prestam apoio ao cidadão”, explicou à Lusa o coordenador do serviço, Luís Pereira.
A partir daí, são entidades como a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ou as juntas de freguesia que passam a apoiar aquele idoso, mas os elementos do NISAC mantêm visitas regulares para garantir que tudo está bem.
“Há sempre uma passagem, um dizer um olá. Vamos ver se as pessoas estão bem, até se criam laços de amizade, quase de pais para filhos”, descreveu o responsável do serviço. Pedro Silva garante que os elementos da equipa “acabam por se envolver com estas pessoas e levam os problemas para casa”.
Uma das respostas que o NISAC presta é a alimentação imediata, levando um “kit de emergência social” com alimentos prontos a comer, para suprir a fome de que muitos sofrem quando são encontrados pelos bombeiros.
O elemento do núcleo recorda o caso de uma idosa que, às cinco da tarde, ainda não tinha comido nada nesse dia e desfaleceu à frente dos bombeiros.
O “kit”, que resulta de uma parceria entre os Sapadores e a Cruz Vermelha Portuguesa, contém bolachas, leite, cereais, fruta em calda, salsichas, entre outros alimentos, que permitem a subsistência da pessoa durante três dias, o suficiente para que os apoios das instituições comecem entretanto a chegar.
Pedro Silva alerta que um dos problemas que os bombeiros vão encontrando é o dos “acumuladores”, pessoas que “começam a acumular lixo em casa, o que potencia o risco de incêndio”.
O NISAC quer também contrariar o isolamento dos idosos, oferecendo um serviço gratuito de teleassistência para situações de emergência. Através de um protocolo com a PT, os sapadores entregam telefones, sendo as chamadas urgentes totalmente gratuitas.
Em 2012, esta equipa respondeu a 849 ocorrências, como visitas de apoio social e saídas com ambulância de transporte. Até final de maio deste ano, o número ia já em 477 situações.
O chefe Luís Pereira refere que, “com a atual conjuntura, as coisas não estão favoráveis, pelo contrário”, e que a tendência é para os mais velhos serem particularmente penalizados pela crise.
Por trás destes números, estão pessoas que não têm família ou outras que “começaram a separar-se dos seus familiares e perdem a capacidade de zelar por si próprias”, descreveu Pedro Silva.
As pessoas podem estar isoladas das famílias, mas os bombeiros lembram o papel dos vizinhos. Se o dono de uma pastelaria nota que um determinado idoso falta ao habitual café depois de almoço, se um morador nota que há algumas horas deixou de ver aquele vizinho mais velho, pode contactar o Regimento de Sapadores Bombeiros.
“Faz parte do dever de cidadania alertar as entidades competentes”, referiu Pedro Silva.