A Juventude, o filme

A Juventude, o filme

Fred (Michael Caine) e Mick (Harvey Keitel), dois velhos amigos que passam férias em um luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado e Mick é um cineasta em atividade. Juntos, os dois passam a recordar suas vidas, paixões da infância e juventude. Enquanto Mick luta para finalizar o roteiro daquele que ele acha que será seu último grande filme, Fred não tem a mínima vontade de voltar à música. Entretanto, muita coisa pode mudar.

 

“Juventude” (La Giovinezza, 2016), seria esse, talvez, o sonho colorido daquele que envelhece, mesmo que isso se dê a conta gotas? Essa foi a curiosidade que tive quando vi o anúncio do longa-metragem do cineasta italiano Paolo Sorrentino.

Mais que depressa, me antecipei e resolvi ver que mistérios guardava essa história que, pelo trailer, já anunciava grandes doses de ironia, acidez e um tipo de deboche sutil, aquele que deliberadamente, através de belas e elegantes imagens, engana e zomba dos muitos e dos poucos anos de todos nós.

Em alguns momentos, nos perguntamos: de que adianta ser jovem, se a vida se mostra vazia e sem perspectiva? E assim, no correr da trama, da música, da fauna e da flora, nossos olhos seguem e perseguem os corpos enrugados dos mais velhos. Será que pelo menos eles teriam algo a dizer?

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A “Juventude” acontece em um idílico spa nos Alpes suíços, centrando sua história nos dois amigos ali hospedados em férias: nada mais nada menos que Michael Caine como Fred, o intrépido maestro e compositor aposentado, lembrado pelo sucesso abrangente de uma série de obras, as “Canções Simples”, e Harvey Keitel que veste o sensível Mick, um cineasta americano que junto com um grupo de jovens escritores finaliza o que ele denomina ser seu “testamento”, o filme que encerrará sua carreira, o apogeu, a glória de uma longa caminhada na profissão.

Se o filme encanta pelas imagens que falam por si ou pela música que nos leva a lugares ainda não explorados pelo homem, eu diria que a experiência de assistir o encontro desses dois personagens nos faz ligeiramente melhores e mais profundos, talvez, até mais melancólicos e duvidosos sobre o amanhã.

Mas esses são Fred e Mick, homens que com um humor, digamos peculiar, pensam o passado de uma vida vivida de reveses, um presente incerto, doloroso e, quem sabe, se tudo der certo, um futuro possível, feito de perspectivas reais. E se nada disso der certo, mesmo assim, que venha o amanhã, duvidoso e arriscado, como todo porvir.

Preenchendo o cenário, temos Rachel Weisz, como a filha de Fred, a representante do mundo feminino que busca a própria identidade e que tenta se refazer depois de um casamento fracassado. Ainda vemos muitos outras figuras nessa imensidão de cores, paisagens e sons desse mágico e belíssimo spa, entre eles um ator que navega em águas turbulentas na direção de seu próximo papel, um astro do futebol, uma espécie de clone adoecido do argentino Maradona e todos os outros personagens; os excêntricos funcionários e hospedes do hotel.

Quem seriam Fred e Mick para Sorrentino? Penso que Yin e Yang, a dualidade de tudo que existe no universo, forças fundamentais opostas e complementares que se encontram em todas as coisas: o princípio feminino, a água, a escuridão […] e o princípio masculino, o fogo, a luz […]. Cada pensamento, cada suspiro, cada desejo, cada ser possui um complemento do qual depende para a sua existência. Nada existe sem o outro: nem na atividade absoluta, nem na passividade absoluta, mas sim em transformação contínua, no movimento constante da vida.

Fred e Mick, homens que respeitosamente, desafiam os anos e a finitude dos dias, reverenciam a passagem do tempo através de suas artes e se curvam a constatação do fim, iminente, ainda que cheios de dor.

Michael Caine e Harvey Keitel, inquietos nas suas performances, se fazem deliciosamente encantadores nas curvas do tempo. Ainda surpreendem, não com o furor da “Juventude”, mas sim com a vida registrada nos corpos cambaleantes, no andar lento, nas sinistras manchas senis e porque não dizer: nos olhos já cansados, mas ainda e sempre sedentos de tempo.

Trailer: Acesse Aqui

Luciana Helena Mussi

Engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutora em Psicologia Social PUC-SP. Membro da Comissão Editorial da Revista Kairós-Gerontologia. Coordenadora do Blog Tempo de Viver do Portal do Envelhecimento. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected].

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Engenheira, psicóloga, mestre em Gerontologia pela PUC-SP e doutora em Psicologia Social PUC-SP. Membro da Comissão Editorial da Revista Kairós-Gerontologia. Coordenadora do Blog Tempo de Viver do Portal do Envelhecimento. Colaboradora do Portal do Envelhecimento. E-mail: [email protected].

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