A inclusão digital é muito mais do que e-mail, internet e redes sociais. Ao longo dos anos com meus alunos percebo que a insegurança ao sair destes cursos é muito grande e infelizmente são poucos que encontram um familiar que respeita seu ritmo de aprendizado para auxiliar e sanar suas dúvidas, dando oportunidade de desenvolvimento.
Denise A. P. de Araujo (*)
Constantemente ouço sobre o número crescente de idosos conectados e programas de inclusão digital, porém questiono como está ocorrendo a inclusão, o que está sendo considerado para ser um indivíduo incluído digitalmente.
Ao se falar em inclusão digital, necessidade de atualização de adultos e idosos, devemos pensar que existe o profissional que necessita de conhecimentos mais específicos em que utiliza programas de gestão empresarial e pacote office; e pessoas que utilizam certas ferramentas como lazer: retomar contato e encontrar antigos amigos, familiares distantes e diminuir a solidão.
O profissional no mercado de trabalho está dentro de uma estrutura que oferece suporte necessário para o desenvolvimento de seu trabalho, e ao longo do tempo só não aprenderá, caso não queira. No caso de outros usuários, estes dependem dos conhecimentos adquiridos através de cursos, orientação de amigos e familiares.
O número de cursos de informática para idosos é grande, porém seguem o modelo “quadradinho”; uma avalanche de aplicativos e informações (word, excel, power point, e-mail, redes sociais, entre outros) que podem deixar o idoso ainda confuso e inseguro. Devemos lembrar que alguns têm um pouco de resistência (acomodação), o que dificulta o aprendizado.
O meu questionamento iniciou-se ao ver pessoas que se dizem conectadas, comentarem que não utilizam sites bancários, em redes sociais acompanham as atualizações de amigos mas não conseguem responder às mesmas ou postar, tiram fotos maravilhosas e não transferem para notebook ou outros equipamentos por falta de conhecimento, entre outras atividades.
E, a realidade, ao irem ao banco (agência ou usar os serviços disponibilizados pela internet) é bem diferente do que é ensinado nos cursos de informática.
A inclusão digital é muito mais do que e-mail, internet e redes sociais. Ao longo dos anos com meus alunos percebo que a insegurança ao sair destes cursos é muito grande e infelizmente são poucos que encontram um familiar que respeita seu ritmo de aprendizado para auxiliar e sanar suas dúvidas, dando oportunidade de desenvolvimento. Não podemos esquecer que quando o idoso busca o aprendizado de novas tecnologias, ele busca alternativa de contato pelas redes e também momentos onde terá uma pessoa a seu lado sanando suas dúvidas, fato que tem peso igual ou até superior ao aprendizado da informática.
Atividades envolvendo tecnologias são necessárias para independência do idoso no dia a dia e estas não são exploradas nos cursos. Há necessidade de desmistificar a tecnologia que está a nossa volta e que muitas vezes o idoso utiliza sem perceber. Há necessidade de mudar a visão que as tecnologias são utilizadas apenas pelos mais jovens. Equipamentos tecnológicos podem estar em vários ambientes da casa (eletro eletrônicos, máquina de lavar com painel digital e etc.) e com orientação adequada todos tem capacidade para utilização. Assim como temos as Atividades da Vida Diária (AVDs) que é um dos critérios para classificação de dependência ou independência de idosos, em breve poderemos ter o conhecimento das novas tecnologias dentro dos critérios das AVDs.
Existem muitos serviços, pesquisas e aprendizados que podemos realizar através da internet, muitos, apesar de utilizar redes sociais, e-mail, não utilizam serviços que podem facilitar seu dia a dia (Poupatempo para agendamento de serviços, busca de locais com auxílio de mapas, consulta de lugares de atendimento/clínicas/laboratórios, resultados de exames pelo site dos laboratórios, acesso a bancos, pagamentos de títulos, cursos on-line e outros).
Devemos recordar que com o aumento da expectativa de vida e consequente manutenção do trabalho mesmo depois da aposentadoria, a inclusão digital precisa envolver estas várias atividades necessárias para a independência. Os serviços bancários, por exemplo, efetuam mudanças constantes sempre com o objetivo de diminuir o número de pessoas dentro da agência, implantam serviços que teoricamente facilitariam a utilização pelos usuários em equipamentos de auto atendimento mas sem ao menos consultá-los, como a biometria. E o que deveria facilitar pode causar transtorno maior. Constantemente vejo idosos que não conseguem realizar suas transações sozinhos porque não conseguem acessar ou porque o sistema de biometria não faz a leitura de forma correta, não realizando a operação necessária para o idoso.
Os serviços são implantados mas os usuários não são preparados para o uso, principalmente o usuário de mais idade (idoso), além do receio/medo de fazer algo errado e ser prejudicado financeiramente. Ouvi de uma aluna recentemente, que o banco que ela trabalha deve ser muito rico, pois ela não consegue tirar o dinheiro quando necessita, devido à dificuldade na utilização dos equipamentos com suas senhas.
São disponibilizados muitos cursos online, porém, muitos idosos, apesar do interesse e facilidade de acesso, não realizam por desconhecer como acessar e fazer uso de todos os recursos.
As tecnologias surgem e são atualizadas em velocidade difícil de ser acompanhada, mas o que precisamos, e urgente, é que exista a preocupação de preparar o usuário, dar base para que cada um identifique suas necessidades e aprenda de acordo com suas necessidades. Ao sentir segurança e não mais o sentimento que tudo que acontece de diferente é culpa do usuário, especialmente do usuário idoso, certamente a pessoa irá em busca de novos conhecimentos o que será bom tanto para instituições quanto para seus usuários.
Referências
Disponível Aqui Acesso em 01.12.14 / Aqui Acesso em 04.12.14
(*)Denise A. P. de Araujo – Administradora de Empresas pela Faculdade Oswaldo Cruz, Especialização em Gerontologia pelo Centro Universitário São Camilo e Mestre em Gerontologia Social – PUC SP. É professora de informática para adultos e idosos, colaboradora da ONG Envelhecer Sorrindo e integrante do Programa Vigilantes da Memória. É membro da rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Email: [email protected]