A III CNDPI, que teve início no dia 23, conta com a participação de 820 delegados, das diversas regiões, estados e municípios brasileiros, com direito a voz e voto. Conta ainda com 104 convidados e 69 observadores com direito a voz, esses representando órgãos, instituições e entidades (nacionais e internacionais) que atuam no campo do envelhecimento e na defesa dos direitos das pessoas idosas. O objetivo central do evento é debater avanços e desafios da Política Nacional do Idoso e demais assuntos referentes ao envelhecimento. A Conferência foi precedida de etapas municipais ou regionais, estaduais e distrital, nas quais foram escolhidos e indicados os delegados participantes, os quais representam os 21 milhões de idosos existentes hoje no país.
Bernadete Oliveira
A abertura oficial da III CNDPI iniciou com a composição da mesa por autoridades políticas que atuam na área do envelhecimento no Brasil e em seguida a assinatura do Termo de Cooperação para que todos os municípios brasileiros tenham Conselho Municipal do Idoso – quem assina é o Presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, de Vitória, Espírito Santo, João Cosmo.
Na foto a deputada Flavia Moraes, Karla Cristina Giacomin, presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Senador Paulo Paim e ministra Maria do Rosário Nunes, Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a qual disse: “Viemos aqui para falar e ouvir todos os sotaques, cada um dos estados que trouxe consigo o desafio do que significa ser idoso hoje e o que queremos para um futuro que começa já”.
Na ocasião, Karla Cristina Giacomin e a ministra Maria do Rosário Nunes fizeram a obliteração do selo do Carimbo Comemorativo do Correio, indicando local e data da III CNDPI (casal de idosos sob um guarda-chuva: respeito, carinho e amor. Sobre o guarda chuva como gota d’água as palavras agressão, violência e desrespeito). Trata-se de uma campanha de valorização à pessoa idosa com destaque para a divulgação das ações do Disque 100. Também foi assinado um Termo de Cooperação Técnica com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), a fim de se promover e implantar a criação dos Conselhos de Direito dos Idosos (previstos na legislação desde o ano de 2002) e incentivar a implementação de um Fundo voltado às políticas públicas para a população idosa. Em seguida todos acompanharam em pé a execução do Hino Nacional do Brasil.
Na apresentação das pessoas comuns, para receber o Prêmio de Dedicação à Pessoa Idosa, Karla Cristina Giacomin relatou: “…talvez não as melhores ou maiores, mas as que expressam a dedicação à pessoa idosa. Primeiro o Sr. Matheos Papaléo Neto que formou uma legião de gerontólogos e geriatras no país”. O qual foi ovacionado pela plenária.
Por fortalecer o Estatuto do Idoso, dividir seu conhecimento entre as pessoas idosas e a comunidade, Sr. Aymoré Alves Marinho, também recebe o Prêmio. Sra. Edusa, de Pernambuco, vice presidente da Secretaria dos Direitos Humanos, participou efetivamente da criação da Promotoria Criminal do Idoso de Recife, bem como da delegacia especializada na pessoa idosa.
Sr. Jorge, Primeira Associação de Aposentados do Brasil, 1959, de Caxias do Sul. Sra. Maria das Graças Monteiro de Castro, idosa da região norte do país, da pastoral do idoso de Manaus. Finalizando, o Senador Paulo Paim, Presidente da Comissão dos Direitos Humanos do Senado Federal, defensor da pessoa idosa no País.
Papaléo, com a palavra, disse emocionado: “Nós ainda estamos começando a luta em benefício dos idosos. Em nome de todas essas pessoas que aqui estão quero agradecer profundamente isso que recebi.”
“Os direitos estão sendo solapados, os direitos humanos já tem 60 anos. Vocês não vão fazer nada! Estamos na luta para o envelhecimento digno em nosso país”. Concluiu Karla Cristina Giacomin. Já Paulo Paim comentou que o “Estatuto do Idoso é a mais importante lei no País”. Abaixo assinado, para aprovar três projetos, para aprovar o direito de o aposentado ter uma política de liberação de suas perdas.
“Idoso bem informado tem voz”
Antes de começar o evento, no salão de credenciamento, enquanto esperávamos a distribuição do material, entrevistei Cleuza Porto, Presidente do Conselho Municipal do Idoso de Curité (Paraíba). Ela falou que trabalha com 300 idosos, e que nos fins de semana eles se encontram no mesmo espaço no qual durante a semana os grupos da infância e adolescência desenvolvem suas atividades. “Temos trabalho com grupos, oficina, ginástica e esporte”, contou Cleuza.
Gildete Lelo, 69 anos, de Guarani (Sergipe), está na III Conferência para buscar os direitos dos idosos, “direito é ter o que precisa… porque não está na prática, a gente só sabe que existe”, disse ao Portal. Para ela o que Guarani tem de melhor é o Grupo Feliz Idade, que promove passeios, reuniões e lazer para os idosos residentes na cidade.
De Vitória da Conquista (Bahia) conheci Nailton Vieira da Rocha, 60 anos, que está nesta Conferência para defender os idosos, fazer cumprir a lei. “Benefício só aos 65 anos, tem que ser aos 60”, afirmou. Para ele o Brasil precisa é da “luta dos Conselheiros Municipais do Idoso, porque o idoso é forte”.
Em busca de melhorias em Hospitais e em Casas de Repouso, veio do Amapá, com todo entusiasmo de sua cidade (Santana) Letícia Matos, 61 anos: “O idoso precisa de uma referência… de saber para onde ir e porque.”
Maria Benta de Viana (67 anos), Claudete Ferreira (69 anos) e Maria Helena de Ferreira Plucani (59), do Conselho Municipal do Idoso (CMI) de Porto Alegre (RGS), se entreolharam quando perguntei o que a cidade delas tinha de bom para o idoso e o que levariam para o Brasil inteiro. Claudete (salvou o trio) disse: “Grupos de idosos, encontros, palestras, informação e formação do idoso, desenvolvimento cultural, alfabetização”, afirmou. E concluiu: “Idoso bem informado tem voz”.
Escola de Cidadania para todas as fases da vida
Dina Furtado (71 anos), Rio de Janeiro e Edusa Cesar Meneses de Araujo Pereira (80 anos), Recife, são militantes da causa dos idosos: “Com muito entusiasmo e paixão. É uma luta conscientizar que o Brasil está envelhecendo”, revelam. Dina, delegada do estado, é psicóloga e tem como hobby pintar e escrever poesia … “Milito na área do envelhecimento desde 1989. O Brasil não sabe que está envelhecendo”, afirmou. Quando pergunto sobre o que levaria para o Brasil, disse: “Uma Unati em cada bairro”. Mas, Dina, a maioria dos idosos brasileiros tem dificuldade para ler e escrever (provoquei). Edusa ajudou a amiga, “Muda de nome, não precisa ser universidade da terceira idade, poderia ser Escola de Cidadania, para todas as fases da vida. Congregar as pessoas, todas as faixas etárias: é para o próprio futuro”. Dina então disse: “Sim, é para todo mundo, encontro permanente de pessoas”.
Trazemos aqui “Segredo”, um pequeno ensaio poético de Dina Furtado:
Como viver muito e desfrutar
Da vida plena sem medo
Cérebro ativo… saúde
Ai está o segredo.
Marília Berzins, que também é membro fundador do Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (Olhe) estava na delegação de São Paulo, representando uma das maiores cidades do país, que envelhece, e com grande número de idosos. Nos últimos dez anos, o número de paulistanos com 60 anos ou mais subiu 35% e chegou a 1,3 milhão. A metrópole terá de se adaptar a esse cenário.
Wandai Costa, 74 anos, de Goianira (Grande Goiânia) veio ao meu encontro toda entusiasmada: “É preciso respeitar o idoso neste espaço sideral que é o envelhecimento! O idoso tem o direito de ter uma vida gostosa”. Em sua cidade tem um Centro de Convivência, os idosos associados fazem artesanato e tem teatro também. Merino Moreira, 70 anos, veio ao nosso encontro e disse: “O coração das Pessoas! O que tem de melhor em Goiânia é o Coração das Pessoas!
Ao ir para o salão da abertura, no elevador, encontro Tomiko Born, 79 anos, que é de Caldas (MG) e conhecida nacionalmente. Ela me revelou calmamente que “… quem sabe a família, de Caldas, seria o que de melhor a cidade tinha para oferecer ao idoso”. Em pé, fazendo pose, junto à mesa do evento, Maria José Carvalho da Silva, 69 anos, de Olinda (Pernambuco), Conselheira do Idoso há 12 anos, diz que veio para a Conferência em busca da melhoria de vida para as pessoas: “… respeito, diálogo e informação é isso que nós conselheiros de idosos fazemos em minha cidade e que no Brasil também podem fazer”.
A presidente da mesa, Karla Cristina Giacomin destacou a importância da plenária que fortalece o movimento dos idosos brasileiros e a missão da defesa dos direitos recebidos como lideranças a fim de se discutir e construir políticas públicas comprometidas com esse movimento. Karla Cristina Giacomin apresentou a ministra Maria do Rosário Nunes, lembrando que ela, aniversariante (22/11), também está envelhecendo e conhecendo o que é envelhecer em um país tão desigual, presenteando-a com o livro Viver Muito. A plenária cantou calorosamente Parabéns a Você, em coro para a ministra que, emocionada, agradeceu e também deu as boas-vindas aos participantes e chamou a atenção sobre a responsabilidade do papel de cada um no evento.
Na manhã do dia 23 houve leitura do regimento e diálogo entre a mesa e a plenária com solicitação de destaques e questões de ordem dos delegados. Para dar legitimidade e teor democrático à Conferência. Ouvimos algumas críticas, como a organização do evento (demora no início do evento e não entrega do material no credenciamento). A não deliberação dos materiais (pastas) foi classificada como desrespeitosa e improdutiva para algumas pessoas idosas. A comissão organizadora alegou que por causa de uma manifestação nas proximidades do evento (na rodovia) foi impossibilitada de entregar os registros das pessoas.
A tarde seguiu com a aprovação do regulamento da III CNDPI, quando os delegados levantavam ou não os crachás como sinal de voto a favor ou contra a deliberação de determinado destaque. Logo mais a noite a Cerimônia de Abertura Oficial da III CNDPI.