Habilidades cognitivas não declinam necessariamente com a idade, revela estudo

Habilidades cognitivas não declinam necessariamente com a idade, revela estudo

Pesquisa francesa revela que as habilidades cognitivas não diminuem necessariamente com a idade. Os dados de atividade neural apoiaram esse resultado e até mostraram que idosos podem recrutar regiões cerebrais adicionais para ajudar no processamento de tarefas verbais.

Por Dugan O’Connor (*)


A percepção positiva do envelhecimento traz benefícios importantes para o bem-estar dos idosos. Não só para as pessoas idosas, mas para aqueles que envelhecem. Disso temos certeza. Mas os pesquisadores franceses Seçkin Arslan, Katerina Palasis e Fanny Meunier queriam saber outras coisas e por isso testaram os estereótipos de idade de capacidade cognitiva em um estudo realizado em 2020, com um total de 33 participantes, sobre como o desempenho em uma tarefa de memória operacional verbal difere entre idosos e jovens.

Um grupo de 18 jovens (idade média de 22 anos) e 15 idosos (idade média de 66) completou um teste computadorizado de sua memória de trabalho verbal enquanto era registrada a atividade cerebral por meio de sinais eletroencefalográficos (EEG). A tarefa era indicar se uma frase estava gramaticalmente correta ou não. Especificamente, os pronomes usados na frase podem corresponder ou não ao gênero de alguém nomeado na frase. Além disso, o pronome pode ser apresentado antes (catáfora) ou depois do substantivo (anáfora).

Para quem ainda lembra das aulas de português vai se recordar que catáfora é um mecanismo linguístico no qual o referente aparece depois do item coesivo, como exemplo podemos citar: “Só queremos isto: aulas presenciais”, em que constatamos que o pronome demonstrativo “isto” antecede o referente “presencial”, que aparece logo depois. Já o termo anáfora, é um mecanismo linguístico por meio do qual um termo recupera um outro termo que o antecedeu no texto. Como exemplo podemos citar: “O doutor está com Covid-19. Ele só retornará aos atendimentos na semana que vem”.

Em relação à precisão, os pesquisadores franceses constataram que os idosos superaram os mais jovens na condição catafórica, enquanto o desempenho na condição anafórica não apresentou diferenças relacionadas à idade. Em termos de tempo de reação, os adultos mais velhos responderam tão rapidamente quanto os mais jovens quando os pronomes foram incompatíveis, independentemente das condições catafóricas ou anafóricas, mas foram ligeiramente mais lentos do que os adultos mais jovens quando os pronomes estavam corretos. Além disso, os participantes que pontuaram mais baixo na memória verbal de curto prazo foram menos precisos quando os pronomes foram incompatíveis, mas isso teve um efeito mais forte em idosos.

Os dados das ondas cerebrais também sugeriram que os idosos têm processamento neural resiliente. No geral, os padrões de EEG foram semelhantes em idosos e jovens. A maior parte do processamento tendia a ocorrer nas regiões centrais do cérebro; no entanto, houve uma ligeira diferença entre os grupos na condição anafórica – idosos mostraram atividade adicional nas regiões frontais do cérebro.

Este estudo forneceu mais evidências sobre as habilidades cognitivas na velhice, de que elas não diminuem necessariamente com a idade, como comumente se associa. Na verdade, a pesquisa revela que os idosos superaram os jovens quando os pronomes ocorreram após o indivíduo nomeado. Os dados de atividade neural apoiaram esse resultado e até mostraram que idosos podem recrutar regiões cerebrais adicionais para ajudar no processamento de tarefas verbais.

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Os pesquisadores franceses alertam sobre a importância de se replicar essas descobertas em pesquisas futuras, e investigar uma amostra de pessoas mais velhas, talvez na faixa dos 70 aos 80 anos.

Fonte
Arslan, S., Palasis, K. & Meunier, F. Electrophysiological differences in older and younger adults’ anaphoric but not cataphoric pronoun processing in the absence of age-related behavioural slowdownSci Rep 10,19234 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-75550-3

Foto destaque de Anna Shvets no Pexels

(*) Dugan O’Connor – Mather Institute, artigo publicado em 25 de janeiro de 2021. Tradução livre de Sofia Lucena.


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