Os irlandeses certamente não serão os primeiros a desaparecer da Europa. Apesar da crise da dívida que atinge o país, a Irlanda registra a maior taxa de natalidade da União Europeia – 2,07 filhos por mulher. O índice, no entanto, ainda está um pouco abaixo do mínimo calculado para garantir a continuidade do tamanho de uma população, que é de 2,1 crianças para cada mulher.
Daphne Grathwohl. Revisão: Alexandre Schossler/DW *
Logo atrás das irlandesas no ranking estão as mulheres da Escandinávia (Dinamarca, Suécia e Noruega), as francesas e as britânicas.
O pesquisador Axel Plünnecke, do Departamento de Políticas para Educação e Mercado de Trabalho do instituto econômico IDW, afirma que as taxas de nascimento costumam ser um pouco mais altas em países onde as mulheres estão bem integradas à força de trabalho. Ele ressalta que nesses países existem uma infraestrutura para o atendimento a crianças consolidada ao longo de décadas.
As taxas de natalidade estão crescendo um pouco em quase todos os países da União Europeia – em média, elas estão em 1,6 criança por mulher. De acordo com o Relatório Demográfico Europeu de 2010, produzido pela Comissão Europeia, a tendência tem a ver com os novos modelos de família: também mulheres mais velhas, que não se casaram, estão tendo filhos.
Políticas governamentais que oferecem incentivos financeiros aos pais também desempenham um papel importante no aumento dos índices, avaliam os especialistas. No entanto, tudo isso ainda não é suficiente para se chegar à mágica proporção de 2,1.
População mais velha
Ao mesmo tempo, os europeus estão ficando mais velhos. Em 2008, a expectativa de vida para os homens era de 76 anos de idade e, para as mulheres, de 82 anos. Entretanto, a diferença entre os países do continente é grande.
Itália, França e Alemanha têm a populações mais velhas da Europa, considerando a média de idade. Os países do leste, por sua vez, contam com populações mais jovens – e também com as mais baixas expectativas de vida.
Mas também no Leste Europeu a média de idade populacional tende a aumentar significativamente nos próximos 50 anos, de acordo com o relatório. Isso porque o crescimento econômico faz com que as pessoas vivam mais tempo, e também leva a uma queda dos índices de mortalidade infantil em países como a Romênia e a Bulgária.
Na palavras dos especialistas da Comissão Europeia, a Europa é “vítima” do próprio êxito no que se refere ao desenvolvimento populacional.
O envelhecimento da população traz consequências diretas para os programas sociais. Em países onde cada vez menos pessoas trabalham, menos se paga para os sistemas de previdência e pensão. Com a geração nascida logo após a Segunda Guerra Mundial se aposentando, a Comissão calcula que a população na idade produtiva deve começar a cair já em 2014.
Ao mesmo tempo crescem os gastos dos sistemas de aposentadoria e saúde. Segundo um estudo da União Europeia, o número de casos de demência na Europa, por exemplo, deve dobrar até 2050, chegando a 16 milhões.
O fator migração
De acordo com o relatório da Comissão Europeia, não é a taxa de natalidade, mas sim a migração que traz o maior impacto sobre o crescimento da população europeia. Atualmente, cerca de 20 milhões de cidadãos não europeus vivem no continente. Há ainda aproximadamente 10 milhões de cidadãos do bloco que migraram internamente. Daqui a 50 anos, um em cada três residentes da União Europeia fará parte dessa – nesse conceito mais amplo – população estrangeira.
Plünnecke vê a migração como parte da solução para o problema demográfico, ao lado de um melhor uso do potencial doméstico de mão de obra.
Já o economista Axel Börsch-Suppan, diretor do Centro para a Economia do Envelhecimento de Munique, do Instituto Max-Planck, diz que a imigração não é a melhor opção para rejuvenescer uma sociedade. “As dimensões [das sociedades] são muito grandes, a imigração precisaria ser enorme” para que se alcançasse esse objetivo.
Países do sul preocupam
Börsch-Suppan também não está convencido de que o encolhimento da população tenha automaticamente um impacto negativo no desempenho da economia.
“Isso pode ter efeitos negativos, mas não necessariamente. Tudo depende de nós”, afirmou. Os trabalhadores jovens precisariam pagar contribuições maiores aos programas sociais, mas, se as pessoas de idade mais avançada trabalharem por mais tempo, a balança poderia ser reequilibrada, afirma.
A Europa será capaz de manter o padrões de vida de seus habitantes? A resposta para essa pergunta varia de um país para o outro. Börsch-Supan ressalta que nem o Reino Unido nem a França têm atualmente grandes problemas demográficos. A Alemanha, apesar de tê-los, teria como contornar o problema.
“Preocupação causam os países do sul do continente, como a Grécia, a Itália e a Espanha, principalmente quando se vê quão forte e às vezes violenta pode ser a oposição aos esforços por reformas”, diz Börsch-Supan.
A crise da dívida soberana na Europa ameaça fazer com que a questão demográfica no bloco seja ainda mais delicada. Mas ao menos nem sempre as crises parecem diminuir as taxas de natalidade, como demonstra o caso da Irlanda.
Fonte: Deutsche Welle. Acesse Aqui