Gislaine Gil é literalmente apaixonada pelo que faz e talvez por isso está sempre sorrindo. Sempre de bem com a vida. Não desiste ante as adversidades, pois reconhece que elas fazem parte do processo de conhecimento e desenvolvimento pessoal.
Beltrina Côrte
Gislaine, ou Gi, é filha de Israel Gil e Maria de Lourdes Bueno Gil e irmã de Gilvana Gil, graduada em Administração de Empresas. Nasceu em 1975, em São Paulo. Seus pais, ambos com ensino fundamental incompleto, fizeram de tudo para dar uma boa formação para as filhas. Gislaine formou-se em Psicologia pela UMESP e em seguida prestou concurso público no Hospital das Clínicas para pós-graduação em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica no Instituto de Psiquiatria. Ali ela ficou por dois anos, estudando oito horas por dia. Não satisfeita, continuou seu percurso no mestrado acadêmico em Gerontologia pela PUC-SP, recebendo no início de 2014 o título de Mestre. Há dez anos é casada com o geriatria e gerontólogo Alexandre Leopold Busse, com o qual tem um filho, João Vitor, de 7 anos, que segundo ela tem habilidade excepcional para desenhar.
A trajetória de Gislaine Gil a levou a apostar em um trabalho de estimulação cognitiva para adultos e idosos a fim de minimizar os problemas de memória e atenção. Vamos conhecer um pouco mais o processo que levou a pesquisadora a ser uma empreendedora apaixonada.
Gislaine, por que decidiu fazer mestrado sobre envelhecimento?
Durante nove anos avaliando o funcionamento cognitivo e emocional de idosos com suspeita diagnóstica de alteração cerebral no Hospital das Clínicas e na Santa Casa de São Paulo, as perguntas que me fazia repetidamente eram: “E agora, como ajudar a ressignificar uma vida cognitiva e emocional após a confirmação de modificações cerebrais?”, “Como acalentar pessoas que têm preocupações futuras com sua memória, decorrente do medo de ficar igual a seus parentes mais íntimos com a doença de Alzheimer?”, “Como promover a saúde mental e postergar o declínio cognitivo?”… Percebi então que necessitava entender melhor o processo de envelhecimento e me dedicar à promoção de saúde optando pelo Mestrado em Gerontologia.
Como se decidiu pelo tema de pesquisa e como foi o seu desenvolvimento?
O tema de pesquisa surgiu dos dados científicos positivos provenientes da área de Neuropsicologia e Reabilitação Neuropsicológica sobre existir plasticidade cerebral em todas as faixas etárias. Logo, observei que seria possível um trabalho de estimulação cognitiva para adultos e idosos, a fim de minimizar os problemas de memória e atenção. A convicção de que as relações pessoais e afetivas são a unidade fundamental da nossa sociedade moldou o meu propósito de sistematizar um programa de estimulação cognitiva que fosse em grupo. Trazer pessoas que pudessem trabalhar em equipe foi o segundo passo a tomar. Nesse momento, um fisioterapeuta, duas terapeutas cognitivo-comportamentais, uma nutricionista, um geriatra e uma cantora lírica foram convidados a trazerem sua expertise ao programa adquirindo uma perspectiva renovadora e reenergizante; tornando-se um programa de estimulação cognitiva multidisciplinar.
A que resultados você chegou?
Os resultados sugerem que o programa intergeracional multidisciplinar de estimulação cognitiva em um grupo de pessoas acima de 30 anos com alta escolaridade teve impacto muito positivo, pois melhorou o funcionamento da atenção e da memória, além da diminuição de sintomas depressivos e ansiosos. Comprovou que é possível diferentes gerações conviver e aprender uma com a outra e que no final o que importa são as relações afetivas. Portanto, esta estratégia mostrou representar um grande potencial de pesquisa e de disseminação em serviços de educação e de saúde.
Quais os principais desafios que enfrentou durante o desenvolvimento da pesquisa?
O principal desafio não foi com a pesquisa. O principal desafio foi conciliar tantos papéis sociais simultaneamente: ser mãe, esposa, profissional, filha e ainda achar um tempinho para cuidar de mim.
Sua pesquisa traz uma discussão importante. De que forma acha que ela contribui para a cultura da longevidade?
A pesquisa contribui para estimular o convívio entre as gerações, enfraquecendo paulatinamente a discriminação para com o idoso. Resgatar o saber adquirido com a experiência da vida pelos idosos e reconhecer que a nova tecnologia pode e deve conviver junto; lado a lado, a essas experiências.
Você acha que a sociedade ainda não está preparada para implementar, na prática, o que você discute na pesquisa?
Não, ao contrário, a sociedade está aberta a novas propostas. Só necessitamos de mais incentivos financeiros do governo ou de entidades particulares em ações promocionais que abranjam o maior número de pessoas em diferentes localidades do país.
O que o mestrado em Gerontologia, a pesquisa e o seu empreendedorismo acrescentaram em sua vida pessoal e profissional?
Aumentaram a minha paixão pela temática do envelhecimento impulsionando-me às novas descobertas e à ânsia cada vez maior por novos saberes.
Que desdobramentos esta pesquisa teve na tua prática profissional? O que vem a ser o Programa Vigilantes da Memória?
O propósito que impulsionou essa pesquisa pode gerar uma força física, mental e espiritual maior para se escrever o livro Ensinar a Lembrar: guia prático para ajudar a reconhecer e melhorar problemas de memória e criar o “Vigilantes da Memória, que foi fundado em 2013. O Vigilantes da Memória é um projeto terapêutico, educacional e de consultoria multiprofissional que visa promover a saúde cerebral, por meio de grupos de estimulação cognitiva, ações educativas e consultoria de conhecimentos científicos sobre memória humana. Seus valores estão fundamentados na ética, cooperação, humanismo e pioneirismo. Atualmente, têm-se um site; Acesse Aqui e equipe multiprofissional que atua de maneira presencial estimulando grupos intergeracionais na cidade de São Paulo. Espera-se que o Vigilantes da Memória inspire práticas promocionais de estimulação cerebral e fortaleça a maneira como as pessoas se relacionem afetivamente entre si, criando um sentimento de cooperação mútua e de pertencimento entre seus pares.
Qual tem sido o impacto do Programa na vida das pessoas?
Minimizar as queixas de atenção e memória da vida diária, fazer as pessoas acreditarem que é possível se relacionar com pessoas de diferentes faixas etárias, romper com os preconceitos etários e resgatar a necessidade humana básica de convívio social e valorização pessoal.
Como as pessoas podem se inserir?
As pessoas podem se inserir pelo próprio site, acesse aqui ou pelo telefone (011) 2533-9754.
Quais são seus próximos passos na vida acadêmica? E na vida profissional?
Pretendo nos próximos anos fazer doutorado na temática da Realidade Virtual e Estimulação Cognitiva. Em curto prazo fazer parte da Sociedade de Geriatria e Gerontologia sessão São Paulo, lecionar em universidade e continuar aperfeiçoando o Vigilantes da Memória a ajudar pessoas com problemas de memória.
O que diria para quem está começando a estudar na área?
Seja impulsionado por aquilo que você acredita e não desista perante as adversidades, pois essas fazem parte do processo de conhecimento e desenvolvimento pessoal. Busque pessoas e programas que agreguem conhecimento e que estejam junto com você em todos os momentos. Acredite, pois “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver” (Dalai Lama).
Para conhecer um pouco mais sobre o empreendedorismo de Gislaine Gil, acesse o site: Aqui curta a página no facebook e receba informações sobre a atenção e a memória humana.