Durante cada fase da vida temos que lidar com dois desafios importantes: gerenciar o novo e lidar com a perda de valores. Em ambos os casos duas habilidades são necessárias: reconstruir e deixar ir. A morte de John, um amigo querido foi um exemplo de ambas as habilidades em ação e sua vida serve como inspiração. Ele enfrentou o inevitável com dignidade, amor pelos amigos e uma suprema devoção a sua arte.
Mary e Ken Gergen *
Em edições anteriores nós exploramos algumas habilidades do “envelhecer”. Como dissemos, durante cada fase da vida, temos que lidar com dois desafios importantes: gerenciar o novo e lidar com a perda de valores. Em ambos os casos duas habilidades são necessárias: reconstruir e deixar ir. Nesta edição nós desejamos focar num caso particular, bem próximo: a morte de John, um amigo querido. Para nós, ele foi um exemplo de ambas as habilidades em ação e sua vida serve como inspiração.
John era um corretor de seguros aposentado, que viveu nos subúrbios, foi pai de três filhos, e foi casado por muitos anos, antes de se divorciar. Ele era um tipo Gary Cooper – quieto, amigável e conservador. John tinha um interesse pelas artes, e foi durante a inauguração de uma galeria de arte na Filadélfia que ele conheceu nossa amiga artista Deborah. Diferentemente de Jonh, Deborah era animada, criativa e uma boemia de coração. Ela vivia numa comunidade de artistas com um animado grupo de colegas. Nós ficamos um pouco surpresos quando eles começaram a gostar um do outro, e imaginamos como eles iriam se ligar como casal. Mas eles se ligaram, e logo John deixou o subúrbio para morar com a sua nova noiva numa casa-estúdio na cidade.
A reconstrução começou. John tinha um velho interesse de colecionar ferramentas antigas e câmeras. Logo ele começou a ter aulas de fotografia, e a pesquisar, junto com Deborah por locais para fotografar. Dentro de alguns anos ele estaria expondo suas fotos em diferentes lugares. Ele também teve aulas de soldagem e começou a encontrar maneiras de usar suas ferramentas antigas e câmeras, em esculturas inovadoras. Uma destas, que ele mantinha na parte de fora do estúdio era feita inteiramente de câmeras velhas. Enquanto ele desenvolvia este talento, o público também começou a demonstrar interesse por suas obras e logo ele estaria vendendo suas peças. A comunidade de artistas também o aceitou, agradecidos por ter sua presença criativa, assim como suas novas habilidades.
A vida estava se expandindo em diferentes direções quando John foi diagnosticado com câncer. Após muitos anos de valente resistência e recuperação, seu corpo começou a perder a batalha. O desafio agora era o de deixar ir. John enfrentou o inevitável com dignidade, amor pelos amigos e uma suprema devoção a sua arte. Por exemplo, em seu aniversário de 80 anos, Deborah convidou uma dúzia de amigos a um restaurante para celebrar. John estava passando por radioterapia e quimioterapia, e suas energias estavam baixas. Entretanto, sua devoção a seus amigos era evidente.
Como sempre, ele manteve conversações a respeito da doença a um nível mínimo. O assunto foi tratado como um pequeno aspecto na celebração de seu aniversário. Deborah pediu para que não houvessem presentes, mas se tivéssemos uma peça de metal interessante, poderíamos trazer para John. Havia mais esculturas a serem feitas! De fato, John continuou seu trabalho no estúdio até a útima semana de vida.
O desafio de deixar ir era agora de Deborah. Nós nos emocionamos por aquilo que ela compartilhou no funeral de John: “Não houve nada que não tenhamos descoberto em nosso relacionamento…era completo”.
* Mary e Ken Gergen são diretores The Taos Institute. Disponível Aqui