Não há nada que os jovens podem fazer que um idoso não possa, mesmo se ele precisar de uma cadeira de rodas…. Na verdade, porque se é mais velho, é ainda mais importante que se faça parte da luta, diz a ativista Frances Goldin, que foi presa 10 vezes durante sua vida.
Por Jill Feigelman, tradução livre de Sofia Lucena
Ela até tentou ser presa durante Occupy Wall Street, mas os policiais se recusaram a prendê-la. O cartaz que ela estava segurando dizia: “Eu tenho 87 anos e muita raiva.” Hoje, seus cartazes dizem: “Eu tenho 92 anos.” Goldin é conhecida, principalmente, por seus cartazes que dizem: “Eu adoro minhas filhas lésbicas. Mantenha-as seguras.”Ela levou um desses cartazes em toda parada gay de Nova York – e em paradas em outras cidades – nos últimos 30 anos.
Goldin nasceu em Queens e viveu em um bairro anti-semita, onde sua família judaica foi às vezes alvo por iluminar velas de Shabat nas noites de sexta-feira. Aos 20 anos, ela se casou com Morris Goldin e diz que foi ele quem a ensinou sobre “política radical”. O casal mudou-se para Lower East Side (LES) e encontrou Nirvana.
O LES tem sido sua comunidade desde então. Nós entramos em contato com Goldin via e-mail pouco antes da eleição geral para lhe perguntar sobre ser uma entusiasta ativista por tanto tempo.
Quais as reações aos seus cartazes?
Eu não fico nem um minuto sem pessoas correndo para me abraçar e me beijar. São quatro horas de choro e emoções. Quando as pessoas vêm e dizem: “Você pode ligar para a minha mãe?” Eu digo “Claro”. E eu ligo pras mães e digo: “Você não sabe o que está perdendo. Seu filho / filha está ansiando por seu amor. Você está negando a si mesmo esse amor.” Eu digo a eles para ir a uma reunião do PFLAG. “Há uma organização maravilhosa, PFLAG, Pais e Amigos de Lésbicas e Gays, e é grátis e você pode ir a uma reunião e apenas ouvir. Vai te ajudar muito. Eles têm reuniões por toda parte.”
Eu estava no desfile em um dos anos, e tinha dois caras em pé atrás de mim e eles disseram: “Onde está o seu chapéu? Está muito ensolarado, você precisa de um chapéu.” Então eles atravessaram a rua, entraram em um restaurante elegante, pegaram dois guardanapos de linho extravagantes, fizeram um chapéu com eles e colocaram o chapéu na minha cabeça. Eles se conheceram na parada gay e se apaixonaram, e agora eles são meus queridos amigos. Eu os vejo regularmente.
O que suas filhas acharam do cartaz? Você disse a elas que ia fazer?
Não, eu não achava que eu precisava da permissão de ninguém. Eu tenho protestado a minha vida inteira. Eu não precisava de permissão para defender os direitos dos homossexuais. Tenho estas duas incríveis e maravilhosas filhas que são lésbicas e ambas são radicais, e ambas estão envolvidas em atividades anti-guerra e organizações lésbicas, são parecidas comigo. Fico feliz por elas terem os mesmos valores.
Conte-nos sobre algumas das atividades políticas nas quais você esteve envolvida ao longo dos anos.
Eu estive envolvida com o Conselho de Inquilinos para ajudar as pessoas a lutar contra aumentos de aluguel, certificar-se de que seus apartamentos estavam livres de violações e dar-lhes informações sobre seus direitos como inquilinos.
Eu fui membro do Partido Trabalhista Americano quando Henry Wallace concorreu à presidência. Meu marido era seu gerente de campanha em Manhattan. Uma vez, organizamos uma campanha para protestar contra o preço do leite – enviamos centenas de caixas de leite de meio galão para a prefeitura com uma mensagem em cada caixa de leite. Estávamos envolvidos em muitas atividades.
Em 1958, Robert Moses propôs que a cidade derrubasse todos os alojamentos de aluguel abaixo e construísse moradias para pessoas que pudessem caminhar até seus empregos em Wall Street. Um grupo nosso teve uma reunião e formou uma organização chamada Cooper Square Community Development Committee. Criamos o Plano Alternativo para Cooper Square, que permitiria que os inquilinos ficassem em suas casas. Isso levou 58 anos, e no ano passado todas as pessoas que moram nas ruas 3 e 4 tornaram-se proprietários de seus apartamentos e vão pagar baixas rendas nos próximos 200 anos, para que seus netos, bisnetos tenham um lugar para viver que é acessível para o resto de suas vidas. Essa luta levou toneladas de reuniões, protestos, greves, dormidas na Prefeitura, tudo o que tivemos que fazer para manter nosso bairro intacto e acessível.
Eu estive envolvida em manifestações anti-guerra, direitos do consumidor, ações contra a guerra do Vietnã. Também me envolvi na luta dos direitos civis pela integração.
Desde que Mumia Abu-Jamal foi preso por matar um policial, participei de uma campanha internacional para libertá-lo. Eu tive sete de seus livros publicados, todos os quais ainda estão sendo impressos. Houve uma grande manifestação em Philadelphia no Liberty Bell para libertar Mumia, o que resultou em prisões maciças, incluindo a minha. Um dos meus principais projetos na vida foi libertar este jornalista inocente.
Ocupar era um movimento maravilhoso. Achei incrivelmente estimulante, porque foram todos esses jovens dedicados que usaram a mídia para destacar a questão da desigualdade econômica. Eles organizaram um acampamento, e eles tinham uma cozinha para fazer sopa e alimentavam qualquer um que estava com fome. Eu sou um membro orgulhoso dos 99 por cento.
Você pode nos falar sobre a Goldin Agency?
Por 20 anos eu trabalhei para um agente literário e aprendi o negócio. Quando o proprietário morreu eu assumi a agência por três anos. Eu decidi que se fosse ser minha agência, eu queria ter autores que escrevessem livros que mudariam o mundo. Eu não via razão nenhuma se eu não pudesse fazer a agência ser parte do movimento. Então, em 1977, quando eu tinha 53 anos, comecei a Agência Literária Frances Goldin. Minha propaganda dizia: “Eu não lido com nada racista, sexista, homofóbico ou pornográfico”, e por causa dessa descrição eu acabei com autores como Barbara Kingsolver, Mumia Abu-Jamal, Adrienne Rich e outros pensadores radicais que estão escrevendo livros que tornam o mundo um lugar melhor. Eu trabalhei na minha agência até quase os 90 anos de idade.
Para que lugar no mundo que você ainda não tenha ido – ou manifestação ou protesto -, gostaria de levar o seu cartaz?
Eu sempre quis levá-lo para Porto Rico.
O quanto as coisas mudaram desde a sua primeira Parada Gay? O desfile pareceu diferente este ano depois do tiroteio de Orlando?
Acho que toda a atividade incentivou muitas pessoas a saírem do armário. As pessoas que estavam caladas sobre sua orientação sexual aprenderam que as pessoas em todo o mundo estão se manifestando por direitos LGBT e, como resultado, os movimentos não só cresceram, mas aparecem em lugares onde nunca tinham acontecido. As igrejas se envolveram, e organizações que nunca tomaram uma posição antes sobre esta questão aprenderam que não podem ficar fora da luta. Houve uma enorme diferença no ano em que o casamento entre homossexuais foi legalizado; foi um desfile tão descontraído e de comemoração.
Qual é o maior avanço em tecnologia que você já viu em sua vida?
A ideia de que você pode falar com alguém que está em outro local pelo seu computador e vê-los, é incrível.
Quais conselhos você gostaria de dar à você de 20 anos de idade?
Eu gosto da vida que eu levei. Eu não sei se eu mudaria algo. Eu fiz o que eu queria fazer e eu não me arrependo.
O que envelhecer com atitude significa para você?
Tratar os idosos de forma diferente é um erro. Só porque eles são velhos, porque talvez eles precisem de uma bengala ou de ajuda para caminhar, não significa que eles são menos humanos. As pessoas devem deixar as pessoas fazerem o que conseguem fazer e não tentar ajudá-las quando não precisam de ajuda. Elas devem incentivá-los a fazer o que conseguem e só ajudar se for solicitado. Quando alguém diz “Eu sou jovem de 80 anos” isso é ridículo. Tenho 92 anos e tenho orgulho de ter a minha idade. Quando alguém não quer dizer a sua idade eu acho que eles estão negando uma parte boa de sua vida.
Você tem conselhos para idosos que querem se tornar mais ativos politicamente?
Não há nada que os jovens podem fazer que um idoso não pode, mesmo se você demorar mais ou precisar de uma bengala ou de cadeira de rodas. Isso não significa que você não pode participar de manifestações ou protestar. Na verdade, porque você é mais velho, é ainda mais importante que você faça parte da luta.