Dentre tantas matérias que circulam pela internet, uma delas, especialmente, chama atenção. Trata-se da reportagem de Letícia Sorg, repórter especial de ÉPOCA, sobre a velhice dos animais. Parece que até os animais se ressentem com seu envelhecer.
Como Sorg bem diz, vídeos e fotos de animais estão entre os maiores sucessos da internet. Todo mundo clica para ver um gatinho brincando com uma caixa. Um cachorrinho fazendo arte. Eles são, de fato, uma unanimidade inquestionável. Mas o que as pessoas não pensam e nem ao menos notam é que grande parte destes bichos tão fofinhos são filhotes. Olhos vivos, expressivos, movimentos rápidos e muitos pulos e piruetas. Quem compraria, por exemplo, um cãozinho já idoso com catarata e surdo? Se para eles é difícil, imaginem para nós seres humanos enfrentar a cada dia a evolução das rugas, cabelos brancos, flacidez e tantas outras mudanças inevitáveis no corpo! Muitos de nós sofrem e mais ainda quando nos depararmos com a velhice dos bichos.
Refletindo sobre estas questões, que também são nossas, o novo trabalho da fotógrafa americana Isa Leshko, Elderly Animals (Animais idosos), registra justamente esse momento da vida dos animais. A ideia do ensaio surgiu quando Isa visitou parentes em um sítio em Nova Jersey e viu Petey, um cavalo cego de 35 anos de idade. Isa conta que ficou hipnotizada pela imagem daquele animal e começou a fotografá-lo. Depois, fez imagens de outros bichos idosos. Um galo, outro cavalo, um cachorro, um casal de ovelhas.
Segundo a reportagem, vários animais, conta Isa, tinham sido maltratados, pareciam cansados. Outros pareciam calmos (será resignação?). E, alguns olharam desafiantes para a câmera (raiva pelo descuido confundida com tristeza?). Em muitos momentos, ela conta que foi preciso conter as lágrimas (emoção pela própria velhice que chegará um dia?). Como quando tirou fotos do galo sem idade definida cujas asas, sem penas, expunham os ossos. Mas mostrar a decrepitude não era a intenção de Isa. Ela queria, em suas palavras, “ter a certeza de honrar [com as imagens] a experiência do animal”.
Talvez Isa, com este trabalho, quisesse honrar sua própria experiência de envelhecer para vivê-la de outra forma, com conhecimento, entendendo os passos que levam qualquer indivíduo a seu inexorável destino.
E não poderia ser diferente para a fotógrafa. Assim como ela, cada um encontra o caminho pessoal, a maneira que parece “ideal ou conveniente” para lidar com o próprio medo da velhice. Ela relata que sua mãe tem Alzheimer: “Minha avó materna também tinha demência. E eu estava morrendo de medo de desenvolver a mesma doença. Esse projeto foi um meio para eu mergulhar nesse medo, tentar entendê-lo melhor e fazer as pazes com o envelhecimento”, disse Isa ao New York Times.
Sorg acredita que o trabalho de Isa lhe permitiu fazer as pazes com o seu próprio destino, nos incentivando a refletir sobre o destino de todos nós – sobre o que tememos, o que valorizamos e as imagens que vemos, e as que deixamos de ver.
Quem sabe…esta experiência “triste” vivida com as imagens e principalmente com a troca de olhares entre ela e os animais, foi para Isa, uma entre tantas tentativas de pensar o envelhecimento à sua própria maneira, sem fórmulas, receitas ou dicas. Cada um vive suas fases da forma como consegue, com recursos próprios, sejam eles escassos ou abundantes. Mas não importa, humanos ou animais, envelhecemos.
Para saber mais, assista ao vídeo no link abaixo, em que Isa explica seu trabalho (em inglês). Acesse Aqui
Referências
SORG, L. (2012). Fotógrafa registra velhice dos animais. Disponível Aqui. Acesso em 15/01/2012.