Mãos habilidosas de vários voluntários transformam flores e folhagens em buquês e pequenos arranjos que são entregues a moradores e funcionários de 26 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da região metropolitana de São Paulo e capital. Essa é a rotina do Flor Gentil que, ao mês, distribui cerca de 800 a 1.000 arranjos de flores doadas por pessoas físicas ou jurídicas.
Helen Keller F. C. Leal de Oliveira e Adriana S. Souza * Fotos: arquivo do Projeto Flor Gentil
Você Já parou para pensar que um simples gesto pode mudar o dia de uma pessoa, fazendo com que ela se sinta especial e única?
Foi pensando dessa maneira que a paulista, de 42 anos, Helena Lunardelli, florista há 15 anos, idealizou, após um momento de questionamento em 2009, o projeto chamado Flor Gentil, que tem como objetivo reciclar arranjos de flores doados por grandes festas e casamentos em São Paulo, garantindo uma vida mais longa às flores, e gerando gentileza e generosidade aos idosos que são presenteados com elas.
Durante a sua prática profissional Helena percebeu a necessidade de fazer algo com as flores que eram descartadas após os eventos que ela realizava. “No primeiro momento achei que estava ‘viajando’, foi quando comecei a ler uma revista com uma reportagem de um projeto que era realizado em Nova Iorque, muito parecido com o que pensava em fazer com o Flor Gentil, porém lá a distribuição de flores era realizada em hospitais com pacientes em cuidados paliativos. Após a leitura dessa reportagem acabei percebendo que não estava tão ‘louca’ assim, sentei e comecei a formatar a ideia do projeto, foi um ano trabalhando nessa ideia, até se concretizar”, diz Helena.
O projeto, após idealizado, demorou um ano para sair do papel e o sonho só se tornou realidade em 2010. Sua sede fica localizada em um bairro boêmio da capital paulista, na Vila Madalena, em uma simples e pequena casa, que se torna grandiosa com o grande número de voluntários, cores, formas, texturas e aromas das flores que ali esperam para serem reutilizadas e doadas.
As pessoas voluntárias são, na sua maioria, do sexo feminino e de diversas faixas etárias, inclusive idosas. Cada uma com a sua história e motivos que as levaram a trabalhar voluntariamente, reutilizando flores de festas e provenientes de grandes eventos realizados no dia anterior, trazendo vida para algo que aparentemente não tinha mais sentido nem valia.
Assim, flores e pessoas vão se transformando de maneira singela por meio de mãos gentis que criam saúde ao dar significado à existência de muitos idosos por meio das flores recicladas. De sexta até quarta-feira, as mãos habilidosas de vários voluntários transformam as flores e folhagens em buquês e pequenos arranjos a serem entregues a moradores e funcionários de 26 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) da região metropolitana de São Paulo e capital.
Essa é a rotina do Flor Gentil, todas as semanas. Atende em média ao mês cerca de 800 a 1.000 pessoas idosas. Semanalmente distribui em torno de 250 arranjos, mas a média de idosos atendidos depende das doações realizadas por pessoas físicas ou jurídicas.
Portal do Envelhecimento – O que a motivou a realizar um projeto com idosos?
Helena Lunardelli – Por ser uma questão pessoal da relação com meus avós e porque no Brasil não se tem uma cultura voltada para o idoso, parece que a velhice é um momento distante de nós e em qualquer momento na vida precisamos de carinho e gestos de gentileza. Trabalhar com idosos é uma via de mão dupla de ensinamentos para mim e para o idoso. Aprendo muito com cada um deles, por exemplo, ver um idoso de 89 anos lúcido, interagindo e que tem muito a fazer ainda, é uma lição de vida para mim.
Quais são as contribuições do Flor Gentil para a pessoa idosa, funcionários das ILPIs e voluntários?
Acho que a autoestima, qualquer pessoa que ceda um tempo para gente, alimenta o corpo e a alma. Porém o vínculo ocorre de forma ampla, ou seja, não existe coisa pior na vida do que não ter expectativa. Nosso papel, de visitar, estimula o idoso a ter expectativas e isso alimenta a alma da gente. Assim que começamos o projeto levávamos flores apenas para os idosos, mas trabalhar com eles é uma devoção, junto com o cuidado e atenção. E assim pensei em alimentar essa rede, distribuindo flores para os cuidadores desses idosos, levando alegria e carinho para ambos. Os benefícios para as voluntárias é enorme, aqui temos voluntárias aposentadas, em tratamento de algumas doenças, que decidiram participar do projeto com o intuito de realizar algo voltado para o social, porque as flores têm energia. É um trabalho terapêutico e todos ficam muito felizes de fazer algo para os idosos.
E você, Helena, como se sente?
Sou uma pessoa mais feliz e realizada, o projeto foi idealizado por mim, mas é do mundo. Uma iniciativa bem realizada não tem fim, um dia eu posso partir, mas o Flor Gentil vai continuar.
Teve dificuldades?
Ao longo desses 5 anos de idealização o projeto sempre foi muito bem aceito pelos voluntários e doadores, mas ocorreram momentos críticos, que pensei por diversas vezes em dar uma pausa no projeto, mas algo sempre acontecia em algum momento de dificuldade, como se fosse um último suspiro de esperança e estamos aí até hoje com o projeto, apesar das dificuldades enfrentadas.
Como uma pessoa, ou empresa, pode doar?
Basta apenas ligar para a ONG Flor Gentil e falar com um dos voluntários, para combinar como será realizada a doação das flores. No dia combinado a gente vai até o local do evento e retiramos as flores doadas, levando-as para a nossa sede, localizada no bairro da Vila Madalena. Ali confeccionamos buquês individuais, que serão entregues aos idosos nas instituições parceiras do projeto. Algo que iria para o lixo e que tem um custo tão elevado é reciclado por meio das mãos habilidosas e cheias de amor dos voluntários, levando qualidade de vida, atenção, carinho e afeto para esses idosos.
Saiba mais
Para saber mais sobre o projeto, acesse a página do Flor Gentil no site Aqui. FanPage: Acesse Aqui ou ainda o Instagram. Saiba como pode se tornar um colaborador e/ou voluntário, ou até se inspirar e replicar o projeto em outras regiões do país. Pode ter certeza que esse gesto de carinho, amor, generosidade e gentileza é uma terapia deliciosa e deixa a vida bem mais bonita, colorida, perfumada e cheia de alegria, tanto para quem realiza quanto para quem recebe.
Afinal, gentileza gera gentileza e saúde!
* Helen Keller Frank Conceição Leal de Oliveira – Fisioterapeuta e mestranda em Gerontologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Participa como fisioterapeuta colaboradora e pesquisadora do Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha (HMEC), localizado na zona norte de São Paulo, onde há um grupo de pesquisa com enfoque em temáticas relacionadas à saúde da mulher. Email: [email protected]
* Adriana S. Souza – Educadora Física, Pós graduada em Dança e consciência corporal,
Mestranda em gerontologia pela PUC-SP, Pesquisadora do envelhecimento na dança.
Bailarina – Municipal de Bailado de S.P. Email: [email protected]