Desde Julho de 2007, assino uma coluna no jornal da Vila Tibério, meu bairro de infância. O diretor do jornal havia me encontrado nas crônicas que eu escrevia e que eram reproduzidas no Portal do Envelhecimento. Como algumas das crônicas falavam de minha infância na Vila, esse diretor me pediu licença para reproduzi-las no jornal que dirige: Jornal da Vila.
Waldir Bíscaro *
Licença dada, nunca mais deixei de assinar minha coluna. Primeiro foram publicadas as crônicas da minha vida na Vila e quando se esgotaram os temas da infância, enviei temas sobre cuidados no envelhecimento, em seguida uma longa série de textos de Psicologia. Em maio, resolvi escrever nova série de artigos não mais sobre Psicologia.
Falei acima de certa paquera na adolescência, mas como, se estava no seminário? Em 1947, terceiro ano do ginásio, eu e mais seis ou sete colegas mais “caxias” liderados por Carlos Franchi, formamos um grupo secreto ao estilo da “Sociedade dos Poetas Mortos”. Tínhamos alguns compromissos, o primeiro é que deveríamos estar sempre entre os primeiros alunos em sala de aula e o segundo era que deveríamos definir desde já em que especialidade científica cada um deveria se empenhar.
Foi então que optei por “biologia” que no meu entender era “a ciência da vida” e não uma parte da história natural. Algum tempo depois, percebi que a tal “ciência da vida”, do jeito que a entendia, só poderia ser a Filosofia. Aos treze anos, tinha apenas vagas ideias do que seria essa tal Filosofia.
Somente aos dezessete anos fui me encontrar mesmo com essa disciplina, quando estudava um manual escrito em latim por um monge alemão e quase me decepcionei. É que no primeiro ano, a gente só estudava Lógica, a parte mais árida da Filosofia. A partir do segundo ano retomei o gosto ao estudar Cosmologia e Metafísica, quando também um ótimo professor, José Penalva, abriu caminho para o estudo do existencialismo.
Passados alguns anos, voltei ao estudo da Filosofia, desta vez na faculdade, isso para poder lecionar, pois o estudo no seminário não era então reconhecido. Em 1960, encerrei a graduação na PUC-SP. Lecionar Filosofia, só foi acontecer em um colégio da Vila Maria Zélia, no colegial noturno.
E onde está o tal reencontro? É que a nova série de artigos que me propus a escrever para o Jornal da Vila, tem por título: LIÇÕES DA FILOSOFIA, essa a velha amiga de adolescência.
Por que “da” Filosofia e não “de” Filosofia? É simples. Meu projeto era captar na historia da Filosofia as contribuições que cada filósofo trouxe para o desenvolvimento do pensamento humano e não escrever temas filosóficos como “A questão do livre arbítrio”, por exemplo.
No início, achei que seria a coisa mais fácil do mundo abrir um livro de história da Filosofia e de lá retirar tudo o que tem a me dizer o senhor Sócrates ou o senhor Kant…
Ledo engano! Primeiro, preciso me perguntar: para quem escrevo?
É que o povo da Vila Tibério de hoje não é mais o mesmo que conheci nos anos quarenta, quando nem dez por cento das famílias possuíam rádio, só havia um Grupo Escolar e não se discutia política. Pode-se dizer que a única fonte de informação eram os sermões do Padre Daniel Chávarri, um basco muito simpático, mas admirador de Franco.
Até agora, consegui juntar seis autores de história da Filosofia, cada qual com uma linguagem diferente. Até aí, morreu Neves, o problema vai ser encontrar a linguagem adequada para repassar aos leitores o pensamento do filósofo, do modo mais claro possível, sem ser maçante.
Se conseguir, conto-lhes depois. Enquanto isso, vou curtindo minha velha paquera amiga.
* Filósofo e psicólogo e ex-professor de Psicologia do Trabalho na PUC/SP.
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