Muitas pessoas a partir dos 60 anos gozam de uma vida sexual ativa, apesar de estarem propensos a doenças crônicas, por efeitos colaterais do uso abusivo de medicamentos e por alterações fisiológicas do próprio envelhecimento, resultando em uma série de modificações como a diminuição da libido e da lubrificação vaginal, diminuição do tônus muscular, surgimento das rugas e flacidez e em certos casos, o surgimento da perda involuntária de urina, mais conhecida como incontinência urinária.
Camila Patriota Ferreira *
O Brasil vem sofrendo uma importante transformação demográfica em relação ao número de indivíduos com sessenta anos de idade. Estudos apontam que as estimativas são de que o país irá ocupar o sexto lugar no ranking mundial com estimativas para apresentar um dos maiores números de idosos, cerca de 15 milhões. A diminuição acentuada das taxas de fecundidade e mortalidade somadas ao aumento da expectativa de vida justificam esta situação. Estas mudanças não se traduzem apenas em expressões numéricas, mas vão muito além quando pensamos no processo de expansão da vida.
Abordar determinadas questões sobre as circunstâncias do envelhecimento são válidas para facilitar a respeito do esclarecimento das modificações atuais e futuras que a população nacional tem vivenciado, além de expor as reais necessidades de mudanças nos âmbitos da saúde e social, pensando na oferta e demanda de profissionais especializados e serviços voltados à promoção de lazer e ressocialização do idoso.
Com o crescente aumento do número de idosos se faz necessário melhorar a abordagem dos profissionais de saúde e consequentemente, aumenta-se a exigência por adequações nas políticas de saúde pública, uma vez que seja esperado que prevaleçam as doenças crônico-degenerativas nesta população. Outras questões que demandam atenção na abordagem e acabam sendo menos exploradas, são os assuntos que tratam da sexualidade na terceira idade.
Falar sobre sexualidade sempre foi considerado um tabu, uma vez que a diferença entre os gêneros está ligada a uma questão cultural. Geralmente faz parte da cultura “educacional” masculina ter como brincadeiras os jogos de luta, de competição, onde prevaleça um vencedor, o mais forte, o dominador. Sendo assim desde a infância o homem cresce com a percepção que de que o sexo o qual pertence é o mais forte e tende a ser voltado para sentir e receber o prazer. Já as mulheres tem suas brincadeiras remetidas aos cuidados com a casa e com a família, voltando-se para um mundo que inconscientemente desperta o instinto maternal, a fragilidade e a função de assumir o controle do lar, favorecendo a perceberem que o gênero assume a função de procriar e não de sentir o prazer.
As desigualdades entre os sexos, tanto na questão cultural quanto na anatomia do corpo humano, podem dificultar a busca pelo autoconhecimento e pela troca de informações quando o assunto envolve o tema “sexo” ou “sexualidade”. Por esta razão as disfunções sexuais são mais prevalentes no gênero feminino (Lara et al, 2008).
Recentemente o número de pesquisas sobre a sexualidade vem aumentando. Muitos profissionais de saúde estão demonstrando um maior interesse em querer discutir este assunto, porém quando associamos à terceira idade há uma escassez de publicações ao relacioná-los com as formas de divulgar este assunto com os idosos e de expor como os profissionais podem abordar o paciente, uma vez que as práticas públicas que envolvem a saúde sexual acabam sendo direcionadas para a população mais jovem, advindas da preocupação e alta incidência de contaminação por doenças sexualmente transmissíveis.
Em contrapartida, doenças como a AIDS estão crescendo na faixa etária acima de 50 anos, assim como as taxas de mortalidade. Sendo assim é indispensável que os profissionais de saúde e os profissionais em formação adotem posturas pró-ativas, buscando ampliar seus horizontes para a sexualidade nesta fase da vida, além de excluir conceitos de que o idoso pelo fato de ser idoso é considerado um ser assexuado, desprovido de vontades e desejos.
Muitas pessoas a partir dos sessenta anos de idade gozam de uma vida sexual ativa, apesar de estarem propensos a enfrentar algumas dificuldades, justificadas pela presença de doenças crônicas, por efeitos colaterais do uso abusivo de medicamentos e por alterações fisiológicas do próprio envelhecimento, resultando em uma série de modificações como a diminuição da libido e da lubrificação vaginal (alterações estas que pertencem às mulheres), diminuição do tônus muscular, surgimento das rugas e flacidez e em certos casos, o surgimento da perda involuntária de urina, mais conhecida como incontinência urinária.
A condição de incontinência pode interferir nas atividades funcionais do sujeito, comprometendo seus afazeres diários, sua relação com o parceiro, familiares e amigos e ocasionando constrangimento e limitação social. Boa parte das pessoas que se deparam com esta situação não sabem ou nunca ouviram falar da existência de um tratamento conservador, ao invés do cirúrgico. A fisioterapia que atua na reabilitação das disfunções musculares do assoalho da pelve executa exercícios simples que promovem a contração e o relaxamento das fibras musculares através do uso de aparelhos ou por meio do estímulo manual.
Outra questão que acaba interferindo na saúde sexual dos idosos é a ausência de um parceiro, pois muitas vezes a perda do cônjuge gera grandes consequências sentimentais e interfere no processo de socialização, diminuindo as chances de conhecer outro parceiro. A falta de privacidade no local onde vivem e o preconceito familiar também são fatores negativos.
O fato é que o contexto da sexualidade na terceira idade deve ser encarado com naturalidade, incentivando-os a se sentirem capazes de curtir os prazeres que as oportunidades da vida tem a lhes oferecer. Se faz necessário melhorar o arsenal das políticas de saúde pública através de uma abordagem multidisciplinar. O avanço da medicina permite que o idoso tenha maiores chances de melhorar seu desempenho sexual, seja por acesso a medicamentos de alto potencial e com menos efeitos colaterais e também por acesso à novas técnicas não invasivas, como a fisioterapia, a prática de atividades físicas e um acompanhamento psicológico que resultam em benefícios físicos, emocionais e sociais.
A atuação fisioterapêutica merece lugar de destaque ao realizar intervenções capazes de melhorar significativamente a qualidade de vida. Previamente ao estabelecer o programa de exercícios utilizados na reabilitação, se faz necessário realizar uma avaliação minuciosa para buscar uma compreensão sobre as disfunções apresentadas pelo paciente. As técnicas e recursos utilizados baseiam-se, primeiramente, em estimular a busca pelo conhecimento com o próprio corpo. Para facilitar a percepção corporal, o fisioterapeuta lança mão de recursos baseados no fortalecimento dos músculos do assoalho pélvico, como a utilização de aparelhos de biofeedback manométrico, biofeedback eletromiográfico, eletroestimulação de superfície e intravaginal, uso dos cones vaginais e o próprio estímulo manual. Ainda torna-se primordial investigar outras condições que possam limitar a condição física do paciente, como a presença de dor na região pélvica.
Referências
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Cabral,F e Díaz, M. Relações de gêneros. Cadernos afetividade e sexualidade na educação: Um novo olhar. Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, Ed. Rona, p. 142-150, 1999.
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* Camila Patriota Ferreira – Especializada em fisioterapia aplicada a Saúde da Mulher pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP em 2009. Docente no curso de Fisioterapia da Faculdade Interamericana de Porto Velho-UNIRON desde 2012. Email: [email protected]