“Elas não me agridem fisicamente… mas com palavras. Não me deixam nem receber visitas” (idosa no metrô).
O modelo tradicional de família composta por pai, mãe e filhos mudou. Atualmente, este modelo divide lugar com outras pessoas com ou sem laços sanguíneos sob o mesmo teto, principalmente, a presença dos avós ou pessoas mais idosas da família extensa.
A família é uma instituição que está em constante construção. Quer pelos novos papéis que são instituídos ao longo do tempo por conta do desemprego, das duplas jornadas de trabalho, da inserção da mulher no mercado de trabalho, pela ausência dos pais na criação dos filhos, entre outros; acabam por forçar reorganizações, dando resposta às necessidades da sociedade atual.
Entre os fatores mencionados, incluímos também, o cuidado que a família assume com as pessoas idosas, principalmente, quando acometidas por doenças incapacitantes como a Doença de Alzheimer.
É raro encontrar famílias que se dispõem ao cuidado de forma espontânea, geralmente, uma pessoa é escolhida pelo restante dos membros por possuir características próprias para essa finalidade como: ser mulher, ser solteira, ter melhor condição financeira e/ou resiliência para lidar com a situação. A pessoa escolhida nem sempre é consultada e sem querer, se torna a responsável pelos cuidados. Devido à imposição ou até mesmo ‘obrigação’ do cuidar, podem ocorrer situações desagradáveis e até mesmo, consideradas crime, como, por exemplo, maus tratos.
Diante deste fato, surge na família uma confusão na estruturação de identidade pessoal e familiar, como também nas funções parentais, onde muitos filhos, simbolicamente, tornam-se pais de seus pais.
Essa confusão familiar acaba acarretando estresse, medo, angústias frente ao desconhecido que, nem sempre, o familiar dará conta, pois a crença existente em nossa sociedade refere-se à pessoa idosa como um estorvo, como alguém sem utilidade e que perdeu seu papel social, fatores estes que contribuem para a violência familiar e para sentimentos de desamparo por parte das pessoas idosas ‘agredidas’.
Quando falamos em violência contra a pessoa idosa, falamos de situações que englobam violência psicológica e física, negligência, exploração econômica, abuso sexual, abandono, violência institucional, etc. São situações que, pela falta de consciência por parte da família e da própria pessoa idosa, acabam passando invisíveis aos olhos. Essa violência acaba por acarretar adoecimento físico, psicológico, alterações de apetite e sono, desidratação, depressão, agitação e, em muitos casos, tentativas de suicídio.
Logo, um simples irritar-se ou a perda de paciência frente à determinada situação pode levar os familiares à condutas de violência implícita, tornando a convivência algo difícil e doloroso para si mas, principalmente, para a pessoa idosa.
Portanto, podemos pensar, usando esse contexto mencionado, sobre as questões que surgem quando ouvimos alguém dizer que irá institucionalizar o seu ente querido. Uma pergunta que sempre devemos ter em mente é: Para quem será benéfica essa institucionalização? Para a família ou para a pessoa idosa? É preferível que a pessoa idosa continue no seio de sua família de origem, muitas vezes sofrendo maus tratos ou, ser institucionalizada e cuidada de forma digna por terceiros?
É importante pontuar que, ao invés de julgar os motivos que levaram à família a este comportamento considerado inaceitável, deve-se investigar a dinâmica familiar existente e intervir de forma a auxiliá-los a lidarem melhor com suas questões, procurando identificar a origem dos conflitos e ajudar a superarem suas dificuldades.
Colocar-nos no lugar do outro para sentir o que ele sente deve ser o primordial antes de qualquer atitude que tenhamos dúvidas sobre ser certa ou não.
Buscar ajuda e apoio psicológico é fundamental em todo contexto que envolve a possibilidade de resguardar a saúde emocional e psicológica da pessoa idosa, bem como de sua família.