Neta entrevista seus avós sobre suas vivências de isolamento causadas pela pandemia. Para eles, o apoio da família foi muito importante.
Ana Clara Martins (*)
Esta entrevista com meus avós é resultado de um trabalho realizado na eletiva “Velhos nas peças de teatro”, ministrada pela professora Ruth Gelehrter da Costa Lopes no curso de Psicologia da PUC-SP. Com a pandemia, a eletiva precisou fazer adaptações. Assim, na I etapa, de acolhimento, a professora Ruth pediu aos alunos que olhassem para os velhos em torno da gente (pais/avôs/vizinhos), ou seja, para os velhos da família ampliada, e fizessem algumas perguntas que elaboramos em sala de aula.
Segue a entrevista que fiz aos meus avós, O., de 82 anos, e M., 79 anos sobre suas vivências nestes tempos de pandemia.
Vocês acham que o isolamento está colocando mudanças no estilo de vida de vocês?
M: Xi, tá ruim pra danar, como que faz pra falar?
O: De uma forma ou de outra a gente tem que se adaptar, se quiser se proteger, né? Tem que ficar em casa. É o que recomendam pra gente. Então tem que obedecer o que os caras estão falando.
E vocês acham vão levar alguma coisa positiva da quarentena?
O: É, eu espero que mude as coisas para melhor né? Depois (…) Depois que terminar toda essa pandemia a gente aprenda novos costumes né? De usar máscara, de se proteger mais.
Como vocês tem se sentido (Você também vovó) na quarentena?
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- 20/07/2020
M: Ah, tá meio chato mas tem que levar né? Não tem como, mas tá indo bem.
E você vôvis?
O: Eu acho que pra nós a vinda de vocês (eu e minha mãe) pra cá tá ajudando muito. Porque se a gente tivesse sozinho, aí seria muito pior.
M: Aí ficou três pra cuidar da gente.
O: não, e tem a L. que vai comprar tudo né? Têm vocês aqui, numa emergência qualquer, então a gente se sente mais tranquilo. Se não fosse isso, talvez a gente tivesse a expectativa, a expectativa da gente seria pior né?
Vocês estariam mais ansiosos né?
O: Exatamente
Vocês acham que o tempo tem passado diferente? As horas têm passado mais rápido ou mais devagar pra vocês?
M: Mais rápido né? Bem mais rápido.
O: É, pra mim no meu caso, passa muito mais rápido, porque eu sempre arrumo uma coisa pra fazer. A sua avó que nem estava lendo, agora tá lendo também. Tá passando mais o tempo. Então isso é muito bom.
Se vocês pudessem escolher um lugar pra ir agora, pra onde vocês iriam?
O e M: (Risos)
M: No restaurante (risos)
Qual deles? (risos)
M: Aiai, no Rong He (São Paulo) né?
O: É, o Rong He é uma boa né? Mas tem que ficar né? Não pode (…) Não pode sair, vamos ficando. Tem quem abasteça a gente aqui em casa.
E a gente faz umas comilanças diferentes
O: O que é mal é que a gente tá comendo muito né?
M: Ah eu não acho que “tá” comendo demais não.
Porque vóvis?
Ah eu não acho que é demais. (…) talvez o pão seja mais, né? A comida é igual.
Eu vou fazer essa pergunta como ultimato (risos), mas a convivência constante com a gente, né, com a família, tem sido um incômodo ou alívio?
O: Nah, um alívio.
M: Ah família é tudo, né A.? Nessa hora…
O: É…
M: tem titio, tem sobrinha. Tem neta, tem (…) outra filha.
(risos)
M: Filho, filha, neta.
O: Tem até uma gata!
M: é, tem uma gatinha.
Tem uma gata-neta (risos)
M: Ah, a gata tem que pôr também.
O: (risos)
M: O bichinho agrada a gente, né? Muda a gente.
(*) Ana Clara Martins – Aluna do 5º período da graduação do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Trabalho escrito na disciplina “Velhos nas peças de teatro”, ministrada pela profa. Ruth Gelehrter da Costa Lopes. Email: anacmvo@gmail.com
Foto destaque de Maryia Plashchynskaya/Pexels