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Falando aos velhos

Viva Bem a Velhice: Aprendendo a programar a Sua Vida, trata-se de uma obra que destoa e surpreende por seu discurso aos velhos ou aos que envelhecem

Maris Stela da Luz Stelmachuk (*)


Grande parte dos artigos, livros e publicações sobre o envelhecer têm algo em comum: discorrem sobre o velho, enfocando formas de evitamento, tratamento e mesmo prevenção do envelhecimento, como se isso fosse possível. Colocando-se em posição diversa a esse discurso, uma obra destoa e surpreende por seu discurso aos velhos ou aos que envelhecem: Viva Bem a Velhice: Aprendendo a programar a Sua Vida, de B.F. Skinner e Margareth Vaughan, obra de 1985.

Destoa porque vai além do discurso a respeito do processo de envelhecimento, dos velhos, das preocupações concernentes ao fenômeno. Surpreende porque direciona a conversa para uma dimensão não muito contemplada quando se fala de velhice: sua autonomia. Assim, ele fala de velhice não a colegas de pesquisa ou a terapeutas, familiares e cuidadores, mas aos próprios velhos! Skinner fala aos velhos sobre velhice! Apesar das escusas iniciais em que diz não se tratar de conselhos, mas de sugestões, a obra tem tom quase prescritivo em alguns momentos como quando aconselha tratar os filhos como amigos quando necessário morar com eles.

Skinner, de modo direto e objetivo, fala aos velhos sobre como viver sua velhice, suas perdas, seus desconfortos, mas também sobre os ganhos possíveis. Diz ele que encarando e agindo sobre os fatos, resultados aparecem e melhoram as condições de vida e convivência em muitas circunstâncias.

A obra não é recente, mas é atual em importância e surgiu a partir do sucesso de artigo que discorre sobre a maneira pela qual o próprio autor, Skinner, tentava manter-se ativo intelectualmente. Este artigo aborda suas práticas pessoais que, segundo ele, iam desde coisas que aprendeu pelo senso comum, passando por leituras feitas anteriormente até várias aplicações do que havia aprendido através de sua prática em Análise Experimental do Comportamento.

O artigo chamou a atenção das pessoas em geral, da imprensa e dos editores, colocando o autor diante de um fato delicado: aumentou o seu volume de trabalho, justo quando uma de suas recomendações era a de que pessoas idosas – ele estava, na época, com 78 anos – deviam parar e reavaliar seus compromissos. Como já estava escrevendo dois livros, colocou em questão a prudência de iniciar ainda um terceiro livro. Em parceria com a Dra. Margareth Vaughan, gerontóloga, escreveu uma obra abordando a vida diária de pessoas idosas, com foco no que se pode entender como manutenção da autonomia que relaciono com vontade interna de manter criar mais vida, crescer, expandir e superar-se, conforme Harari[1] (2022).

Ao remeter à permanência e expansão da autonomia, tem-se que na velhice, descobre-se uma nova dimensão da vida, recuperando e mantendo seu percurso, pois, conforme Dias (2011), a busca pela potência não é o objetivo da vida, mas a vida em si. Trata-se de inovar com base na vida pregressa e de buscar ir além de si mesmo, superando limites e instaurando nova ordem que aceite, sempre que necessário, mudanças, adaptações e outras superações. Para tal é necessário um sujeito que se impunha a si mesmo em sua relação com o mundo.

Skinner faz comparação da velhice com um país desconhecido, quando diz que um bom momento para se pensar a velhice é na juventude. Sugere que é possível melhorar as chances de aproveitar a estadia num país a ser visitado ao procurar ler sobre seu clima, cultura, condições de vida e costumes, além de conversar com pessoas que já estiveram lá. Este é um dos pontos importantes do livro. Skinner inova quando aponta para uma realidade pré-existente a ser trilhada oportunamente, sugerindo o contato com este tempo de vida a ser vivido e não com a desconhecida, temida e mítica velhice. Ao ter este contato, as imagens assustadoras que os jovens possam ter a respeito da velhice podem, assim, ser melhor entendidas e modificadas.

Planejar a velhice, segundo a obra, possibilita que a mesma possa ser encarada com mais colorido. Em relação a isso diz que um futuro atraente requer atenção e que há planos, para a melhoria dos aspectos físicos da velhice, como cuidados com o corpo e alimentação e planos de aposentadoria, mas que a contribuição que espera trazer com o livro é direcionada a outro tipo de planejamento: o da vida.

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O olhar para o velho e a velhice antes de envelhecer se dá por meio de observá-los nos outros, em leituras, filmes, teatro, TV. Quando ela “chega”, muitas são as formas de encará-la: resignação, depressão, sofrimento, revolta. Skinner sugere outra forma, que é o ataque à velhice como um problema a ser resolvido. Na verdade, a velhice em si não é um problema, mas o que pode ser um é a forma de vivê-la, mas não a idade em si. Uma das sugestões para resolver a velhice vivida como problema proposta pela obra é a de incluir em sua vivência atividades que se goste de fazer, ao invés de lamentar o que não existe mais e o que não é mais possível fazer.

É fundamental que se entenda a obra, considerando-se a época em que foi escrita, levando em conta que, assim como Skinner e Vaughan escreveram aos velhos e não sobre velhos, o fizeram também, muito provavelmente, para pessoas com nível sócio econômico algo privilegiado, em contextos culturais e políticos mais cuidadosos com seus cidadãos.

Leia o artigo completo “Falando aos Velhos: a obra de Skinner e Vaughan – Viva Bem a Velhice: Aprendendo a programar a sua vida” na Revista longeviver, edição 17. A revista Longeviver é um periódico de disseminação de saberes da área da gerontologia social,  online e gratuito, e que recebe continuamente artigos para publicação.

Nota
[1] HARARI, Karen, citando DIAS, Rosa IN Nietzsche, vida como obra de arte. Rio de Janeiro: Ed Civilização Brasileira, 2011, em aula online Fragilidades/Sentido da vida, no Curso Online – Fragilidades: o envelhecimento sob a perspectiva da gerontologia social, no ano de 2022, promovido pelo Portal do Envelhecimento e Longeviver: https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/

Referência
SKINNER, B.F. & VAUGHAN, M.E. Viva Bem a Velhice: Aprendendo a programar a Sua Vida. São Paulo: Summus, 1985.

(*) Maris Stela da Luz Stelmachuk – Psicóloga clínica, docente em Psicologia pela Universidade do Contestado – Campus Porto União, SC, com Especialização em Gerontologia pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC). Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Trabalho de conclusão de curso online intitulado “Fragilidades: o envelhecimento sob a perspectiva da gerontologia social”, ministrado pelo Espaço Longeviver/Portal do Envelhecimento, na modalidade online, no segundo semestre de 2022. E-mail: marissluz@yahoo.com.br.

Foto destaque de Rafael Alexandrino/pexels


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