Para nós, profissionais que idealizamos a exposição, apesar de termos muito a percorrer ainda, percebemos que há interesse do expectador pelo envelhecimento do outro e esperamos que desta forma, possamos despertar o olhar ao nosso próprio envelhecer, para que ele possa se tornar o mais visível possível.
Quando entramos em contato com o envelhecimento, seja o nosso ou daqueles que nos cercam, muitas questões começam a surgir. A grande maioria delas nos preocupam e nos incomodam. Várias teorias explicam esse desconforto ao olhar para a velhice. É a última fase da vida, nos aproxima da morte, mas tem um outro fator que vem incomodando de forma, talvez, silenciosa. Digo isso porque, com as mídias sociais e o aumento exponencial da população idosa, temos observado maior visibilidade sobre o assunto.
Ninguém pode negar que hoje há uma maior preocupação com o envelhecimento populacional do que havia há anos. Apesar de todo movimento a respeito, percebemos que essa população ainda é invisível e sem voz ativa na sociedade. É perceptível no dia a dia. Quem realmente enxerga a velhice não a chama de “melhor idade”, não investe em produtos “antiage”… este sim, negam a velhice. Não a aceitam, tentam resistir como se fosse algo a ser evitado ao máximo. Algo a ser retardado ao máximo.
Baseado nesses sentimentos desconfortantes, nosso pequeno grupo de profissionais de gerontologia, trabalhadores do SUS, resolvemos retratar e dar voz aos “nossos velhos”. Os velhos atendidos em uma Unidade de Referência em Saúde do Idoso e que possuem diversificadas histórias, experiências, anseios e conquistas. Aqui, dizemos Velhos, porque levantamos a bandeira de que a velhice é como todas as fases da vida, que nos trazem alegrias e desafios. Velhos são aqueles que estão nesta fase. Não são desatualizados, não são descartáveis, não são ultrapassados e sem utilidade. São velhos porque vivem na fase da velhice, e esperamos, assim, chegarmos lá.
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A ideia é retratar pessoas. Como elas são. Não suas condições atuais, doenças, limitações ou rugas. Pessoas e suas expressões, suas singularidades e o envelhecimento democrático. Um convite ao expectador a olhar além do que geralmente é mostrado. Ir além do que estamos condicionados a enxergar baseados em nossa cultura limitante e de valorização a tudo o que é jovial. Além de imagens, apresentar ao expectador os dizeres daquelas pessoas fotografadas e que responderam às perguntas: Quem sou eu hoje?
A exposição
Para retratar diferentes velhices, foram expostas dez fotografias de um grupo de idosos (de 65 a 99 anos), todos atendidos na Unidade de Referência em Saúde do Idoso de Cidade Ademar, zona sul de São Paulo. O grupo foi convidado a participar do ensaio fotográfico realizado pelo Fotógrafo Alê Bigliazzi, que clicou os modelos no Parque do Cordeiro – Martin Luther King, também na Zona sul de São Paulo, no segundo semestre de 2018. O fotógrafo, com apoio dos profissionais de gerontologia, buscou deixar os participantes a vontade durante a sequência de fotos captando com sensibilidade as expressões mais marcantes de cada um.
Após o ensaio, as fotos foram tratadas e quase sem retoques, foram impressas em banners, oferecidos pela empresa Agfa Graphics. A partir daí a Exposição que recebeu o nome “ Faces do envelhecimento, olhares sobre o invisível” vem sendo exposta em diferentes locais da cidade de São Paulo. Ao lado de cada foto, um pequeno depoimento de cada idoso, sobre si mesmo e seu momento atual nos ajuda a refletir o envelhecimento, contrastando imagem e palavras do outro que envelhece, assim como todos nós, neste exato momento mas de uma maneira única e singular.
Seguem algumas fotos do Making of da seção de fotos e da exposição que aconteceu na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP), no dia 27 de março de 2019.
Making of realizado no Parque do Cordeiro- 2018
Making of realizado na ALESP
Idosos são entrevistados pela TV Alesp
Em entrevista à TV Alesp, alguns idosos relataram sentir-se satisfeitos com os resultados da exposição, e uma das frases que mostra este contentamento é a da Dona Maria de Lourdes Pivato que disse: “eu sou feliz, quem é feliz mostra seu sorriso”.
Para nós, profissionais que idealizamos a exposição, apesar de termos muito a percorrer ainda, percebemos que há interesse do expectador pelo envelhecimento do outro e esperamos que desta forma, possamos despertar o olhar ao nosso próprio envelhecer, para que ele possa se tornar o mais visível possível.