Experiências sensoriais com café, para além da memória

Experiências sensoriais com café, para além da memória

Conhecer minimamente as pessoas idosas com que trabalhamos, como a experiência com o café, nos possibilita investir em atividades prazerosas e mais efetivas.

Que na simplicidade da vida, assim como um gole de café pela manhã, possamos encontrar as respostas para o nosso verdadeiro propósito, a essência do viver! (Mettran Senna)


Certa vez, apreciando uma boa xícara de café no Centro-dia Angels 4u (SP), muitas memórias vieram à minha cabeça… lembranças doces do café feito pelas avós, tias, pai, mãe, das reuniões para o café da tarde, e das guloseimas que sempre estavam à mesa. Logo, surgiu a ideia de usar o café como tema para uma atividade de estimulação cognitiva, já que a maioria das pessoas idosas atendidas ali, imigrantes japoneses e filhos de imigrantes, trabalharam na lavoura quando jovens.

Certeira de que essa oportunidade seria única em resgatar lembranças e histórias fantásticas, não hesitei. Fiz algumas pesquisas, encontrei alguns livros com imagens da época (com as principais fazendas do interior paulista, dos terreiros de secagem, dos escravos que foram substituídos pelo trabalho dos imigrantes, das famílias), criei o restante do material, e fui com toda coragem do mundo ali… despertar, e também criar novas memórias.

A ideia principal era proporcionar uma viagem no tempo, contar a história do café, das arábias até sua chegada ao Brasil, como era feita a plantação, detalhes da colheita, da torra, com direito a ter em mãos grãos torrados e moídos que eles poderiam tocar, com um perfume maravilhoso que se espalharia pelo ambiente, para aguçar ainda mais a memória, o olfato e o paladar. Para fechar com chave de ouro, todos acompanhariam, ao vivo, o preparo do café e sua degustação com um bolinho delicioso.

Todos atentos, contando e participando da história… presentes… revivendo tantas e todas as lembranças possíveis. De repente alguém diz que trabalhou na lavoura e como era exaustivo; outro que lembra como doía as mãos de tanto colher os grãos no pé… há quem contava com entusiasmo como era feita a torra do café… alguém que menciona que levava água e comida para o pai na roça… há ainda quem recordasse que os pais os colocavam para trabalhar na roça muito cedo, ainda crianças.

Tantas histórias para contar, reviver, algumas com saudade, outras nem tanto, mas que puderam ser revisitadas pelo mínimo de tempo que fosse para cada um.

Então, chega o momento final e mais especial, a do preparo do café frente a todos, cada etapa observada com muita atenção. Subitamente somos invadidos com o aroma único do café, que estimula a vontade de todos a experimentar… inclusive de quem não bebe café, e ali todos beberam, elogiaram, até pediram um ‘leitinho’ para colocar junto (risos). Objetivo da atividade cumprido com êxito!

Diante de tantas possibilidades, de estimulação e recordação que esta atividade trouxe, também revisito a história dos meus próprios antepassados, bisavós, avós, pais, que também tiveram contato com a lavoura e o ciclo do café, e do legado da colheita, da torra na panela de ferro e moagem que também herdamos.

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Café! Uma possibilidade simples que contemplou várias habilidades cognitivas, que também incluiu os profissionais do espaço e aproximou-nos das histórias de cada um… histórias carregadas de significados, de sentimentos, de pertencimento, que ainda vive na memória de muitos.

Conhecer minimamente as pessoas idosas com que trabalhamos, de onde vieram… o que fizeram… quem são… nos possibilita investir em atividades prazerosas, que despertam memórias significativas, em todos nós, para um trabalho efetivo.

Que o aroma do nosso café possa ter chegado até você e te inundado com infinitas possibilidades de resgatar histórias.

Vai um cafezinho aí?

Foto destaque de Claudio Hara


Simone de Cássia Freitas Manzaro

Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e, de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos acima dos 50 anos. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É voluntária na Associação Brasileira de Alzheimer - ABRAz-SP; membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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