A Educação é a única solução, pois é uma prática libertadora. É preciso educar para assegurar a cidadania, o empoderamento, a participação ativa e o protagonismo do idoso. Capacitados, os idosos poderão lutar para que seus direitos sejam firmados.
O Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE) do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP, realiza mensalmente eventos abertos à comunidade, sempre na última quarta-feira do mês, a fim de estudar e debater temas relacionados à complexidade que envolve nosso longeviver. No dia 26 último, estudiosos e pessoas interessadas na velhice puderam participar de mais um, que teve a Defensoria Pública do Estado de São Paulo – onde foi realizado o evento – como parceira e a Profa. Dra. Nádia Dumara Ruiz Silveira falou sobre o Envelhecimento e o Exercício da cidadania.
Assuntos interessantes garantiram uma manhã repleta de aprendizado. A fala da Professora Nádia, mais uma vez, possibilitou a amplitude de horizontes.
A importância de estarmos atentos à complexidade das relações humanas foi enfatizada por ela que expressa o envelhecimento como algo complexo e abrangente. Olhar o idoso dentro da dimensão bio-psico-social é fundamental para ter essa fase da vida vista com respeito.
Nossa sociedade envelhece ao mesmo tempo em que os conceitos sobre velhice parecem estar estagnados em um tempo onde esta população era apenas uma minoria.
A realidade demográfica mostra uma inversão da pirâmide etária e é essencial entender os velhos com toda multiplicidade existente.
Deixar de lado os estigmas que quando transformados em preconceito, apenas colaboram para isolar o idoso, faz-se prioridade.
Velho doente, improdutivo, isolado, caduco, alienado e dependente são apenas alguns estereótipos que revelam a urgência de compreender a velhice.
A profa. Nadia falou da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Constituição e do Estatuto do Idoso como um meio de assegurar o direito à vida, à liberdade, dignidade, respeito à convivência familiar e comunitária para toda e qualquer pessoa idosa.
Tudo escrito para ser válido, mas o que acontece na prática é que vemos idosos perdendo seus direitos de existência social e junto desta perda, esvai-se sua condição de ser livre.
A Educação é a única solução e profa. Nadia cita Paulo Freire ao falar da Educação como prática da liberdade. É preciso educar para assegurar a cidadania, o empoderamento, a participação ativa e o protagonismo do idoso. Capacitados, os idosos poderão lutar para que seus direitos sejam firmados.
Ouvir sua fala me fez pensar na diferença da realidade vivida nas diversas velhices, com a realidade, ainda utópica, sugerida pela Constituição.
Velhos triste, isolados e descartados são produtos de uma sociedade incapaz de compreender a longevidade. Uma sociedade que nem sequer cogita a ideia de que este será o futuro retrato da própria velhice. Algo precisa ser feito a favor de mudanças de olhares. A urgência de ações é eminente.
Ser velho é algo maior e como tudo que é grandioso, emana tempo, dedicação e esforço para ser compreendido. Será que a sociedade consumista e individualista ao extremo conseguirá, um dia, reverter esse quadro? Saberá aprender olhar para o outro? Essa pergunta esteve em meu pensamento e angustiava essa necessidade de acreditar numa real possibilidade. Pensava nos velhos que vivem velhices vulneráveis e que são condenados a um abandono social cruel e martirizante. Isolam-se, não por opção, mas por serem empurrados ao isolamento.
Ouvir a profa. Nadia sempre é estimulante, mas algo acontecia comigo nesta manhã de quarta. Talvez o tempo chuvoso de uma São Paulo que se torna ainda mais cinza nas manhãs molhadas. A Constituição, o Estatuto dos Idosos e todo o trabalho da Defensoria Pública me remetiam as pinceladas perfeitas e expressivas de Vicent Van Goh. O belo estava lá, assegurado pela estética doentia do pintor, mas o que se via, transcendendo as pinceladas, era um velho agonizante e deprimido, isolado em algum canto do hospital de Sant- Remy onde o artista pintou “O Velho Homem Triste”. O quadro, pintado em 1890, mostra um velho segurando a cabeça com as mãos numa tentativa de ancorar toda dor sentida. Pintado no ano da sua morte, a imagem de Van Gogh misturava-se ao meu pensamento com os inúmeros velhos e velhas não aceitos e renegados por um viver que descarta e aposenta as existências.
A imagem do Velho Homem triste me acompanhou durante todo tempo e quando o dia chegou ao fim a sensação havia se transformado. A angústia dos viveres excluídos foi, aos poucos, dando lugar a uma sensação maior: A esperança de mudança, afinal nem tudo está perdido e não pode estar. O direito a liberdade e dignidade é nossa garantia. Desistir da luta é abaixar a cabeça e sustentá-la com a indignação.
Algo precisa ser feito, por mim, por você, pela professora Nádia, pela Gerontologia e também pelo velho triste. Talvez seja a tristeza dele que reverbera em nós e que seja o antídoto preciso para combater a tamanha crueldade. Erguemos a cabeça. As pinceladas são lindas e a, velhice, ampla e moderna, está aí para ser conquistada a cada dia. Velhos e velhas são convidados a irem à luta já que a causa é minha e sua. E somente estando juntos é que seremos fortes para finalmente, levantar a cabeça. Como no retrato de Van Gogh, o velho está presente e poderá sim, um dia, quem sabe, ser ele próprio a obra de arte.