Educação continuada possibilita descoberta de potencialidades

Vários motivos podem levar um idoso a entrar na Universidade Aberta à Maturidade. Vamos ver como e porque algumas dessas pessoas tomaram essa decisão. Que sirva de incentivo para muitos que pensam que não têm mais nada para fazer na vida. Nossas personagens são Betty Jona, Norma Lotti e Rosa Oguri.

Relatos editados por Célia Gennari *

 

educacao-continuada-possibilita-descoberta-de-potencialidadesEm 1991 Betty Jona estava com 56 anos e já aposentada há cinco. Viveu um casamento com a profissão por 36 anos, o que a deixou estressada e nervosa. “Prestes a terminar mais um ano, resolvi ‘chutar o balde’ e dar um grito de independência”, contou.

Sempre, nos seus intocáveis 30 dias de férias, viajava pelo mundo. Na oportunidade, decidiu se conceder férias-prêmio e foi para a Ásia. “Nada como passar um final de ano em Katmandu, no Nepal, num restaurante cheio de turistas do mundo inteiro, no qual, a cada hora, alguém brindava o Ano Novo que iniciava em seu país”, comentou.
Viajou por três meses e quando retornou começou a não se sentir bem. Logo ela, ativa e que, apesar da idade, tinha acabado de participar de um trekking de 10 dias – o circuito dos Anapurna, no Himalaia. Passou a ter febrinha diária, que não lhe dava vontade de fazer absolutamente nada. Esteve em vários “istas” existentes, fez exames e não descobriu nada.
Um dia, numa farmácia, comprando mais um remédio, pegou um jornalzinho no balcão e folheando as páginas leu Curso para a Terceira Idade na PUC, a duas quadras da sua casa. Foi ver e se inscreveu.

O primeiro dia de aula aconteceu em agosto de 1992. O COGEAE ficava no térreo do edifício novo da rua Monte Alegre. Num determinado momento ouviu a pergunta, a mesma que ia fazer: ‘Qual a sala do curso da terceira idade?’. Era a Rosa. “Juntas fomos até a sala, onde encontramos várias senhoras, entre elas a Norma”.

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A febrinha? Sumiu. O remédio? Novas amizades, atualizações, professores de alto nível e a decisão: “daqui não saio, daqui ninguém me tira”.
Norma Lotticasou em 1946 e em 1957, quando as filhas estavam com 10 e 6 anos, estava na hora de voltar ao mercado de trabalho. Após concurso público, passou a ser analista tributária da Receita Federal do Brasil. Ali se passaram os anos, como em todas as histórias de vida, algumas vezes boas, outras nem tanto.

Entre seus hobbies preferidos estavam leitura, cinema e viagens… Férias chegando era sinônimo de sair pelo mundo.
Mas em 1990 chegou a hora que todos os que trabalham acham a glória, a aposentadoria. No entanto, no caso de Norma, após 33 anos de trabalho, ela ficou “sem chão”, perdida, sem saber o que fazer a partir daquele momento. E foi em 1992 que se matriculou no curso para a terceira idade da PUC-SP, onde está até hoje, passados 24 anos.

Hoje, com 89 anos, duas filhas, quatro netos e oito bisnetos é muito grata aos ensinamentos dos competentes professores e às primeiras amigas Rosa, Betty e tantas outras. “Obrigada pela atenção e carinho recebidos por anos”, concluiu emocionada.
Rosa Oguri casou em 1962, teve três filhos (dois falecidos). Renato, casado com Cristiane, deu-lhe um neto maravilhoso, Enrico, que é a continuidade da família e a sua razão de viver!
Em 1992 Rosa resolveu mudar a sua rotina familiar! Com sua vida engrenada, cansada dos cursinhos de artesanato, culinária, palestras, viu num programa de TV da Silvia Poppovic, o Prof. Antonio Jordão Netto, falando da Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI), hoje chamada de Universidade Aberta à Maturidade (UAM). Sem rodeios, ela entrou na UATI da PUC-SP!

Segundo Rosa, foi graças à sua vivência na UATI, que além de aperfeiçoar os seus conhecimentos, ela aumentou sua autoconfiança, sua autoestima, aprendeu a valorizar muitas coisas, principalmente as amizades, que espera continuem por muitos e muitos anos. A 4ª Fase A, da qual faz parte, é como uma família para ela. Quando tem que se ausentar, ela relata que parece que está faltando algo! “Preocupo-me quando alguém falta muito às aulas e procuro solucionar os problemas que surgem. Mais do que tudo, quero que haja entrosamento entre todos!”, contou explicando seu modo de ser.
Foi nessa época também que resolveu aprender a mexer com o “bicho de sete cabeças”, o computador! Aprendeu um pouco de inglês (oficina), ginástica para o corpo com os professores Marco Antonio e Nair Kaminski, cursou aulas de yoga, dança, tai-chi-chuan, poesia… E, começou a escrever para o Jornal ComPUCtador, hoje Maturidades. “Nunca pensei em cantar, ainda mais em público. Pois é, na Universidade Aberta canto no Coral da UAM!”, disse sorrindo.

Rosa teve vários momentos marcantes durante sua permanência na PUC-SP: festa surpresa de aniversário, em 13 de abril de 2002, no Terraço Itália; formatura das 85 formandas(nem todos quiseram participar) com entrega dos certificados no Teatro TUCA, com a presença de familiares; jantar dançante de comemoração de 10 anos da UATI, no Clube Homs; festa de 15 anos, no Clube do Palmeiras; comemoração de 20 anos no Clube Português com 450 pessoas, entre alunos e seus familiares; passeios a vários lugares históricos de São Paulo, museus, exposições, Palácio do Governo, Pico do Jaraguá, Horto Florestal, Comunidades Indígenas, Fazendas de Café; viagens para Barra Bonita, Treze Tílias, Curitiba, Buenos Aires, Itália… E muito, muito mais…

“Passados 24 anos de convivência com amigos, colegas de sala, professores, coordenadores da faculdade e até com funcionários da PUC, me sinto a mulher mais privilegiada do universo!”, afirmou Rosa. “Foi o melhor que me aconteceu!”.
Na vida da Rosa tudo mudou, ao ponto de seu marido reclamar que ela coloca a UAM em primeiro lugar! Motorista e independente nas idas e vindas, às vezes ela se pergunta, se teria feito tudo isso se não tivesse carro? Hoje Rosa está afastada fisicamente, cuidando do marido e dos afazeres do lar, mas continua ativa pelas redes sociais, telefonemas, como deve ser entre amigos.
Após tomar conhecimento das histórias da Betty, Norma e Rosa, três histórias diferentes, de pessoas que vivem em locais tão distantes e que se encontraram na UAM e se “descobriram” com tantas potencialidades além daquelas que já possuíam, concluímos que a permanência na UAM pode ser extremamente favorável para aqueles que “querem um algo mais” da vida e da convivência com outros seres humanos. O melhor a fazer é aproveitar essa oportunidade ou criar novas em outras instituições e continuar sempre aprendendo mais e mais sobre a vida e sobre si mesmo.

* Célia Gennari é jornalista responsável pelo jornal Maturidades da PUC-SP: Disponível Aqui. As fotos são do arquivo pessoal das alunas.

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