É possível viver 100 anos de uma vida produtiva

Lynda Gratton volta a surpreender-nos com mais este livro visionário, em coautoria com o seu colega Andrew Scott. The 100-Year Life é mais do que uma descrição das escolhas que teremos que fazer para isso. É, acima de tudo, uma proposta de ação dirigida a indivíduos, empresas e governos mostrando que é possível viver 100 anos de uma vida produtiva, realizada, feliz e inspiradora.

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e-possivel-viver-100-anos-de-uma-vida_produtivaSe recuarmos dez anos, e excetuando uma pequena minoria de demógrafos e outros investigadores, o envelhecimento global estava ausente das preocupações de quase toda a gente, e certamente das agendas governativas. Hoje, raramente passa um dia sem que seja objeto de notícia ou comentário na comunicação social. O universo das organizações acompanhou esta evolução: de não-assunto há uma década, a demografia é hoje regularmente citada como uma das principais preocupações dos dirigentes empresariais e, em particular, dos responsáveis pela gestão do capital humano.

No entanto, a “literatura de gestão” – desde as obras de referência às opiniões de gestores, consultores e outros interessados publicadas nas redes sociais – tem-se centrado maioritariamente em apenas algumas das consequências específicas do envelhecimento.

Uma delas é o desafio colocado pela gestão de uma força de trabalho multigeracional na qual, em resultado do alongamento das carreiras que acompanha a longevidade crescente, começa a ser preciso fazer conviver de forma produtiva todo o espectro de gerações que vai dos Baby Boomers em retirada à Geração Z que começa agora a entrar na vida ativa. Questões como os valores professados pelos Millennials e os seus drivers motivacionais; a menor dimensão populacional das gerações mais novas em comparação com a das mais velhas, que as primeiras vão substituir; o papel reservado às gerações mais velhas supostamente ultrapassadas em competência e capacidade de trabalho pelos recém-chegados, e outras, inserem-se neste quadro de gestão intergeracional harmoniosa e produtiva.

A providência é outra das grandes preocupações que têm mobilizado a atenção de governos e dirigentes empresariais: como financiar as pensões daqueles que sairam da vida ativa e irão viver até cada vez mais tarde? Ou, em alternativa, até que idade adiar a reforma, para assegurar a sustentabilidade das pensões.

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Estes são sem dúvida dois desafios importantes, mas sofrem ambos da mesma restrição de perspectiva: ambos estão focalizados em fenómenos que afetam as pessoas em períodos precisos das suas vidas – a entrada na vida ativa, a aproximação da reforma, o pós-reforma… Fazia falta uma perspectiva longitudinal, que acompanhasse o indivíduo ao longo da sua vida ativa, e dessa forma ajudasse a visionar o “filme” todo em vez de apenas alguns “instantâneos” separados no tempo.

É esse o grande mérito deste livro: sem pôr de parte alguns desses “instantâneos”, preocupa-se com a totalidade do percurso – antes, durante e após a vida ativa – e com as alterações que teremos de introduzir na forma como conduzimos as nossas vidas no contexto de uma longevidade significativamente maior, de carreiras mais longas e de experiências mais variadas.

Uma destas transformações tem a ver com a alternância entre formação, produção e lazer. Segundo a visão convencional, fomos educados no pressuposto de as nossas vidas se organizariam em três grandes etapas: uma primeira dedicada à formação e à preparação para a vida ativa, uma segunda ao trabalho produtivo, e uma terceira à merecida inatividade que seguiria à anterior. Este modelo está condenado (na verdade, já começou a desmoronar-se): o aumento da longevidade humana e a evolução tecnológica estão a inverter a “ordem natural” até agora prevalecente.

Até há bem pouco tempo, o que era expectável era que sucessivas gerações trabalhassem numa mesma empresa, e que várias empresas se sucedessem no uso de uma tecnologia. Se olharmos por exemplo para o automóvel com motor de combustão interna, ou para os caminhos de ferro, para a siderurgia ou para a refinação de petróleo, foi isso que ocorreu. Hoje, pelo contrário, ao longo de uma vida ativa de 40 anos (e no futuro próximo serão mais), temos toda a probabilidade de trabalhar para umas 3 empresas (hoje, as empresas listadas no S&P 500 duram em média 15 anos) e em cada uma delas, ao longo desses 15 anos, enfrentar duas ou três grandes mudanças tecnológicas (pensemos no PC, na internet e no smartphone). Consequência: em vez de concentrar toda a formação no início da carreira, teremos de aprender ao longo de toda a vida, provavelmente com interrupções ou períodos sabáticos interpolados com diferentes funções ou profissões, e manter esta alternância até muito mais tarde. Pela mesma razão, talvez tenhamos que começar a trabalhar mais cedo, em regime de formação em alternância como já se faz (há muito!) por exemplo na Alemanha.

Esta mudança de paradigma e de mentalidades irá também atingir a gestão das finanças pessoais, das relações afetivas, da saúde pessoal e, sobretudo, das múltiplas transições que seremos chamados a cruzar.

Lynda Gratton, professora da London Business School que já nos tinha brindado com The Shift: The Future of Work is Already Here – uma obra pioneira e essencial sobre a revolução em curso na natureza do trabalho – volta a surpreender-nos com mais este livro visionário, em co-autoria com o seu colega Andrew Scott. The 100-Year Life é mais do que uma descrição das escolhas que teremos que fazer para isso. É, acima de tudo, uma proposta de ação dirigida a indivíduos, empresas e governos mostrando que é possível viver 100 anos de uma vida produtiva, realizada, feliz e inspiradora.

* Texto publicado Aqui

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