Aprendi que as melhores expectativas que posso ter é não as ter. Pretendo viver meus dias agindo conforme minhas crenças: Arte para engrandecer velhices desprezadas.
Desta maneira, com este pedido, encerramos o nosso primeiro encontro do curso OFICINA DE NARRATIVAS* com a professora Cremilda Medina e mesmo sabendo que ela se referia ao que cada aluno espera do curso, minha cabeça teve o aval para alguns devaneios.
Vivi um semestre onde as expectativas de vivenciar meus sonhos mais significativos foram, dia a dia engolidos. Tudo parecia absolutamente pronto e eu iria, finalmente, levar temas relacionados à História da Arte para diversos velhos carentes e institucionalizados que são obrigados a trocar o desejo de viver, pela espera que se arrasta até o morrer. A promessa de também ter o Atelier do Instituto Tomie Ohtake a minha disposição fez meu coração palpitar de alegria. Um museu com olhar tão inclusivo, ao abrir as portas para meu projeto era como me entregar os frutos das minhas tantas sementes cultivadas, com afinco nos últimos dez anos.
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Mas vivemos tempos difíceis em um país que tenta se reerguer a todo custo nem que para isso seja preciso devorar e deglutir a própria cultura.
Retrocedemos num movimento antropofágico às avessas que engole nossas conquistas culturais devolvendo-as ao povo em forma de arroto. Um arroto antropofágico muito diferente do conceito de Oswald de Andrade que falava, em seu manifesto com a primeira publicação em 1928, da deglutição dos estilos e modelos internacionais para a produção de uma Arte com cara e jeito de Brasil.

Brasil? Que Brasil? Como já cantado anteriormente, que país é esse?
Pois bem, voltando as expectativas que, de uma alegre palpitação foram dando lugar à um descompasso cardíaco que me fez procurar um cardiologista, meus sonhos pareciam ter sido devorados, engolidos e tudo por conta das expectativas de ver tantas velhices excluídas serem acolhidas pela própria vida, via Arte. Expectativas em levar ao Instituto Tomie Ohtake velhos carentes que jamais haviam pisado em um museu, afinal nada mais eficaz para as velhices do que dar aos velhos condições de aprender para tomar, por fim, as rédeas de seu longeviver.
Mas Arte? Para quê? Questionam muitos. Defender a cultura para o povo? Coisa da esquerda, dizem outros.
Neste semestre aprendi que a melhor expectativa que posso ter é não tê-las.
Pretendo viver meus dias agindo conforme minhas crenças: Arte para engrandecer velhices desprezadas, cultura para alimentar a dignidade que definha mais rápido que o corpo que enruga, história da arte nas demências, arte para velhos e velhas que não querem ter a morte social imposta.
Morte social? Papo de esquerda! Pra que isso tudo? Deixem os velhos envelhecerem com suas migalhas quietos num canto qualquer da vida! Pensam muitos…
Com o coração palpitando de aflição sigo agindo sem esperar nada.
No mais, escrever talvez seja minha maneira de abrir os olhos daqueles que não conseguem ver os velhos. O velho sujeito, o velho senhor da sua história, o velho desprezado simplesmente por ser velho.
Mas olhos cerrados, não se abrem facilmente.

O contato com Cremilda Medina é um sopro de esperança. Existe vida inteligente na Terra! Ufa! A Arte nos salva da vida besta! Ufa!
Preciso escrever, cada vez mais e melhor para abrir os olhos de tantos cegos sucumbidos pela ignorância.
Sem muito esperar, mas desejando fazer, professora Cremilda, é por isso que estou aqui.
* Curso ministrado no Espaço Longeviver