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Diversidade e velhices LGBTQIA+: conversando com usuários do CRAS

Apesar dos avanços na garantia de direitos das minorias, a representatividade da diversidade ainda é insuficiente, e as populações mais vulneráveis enfrentam desafios únicos em várias fases da vida

Por Silvia Virginia Coutinho Areosa, Diorginis Luis Fontoura da  Rosa, Lívia Pacheco da Cruz e Vitor Emanuel Alves Zambarda (*)


No Brasil, a diversidade cultural, étnica e sexual é uma parte intrínseca de nossa sociedade. Apesar dos avanços na garantia de direitos das minorias, a representatividade ainda é insuficiente, e as populações mais vulneráveis enfrentam desafios únicos em várias fases da vida. Nesse contexto, em maio deste ano, os integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Envelhecimento e Cidadania (GEPEC), vinculado à Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) e com o apoio do Itaú Viver Mais e o Portal do Envelhecimento, iniciaram uma pesquisa intitulada “A velhice da população LGBTQIA+ e as políticas de Direitos Humanos no Brasil”.

Entendendo que o tema necessita uma maior visibilidade que transcende o ambiente acadêmico, o grupo decidiu organizar uma roda de conversa em um dos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) do município de Santa Cruz do Sul/RS. Foram realizados dois encontros, cada um com um grupo de 20 pessoas idosas, realizados em semanas consecutivas, a fim de otimizar a dinâmica das atividades. O objetivo principal era promover a discussão entre as pessoas idosas sobre o tema do envelhecimento das pessoas LGBTQIA+. A seguir, serão relatadas as principais discussões dessa experiência.

Imagine uma conversa sobre diversidade e velhices LGBTQIA+ com dois grupos de pessoas com mais de 60 anos. Elas se encontram cheias de curiosidade e uma vontade genuína de conversar sobre um assunto que as intriga. Todos têm algo em comum: adoram expressar suas opiniões e compartilhar histórias. Só precisam de um espacinho para isso. No início da atividade, há bastante silêncio, ninguém quer arriscar se manifestar. Mas com o passar do tempo, percebem que sabem um pouquinho sobre o tema, com seus próprios conhecimentos.

A maioria concorda que a diversidade sexual sempre existiu, mas costumava ser escondida, devido ao preconceito e à violência que eram bem comuns na juventude deles. No entanto, conheciam alguém que tinha um relacionamento com outra pessoa do mesmo sexo, ou pelo menos já tinham ouvido falar disso. Percebem que os jovens de hoje são mais tolerantes com a diversidade sexual e de gênero, mas ainda ficam um pouco chateados porque algumas pessoas mais velhas resistem às mudanças que o tempo trouxe.

Isso ficou muito perceptível quando iniciaram relatos de integrantes do grupo que têm filhos ou netos que são gays ou lésbicas, e mesmo que digam que continuam amando-os, confessam que, em alguns casos, não entendem completamente por que alguém seria “assim”. Alguns até sentem uma pontinha de culpa, como se tivessem cometido alguns deslizes na criação. No entanto, outros membros do grupo demonstram empatia falando que o amor incondicional é a resposta, e que aceitar os entes queridos como eles são é o caminho para relações familiares mais saudáveis.

A conversa segue, com muitos integrantes dizendo que se sentem bem acolhidos por pessoas LGBTQIA+. Sentem que essas pessoas têm um “jeitão” mais empático, talvez porque, depois de passarem por tanto preconceito, não querem propagar o ódio do qual costumam ser vítimas. Mas quando o assunto vira velhice de pessoas LGBTQIA+, imaginam que é um período da vida que pode ser mais solitário, ainda mais porque a sociedade não costuma ser tão solidária, pois “onde já se viu uma pessoa velha com esses comportamentos?”. Porém, se encontram uma pessoa para compartilhar a vida, ficam mais felizes, porque se livram de certos problemas que casais heterossexuais costumam enfrentar. Referem que a união é mais forte.

Mas a coisa se complica quando o papo chega nos temas de identidade de gênero e pessoas trans. Mesmo que relatem saber de casos de pessoas famosas, e agora veem mais pessoas trans por aí, isso às vezes os deixa confusos. Não entendem muito bem como alguém pode não se sentir bem com o corpo que tem. É aí que a conversa sobre representatividade na TV entra em jogo também. Acham que é importante ter mais pessoas LGBTQIA+ na mídia para “normalizar” a vida dessas pessoas na sociedade. Afinal, se eles já fazem parte do dia a dia, por que não estão presentes nas histórias que eles assistem na TV?

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A segurança também é um assunto que veio à tona. Muitos compartilham a ideia de que pessoas LGBTQIA+ deveriam poder viver suas vidas sem medo, mas a verdade é que precisam se proteger, já que o mundo lá fora ainda é hostil e intolerante, e mesmo que muitos os respeitem, a sociedade em geral ainda está se acostumando a conviver com “essa galera”.

No final, os participantes resumiram as conversas em duas palavras-chave: respeito e amor. Todos têm o direito de amar e viver da maneira que desejam, independentemente da idade. Embora o mundo ainda enfrente momentos de violência e intolerância, é crucial que a sociedade aprenda a conviver de forma inclusiva com as pessoas LGBTQIA+.

Mesmo que tenha sido apenas uma atividade de roda de conversa, o impacto foi significativo: algumas pessoas encontraram esclarecimento, outras, conforto e, talvez, algumas tenham sentido desconforto. Contudo, é certo que as palavras dos próprios participantes ressoarão internamente com cada um, e, ao sair deste grupo, muitos verão as pessoas e o mundo sob uma nova perspectiva.

(*) Silvia Virginia Coutinho Areosa, Diorginis Luis Fontoura da  Rosa, Lívia Pacheco da Cruz e Vitor Emanuel Alves Zambarda – pesquisadores da pesquisa “A velhice da população da LGBTQIA+ e as políticas de direitos humanos no Brasil (Santa Cruz do Sul/RS)”, selecionada pelo Edital Acadêmico 2022, promovido pelo Itaú Viver Mais e Portal do Envelhecimento.

Foto destaque de Marta Branco/pexels


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