Querida pessoa idosa, cuide-se bem para não morrer de queda, carro e caganeira. Caminhe devagar, preste atenção aonde vai, evite acidentes…
Lá na terra de meus antepassados (populações às margens do Rio Piracicaba, afluente do Rio Doce, em Minas Gerais) dizia-se: o que mais mata os velhos é queda, coice e caganeira. Ainda se morre de coice nas áreas rurais, mas como a população rural diminuiu enormemente nos últimos cinquenta anos, a morte por coice vem sendo substituída pelos atropelamentos. Para não perder a sonoridade do dito popular podemos substituí-lo por:
— O que mais mata os velhos é queda, carro e caganeira.
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No dia 24 de junho celebrou-se, mundialmente, o Dia de Prevenção de Quedas. No entanto, é sempre bom lembrarmos dos cuidados importantes para se evitar os tombos. Cair é sempre arriscado em qualquer idade. Para as pessoas idosas o risco ainda é maior em função de suas vulnerabilidades. Com isso, mortes evitáveis acontecem.
Eu mesmo já fui vítima de uma queda com consequências desagradáveis. Há dois anos passeava com meu cão, pequenino, não mais de sete quilogramas, quando o animalzinho atravessou entre minhas pernas, jogando-me ao chão. Caí esparramado e sofri uma feia luxação no ombro esquerdo. Até o atendimento em um hospital de minha cidade foram duas horas de dor inominável. Um mês de recuperação, sendo necessária a interrupção de várias de minhas atividades cotidianas.
Tombos acontecem, lógico, mas podem ser evitados. Além dos animais domésticos, outros vilões são tapetes, pisos molhados e escorregadios, escadas, calçadas irregulares, calçados com sola lisa (chinelos carecas), iluminação deficiente em casa, obstáculos no caminho, ausência de corrimãos, roupas excessivamente compridas, armários com alturas inadequadas, altura elevada da cama e até mesmo violência física. O uso múltiplo de medicamentos sem prescrição médica também são fatores contribuintes, assim como o uso excessivo de álcool e sedentarismo.
Quando era professor de um curso de Engenharia, tive a assistência no laboratório de um aluno brilhante, com o mesmo sobrenome de um ramo de meus antepassados. Um dia descobri que ele era da cidade de minha avó e que éramos parentes: seu pai era primo do meu pai. Mais ainda, seu pai tinha a minha idade e durante as visitas à casa da vó sempre aparecia para brincar comigo. Ficamos amigos de novo. Meu aluno se mudou para outro estado e a comunicação foi diminuindo aos poucos, mas sempre nos comunicamos por e-mail. Ano passado, perguntando por seu pai, tive a triste notícia: tomou um tombo escada abaixo, bateu a cabeça na quina de um degrau, teve morte instantânea.
As quedas são a terceira causa de mortalidade de pessoas acima de sessenta e cinco anos e 70% delas acontece dentro de casa, como no caso do meu primo. Dados do Ministério da Saúde mostram que cerca de 30% das pessoas nesta faixa etária cai ao menos uma vez por ano e do total, cerca de 25% precisa ser hospitalizada. Eu mesmo já tomei outro tombo após o que narrei acima e não foi por causa do cãozinho.
As mortes de pessoas idosas por atropelamento também são muito graves. Por se deslocarem com mais frequência a pé, as pessoas idosas estão mais expostas, e consequentemente, são as maiores vítimas fatais como pedestres, representando 36% do total de atropelamentos registrados no país. O percentual de pessoas idosas no Brasil vem aumentando consideravelmente, mas ainda está longe desse indicador de atropelamentos. Entre os idosos, os ciclistas representam 28% dos óbitos, seguido dos condutores de veículos (16%) e motociclistas (6%), segundo dados do sistema Datasus.
Já a terceira causa citada no título da narrativa nem sempre aparece nas certidões de óbito. A diarreia, popularmente conhecida como caganeira, é um sintoma, não necessariamente a causa da morte. Entre as pessoas idosas aparece por vários fatores geralmente associados a uma má alimentação, ao uso excessivo de antibióticos e laxantes, à desidratação e até mesmo à existência de tumores.
Portanto, querida pessoa idosa, cuide-se bem para não morrer de queda, carro e caganeira. Caminhe devagar, preste bem atenção aonde vai, evite acidentes domésticos, não ande “no mundo da lua”, faça atividades físicas moderadas para se manter forte, alimente-se bem e beba muita água. Melhor fazer xixi mais vezes que encarar uma caganeira.
Foto destaque de I D/pexels.
Atualizado às 17h02