Redação Radis *
Se desde 1990 o brasileiro está vivendo mais, também é verdade que a expectativa de vida saudável cresceu de uma maneira mais lenta no país nas últimas décadas. A constatação é de uma pesquisa conduzida pelo Institute for Health Metrics and Evaluation, da Universidade de Washington, e divulgada na última semana de agosto pela revista científica britânica The Lancet. O estudo revela que, no Brasil, entre 1990 e 2013, a expectativa de vida aumentou 6,1 anos para homens e 5,4 anos para mulheres. Mas quando se observa a expectativa de vida saudável, o ganho é menor: 4,9 anos para homens e 4,4 anos para mulheres.
De acordo com a revista, a expectativa de vida saudável leva em consideração não apenas a mortalidade, mas também o impacto de condições não fatais, e resume os anos vividos com algum tipo de incapacidade e os anos perdidos em razão de morte prematura. Foram analisadas 306 doenças e lesões em 188 países. No Brasil, distúrbios como depressão e ansiedade são as causas mais relevantes para a perda de saúde entre as mulheres. A violência responde como causa número 1 na redução da qualidade de vida entre os homens.
À Agência Brasil (26/8), o professor Jefferson Fernandes, diretor-geral da Escola Superior de Educação e Ciências da Saúde do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e um dos autores do estudo, lembrou que o país passou por uma transição no tipo de doenças no período analisado. Segundo ele, em 1990, o grupo mais importante era formado por doenças infecciosas e, atualmente, reúne doenças crônicas e situações de violência física. Entre as dez principais causas de incapacitação de ambos sexos no Brasil em 2013, o estudo aponta o infarto no miocárdio, dor lombar e no pescoço, agressão e acidente vascular cerebral; lesões de trânsito, depressão, diabetes; ansiedade, doença pulmonar e perda da visão ou audição.
O pesquisador disse ainda que as informações da pesquisa devem servir para apoiar questões de saúde pública, orientando sobre a distribuição de recursos e desenvolvimento de ações estratégicas. “As doenças do coração, por exemplo, podem ser prevenidas. Há fatores de risco, como a pressão alta, que podem ser controlados”, reforçou.
Vale ressaltar que a discrepância entre a expectativa de vida total e a de vida saudável não se deu apenas no Brasil. Trata-se de um fenômeno observado em todo o mundo, como atestam os resultados da pesquisa. Segundo o estudo, a expectativa de vida global, para ambos os sexos, aumentou 6,2 anos (indo de 65,3 anos em 1990 para 71,5 anos em 2013), enquanto a de vida saudável cresceu 5,4 anos (de 56,9 para 62,3).
O jornal O Globo (26/8) ressaltou alguns dados animadores da pesquisa sobre a saúde no Brasil, informando que melhorias na saúde pública, no acompanhamento médico de gestantes e crianças e no saneamento básico, por exemplo, tiraram as complicações decorrentes de partos prematuros, as doenças diarreicas, as anomalias congênitas e as encefalopatias neonatais da lista de principais fatores de incapacitação para ambos os sexos. Em 1990, essas doenças ocupavam, respectivamente, a primeira, a terceira, a nona e a décima posições.
* Edição 157, disponível Aqui