“Uma mulher é como uma árvore gigantesca que, por sua capacidade de se mover ao invés de permanecer estática, pode sobreviver às piores tempestades e perigos; e depois estar de pé e ainda descobrir seu jeito de voltar a balançar, de ainda continuar a dança”* (Clarissa Pinkola Estés).
Mauisa Annunziata * Foto: Rita Amaral
Eu nos imagino assim. Cada uma como uma árvore forte, aqui, aos pés da Mantiqueira. Juntas, formamos uma floresta pertinho dessas montanhas.
Algumas são tão fortes que atuam como marcos no caminho e dizemos: “quando passar por lá, não deixe de ver a árvore do canto, a mais frondosa e sinta seu perfume…”; ou então, “você pode descansar perto daquela grande árvore de flores vermelhas…” Algumas árvores marcam um lugar, mesmo.
Mas ao contrário do que diz Clarissa, não podemos sobreviver a todas as tempestades. Recentemente num dia de chuva e vento muito fortes uma quaresmeira partiu-se ao meio no meu jardim. Essa é a realidade, não sobrevivemos a todos os perigos. Às vezes cai uma árvore.
Recentemente uma de nós não resistiu a uma doença. Foi assim que senti: morreu uma de nós. A Maly Caran (foto). Uma de nossas árvores. Jovem ainda, abriu espaço para que outras menores pudessem ganhar o sol, e se desenvolver com mais vigor.
Um tempo depois, conversei com sua filha e a reconheci árvore jovem, parecida com a mãe. Um fruto forte, que de seu jeito, continua a dança.
Maly plantou muitas sementes, viu-as crescerem ervas e plantas, estudou, utilizou-as, ensinou sobre elas. Multiplicou-as em mais sementes e perfumes; multiplicou a beleza e a generosidade da cura neste lugar. Era árvore bem copada, dava sombra, filtrava a luz. Aos poucos pode acolher perto de si toda a família, os filhos, a mãe, a irmã. Além das pessoas, às vezes era procurada para tratar de um animal doente: um gatinho, um cachorro, uma vaca.
Multiplicou-se em frutos: os filhos, os amigos, os produtos que criava, a loja adorável (foto), pequeno cartão postal de São Francisco Xavier. Como flor exalou vida, entusiasmo e mais perfume. Como este que agora sentimos. Cheiro de Maly pra levarmos em nós e em nossa lembrança.
Maly foi uma árvore da Mantiqueira. E percorreu inteiro o ciclo de vida das árvores: cresceu, deu flores, deu frutos, deu sementes variadas. Espalhou suas ervas por muitos lugares no Brasil e deu espaço para árvores mais jovens. Um ciclo de vida bonito, muito bem percorrido. Como o ciclo de vida que corre em nós. Cada uma de nós.
A vida é dança. Em ciclos.
*A citação foi extraída do folder-convite para as festividades do Dia da Mulher em 2012 (Grupo de Mulheres de São Francisco Xavier, SJC, SP). O texto foi apresentado ao Grupo em 08 de março de 2013, como homenagem a Maly Caran, falecida em dezembro último. Maly fundou uma loja de cosméticos, temperos e medicamentos à base de ervas, criados, produzidos e divulgados por ela em todo Brasil.
* Mauisa Annunziata é pedagoga, especializada em Criatividade, com formação em Fenomenologia na Coordenação de Grupos. Poeta e cronista. E-mail: [email protected]