Cuidadores Familiares: Heróis desconhecidos de um sistema de saúde desfavorável

Com o aumento da expectativa de vida ocorreram mudanças nas dinâmicas familiares que sem dúvida estão despreparadas para enfrentar sozinhas os inúmeros cuidados que os seus idosos longevos necessitam.

Eliana Novaes Procopio de Araujo *

 

Nos Estados Unidos os cuidadores familiares sentem-se prisioneiros da velhice! Essa questão apresenta-se num âmbito mundial e cria uma situação de difícil solução visto que os sistemas de saúde não estão planejados para esse aumento significativo de uma população longeva que requer cuidados especializados que são geralmente onerosos e contínuos por muitos anos.

As famílias americanas inicialmente tentam cuidar sob o mesmo teto quando é possível ou delegar aos serviços domiciliares. A rotina diária americana é contínua, especialmente para as mulheres que trabalham fora, tem filhos e cuidam da casa. Infelizmente lá não existe mão de obra doméstica similar aos países em desenvolvimento, como no Brasil, para auxiliar nos afazeres domésticos. Os estudos mostram que o excesso de trabalho instrumental que um idoso requer torna-se insuportável e sem fim.

Em função desse fenômeno as soluções possíveis dentro da realidade americana são os residenciais com sistema de “assisted living”, com serviços multiprofissionais que atendam as necessidades de seus residentes. Atualmente essas instituições estão quase que 90% com idosos dependentes, que de acordo com os dados atuais representam no continente americano um total de 78 milhões. Esses números espantosos refletem um aumento de 2,3% dessa população fragilizada ao passo que o contingente de cuidadores americanos corresponde a (+ 0,8%), sem possibilidades de aumentar na velocidade que a população idosa cresce. Surge então a grande questão: “Quem vai cuidar dos cuidadores quando esses ficarem idosos?”. Como e de que forma os sistemas de saúde podem se reorganizar para atender essa crescente demanda da população que envelhece?

Nos Estados Unidos, Krista O´ Connor de Eldercare Partnes criou um programa de orientação e apoio aos cuidadores familiares. O objetivo do programa é fornecer informações e procedimentos atualizados aos cuidadores. Também o programa desenvolve um aconselhamento emocional onde se trabalha as dúvidas e angústias desse cotidiano existencial. A questão é: “Se os cuidadores adoecerem, quem vai cuidar desses idosos?” Segundo Rhonda Montgomery, expert no sistema de saúde americano, é essencial desenvolver vários programas que dêem retaguarda a esses familiares que cuidam durante anos de seus idosos longevos.

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A França também convive com o mesmo problema. De acordo com os dados estatísticos, em 2050 a população francesa com mais de 75 anos será de 15%. Esses dados refletem que serão 10 milhões de idosos com necessidades especiais e um número decrescente de pessoas adultas responsáveis. Atualmente a França apresenta um total de 6 milhões de idosos com mais de 75 anos que requerem de vários serviços especializados.

Segundo o relato de Maggie Jensen, ela não costumava ter uma convivência muito próxima com sua mãe Maurine, de 91 anos. Atualmente a sra Maurine está com Alzheimer em estágio moderado. Maggie nunca pensou em se tornar cuidadora quase que permanente de sua mãe. Faz quatro anos que sua vida mudou totalmente. “Alguns amigos me aconselham a colocar minha mãe em uma instituição”. Infelizmente essa resolução me angustia e não consigo decidir porque “Ela ainda é minha mãe, aquela que cuidou de mim quando eu era pequena e dependente”.

Maggie tenta se organizar para tentar uma qualidade de vida para sua mãe e muitas vezes esquece-se de si mesmo. Na verdade é um dilema existencial que aflige muitas famílias que convivem com situações similares. A preocupação apenas com o idoso é insatisfatória. Devemos nos ater também com a saúde física, emocional e social do familiar cuidador. Infelizmente, os programas de saúde franceses ainda não estão fornecendo um programa para dar um suporte afetivo e educativo aos familiares.

E o Brasil?

Atualmente, o Brasil que envelhece está despreparado para atender a população idosa que está vivendo mais anos. As famílias brasileiras enfrentam grandes dificuldades econômicas e instrumentais para cuidar com dignidade e respeito seus idosos. Os programas de saúde pública são insuficientes para atender essa demanda populacional que requer serviços especializados. As famílias sentem-se isoladas, pois as instituições particulares que cuidam com um nível de atendimento multiprofissional são onerosas e incompatíveis com o poder aquisitivo da grande maioria da população.

Em função dessa realidade brasileira sugere-se que se desenvolvam através dos órgãos públicos e privados, serviços de apoio aos familiares. Esses serviços psicogerontológicos objetivam a prevenção ao desgaste e estresse dos cuidadores. As intervenções psicogerontológicas poderiam ocorrer em grupos ou individual. Objetivam desenvolver novas formas no cuidar, na organização do tempo do familiar responsável e aconselhamento emocional. Seriam serviços que promoveriam uma qualidade de vida a esses cuidadores familiares que são verdadeiros heróis dentro de um sistema de saúde que não está ainda suficientemente preparado para atender nossos idosos longevos.

*Eliana Novaes Procopio de Araujo é psicóloga e mestranda em Gerontologia pela PUC-SP. E-mail: [email protected]. Algumas informações foram extraídas do Seniorscopie.com – La lettre d´informations profissionelles de notre temps (www.seniorscopie.com).

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