Cuidadores de idosos avançam rumo à profissionalização da atividade

O primeiro Seminário Cuidar é Viver, voltado para a discussão sobre o papel do cuidador de idosos em nossa sociedade atual, promovido pelo Observatório da Longevidade Humana e Envelhecimento (OLHE), atraiu mais de 200 pessoas na Universidade Paulista (UNIP) na manhã do dia 5 de novembro, sábado, em São Paulo.

 

 

cuidadores-de-idosos-avancam-rumo-a-profissionalizacao-da-atividadeMuitas pessoas que trabalham na área estiveram presentes ao encontro para lutar pelos direitos de ver sua ocupação ganhar status de profissão. Também foi discutida a importância da adequada capacitação do trabalhador, um olhar que tem de estar sempre voltado para o outro (que é cuidado) quanto para si ( o cuidador).

A UNIP gentilmente cedeu um dos seus auditórios em sua unidade Vergueiro para a realização do seminário. A atitude do professor Jesuino Irineu Argentino Junior, diretor de pós-graduação lato sensu da UNIP, e da professora Irene Gaeta, coordenadora do curso de pós-graduação em Gerontologia da UNIP, proporcionando o espaço, foi fundamental para que o encontro pudesse se concretizar.

O Seminário Cuidar é Viver contou ainda com apoio da Juxx, empresa de sucos funcionais, e parceria da Support/Danone. Ao lado do OLHE, a Support é parceira nos cursos de capacitação de cuidadores.

cuidadores-de-idosos-avancam-rumo-a-profissionalizacao-da-atividadeAlessandra de Oliveira Arraiz, gerente de produto da Support, disse na abertura do evento que a empresa tem muito orgulho de ser parceira do OLHE num projeto como este, o Cuidar é Viver. “É o primeiro seminário de muitos outros que virão, com certeza”, afirmou.

Pilar Fourcade, representante da Danone Ecosystem Fund, também marcou sua presença no seminário e ressaltou a importância da profissão de cuidador no cenário atual. “Temos grande prazer em acompanhar o desenvolvimento deste trabalho aqui no Brasil”, afirmou Pilar. Ela enfatizou os aspectos emocionais e sociais da função. “O envelhecimento é um grande desafio e a capacitação oferecida pela parceria da Support com o OLHE cumpre o papel de atender a essa demanda social.”

A presidente do OLHE, Ingrid Mazeto, agradeceu a todos a presença e o apoio da UNIP. Também ressaltou a parceria com a Support e lembrou a plateia o quanto de complexo e de humano envolve a questão do cuidar.

Para convidar todos a refletir – e a relaxar um pouco também – sobre o significado das relações pessoais e da importância de escutar o outro e a si mesmo, o ator Nereu Afonso, palhaço do grupo Doutores da Alegria, fez uma intervenção com o público.

A seguir, o seminário deu início a sua primeira mesa temática – Envelhecimento e Cuidador de Idosos –, coordenada pelo médico Sergio Paschoal, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo e também membro do Departamento de Geriatria do Hospital das Clínicas.

Participaram desta discussão a assistente social e gerontóloga Zally Queiroz, conselheira do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, pesquisadora pioneira nas questões do envelhecimento, com o tema “O compromisso de todos por um envelhecimento digno no Brasil”; Tomiko Born, assistente social e outra estudiosa há muitos anos da gerontologia, trouxe a fala “Quem vai cuidar de mim quando ficar velha?”; e a psicóloga da UFRJ Ligia Py, membro da Comissão Permanente de Cuidados Paliativos da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, que abordou “Cuidados para quem precisa de Cuidados”.

Zally representou Karla Giacomin, do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso. Em sua fala, fez questão de diferenciar o assistencialismo das políticas públicas ao idoso da proteção necessária, capaz de garantir seus direitos como cidadão. “Ser digno é ser merecedor, ser respeitado. É preciso perder a timidez em tratar da velhice como pleno momento de cidadania”, observou.

O idoso, para Zally, tem o direito de ser protagonista de sua história, e não apenas espectador. “Se há pessoas que não envelhecem bem em nossa sociedade – e são muitas – é porque lhes faltam oportunidades – e em muitas fases da vida.”

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Tomiko Born discorreu sobre o sentido humano do cuidado, com várias referências históricas importantes. Para ela, no entanto, o idoso é ser desejante, não deve ser apenas objeto de cuidado. “E o cuidador também precisa se cuidar, ter tempo para si.”

Para refletir, deixou claro à plateia que a dependência é condição primordial do ser humano. E receber cuidados não nos coloca num plano de inferioridade. “Receber cuidados é compartilhar a vida humana”, finalizou.

Ligia Py focou no cuidador, utilizando-se da expressão “cuidador ferido”. Segundo ela, o cuidador precisa cuidar também de suas dores. “Precisamos nos reconciliar com nossas feridas para lidar com as feridas dos outros”, disse. Enfatizou a importância de o cuidador ser tolerante com ele mesmo, assumir suas dificuldades, seus problemas. “Tendemos a negá-los, isso não traz possibilidade de crescimento”, observou.

A segunda mesa redonda foi coordenada pela geriatra Paola Renata Brandão Canineu Bizar, da Universidade São Camilo. Yeda Duarte, da Escola de Enfermagem da USP, falou sobre como deve ser a formação de cuidadores. “O cuidador deve se colocar no lugar do outro, precisa estar preparado para situações imprevistas”, ressaltou.

Ela trouxe à tona a discussão sobre a importância de capacitar adequadamente esse profissional, cada vez mais requisitado pelo mercado de trabalho e pela sociedade em geral e apontou algumas falhas observadas em cursos existentes.

cuidadores-de-idosos-avancam-rumo-a-profissionalizacao-da-atividadeNa mesa seguinte, Marília Berzins, assistente social, membro do OLHE e ligada ao trabalho da Saúde do Idoso, da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, apresentou dados sobre os projetos de lei que tramitam para profissionalizar a ocupação de cuidador. A mesa contou com mediação de Simone Garcia, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.

Foram discutidos os projetos de lei do senador Waldemir Moka e do deputado Laércio Oliveira, com posterior debate.

Na última apresentação, que contou com a coordenação de Helena Akemi Wada Watanabe, da Faculdade de Saúde Pública da USP, Victor Derviche, do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, trouxe um pouco da legislação atual que trata da questão do cuidador. Também participou desta discussão o presidente da Associação dos Cuidadores de Idosos de MG, Jorge Roberto Afonso Souza Silva. Juntamente com Marília, ele falou sobre como organizar uma associação para zelar pelos direitos dos cuidadores de idosos.

A manhã de trabalho se encerrou de forma bem produtiva, segundo a presidente do OLHE, Ingrid Mazeto. “O evento atingiu seu objetivo. Com este seminário, nossa intenção foi também a de estimular a formação de uma associação de idosos em São Paulo. Hoje, 44 cuidadores preencheram o termo para participar de uma reunião visando formar essa associação”, explicou Ingrid.

Diversas outras pessoas levaram o documento para preencher em casa e entregar depois. Ainda, se comprometeram a contribuir para organizar a associação 33 técnicos presentes.

“Nosso maior propósito foi cumprido, pois o movimento para a criação de uma associação foi dado. Agora temos de trabalhar para sua efetivação”, disse Ingrid.

Participaram do seminário, além de cuidadores formais e informais, profissionais e estudantes de gerontologia e áreas afins, coordenadores e formadores de cursos de cuidador de idosos; conselheiros de conselhos de idosos, técnicos da área e interessados pessoalmente no assunto.

Cuidadoras de idosos da Associação Saúde da Família, ligada ao município de São Paulo, elogiaram a iniciativa. “Estou aqui porque preciso buscar conhecimento a respeito da área. Sinto que é uma profissão de futuro”, disse Marilene Maciel. Juntamente com Fernanda da Conceição Morais, Gersonita Bargalho, Ana Maria de Carvalho, Neide Leonel Dutra e Janete Aparecida Trindade, ela trabalha no PAI Cidade Ademar (Programa de Acompanhante de Idosos). “Gosto muito do que faço, mas temos diariamente diversos desafios. Precisamos estar preparadas para enfrentá-los”, ressaltou Gersonita.

Alguns deles, segundo elas, são a resistência da família em aceitar a patologia do idoso e a dificuldade em fazer com que o idoso participe de atividades propostas. Marilene avalia o PAI como muito importante. “Estamos ali para promover qualidade de vida a essa população. Há uma grande procura pelos nossos serviços, há fila de espera para o atendimento”. Segundo ela e suas colegas, é preciso ampliar a extensão do atendimento e investir mais na capacitação de profissionais qualificados.

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