Cresce a população nos asilos

Embora tenha aumentado o poder de compra de aposentados que mudam para a cidade em busca das praias, cresce também o número de idosos sem família em Santos, vivendo em entidades assistenciais que lutam com dificuldades para se manterem operando.

Manuel Alves Fernandes

 

Na outra ponta desse mercado também crescem os negócios lucrativos de casas assistenciais. Elas prestam serviços de alta qualidade para famílias que não têm condições de manter os idosos em casa, e podem pagar para que lhes seja proporcionado todo o conforto em lares ajardinados.

Levantamentos do Seade indicam que, como cidade balneária de vida tranquila e bom atendimento de saúde, Santos apresenta um índice de envelhecimento (proporção de pessoas de 60 anos ou mais por 100 indivíduos de zero a 14 anos) de 16,68%, muito superior ao do Estado de São Paulo, que é de 9,80%.

Poucos recursos

Para se ter uma idéia, esse índice (16,78%) é pouco inferior ao de moradores de Santos com menos de 15 anos, o que correspondia a 18,27, em 2006, e equivalia a 77.813 moradores.

Tesoureiro da Sociedade São Vicente de Paulo, uma das mais tradicionais entidades de assistência aos idosos solitários, o aposentado Carlos Ribeiro Leal explica que são necessários cerca de R$ 750,00 por mês para manter o atendimento a um internado.

A maioria dos assistidos no Brasil é composta por mulheres viúvas, divorciadas ou solteiras, exceção feita à região Norte, onde 70% dos idosos vivendo em asilos são homens.

A tendência, com o aumento da expectativa de vida da população brasileira é que esse número cresça. De acordo com o IBGE, em 1980 só 3% da população nacional tinham mais de 60 anos. Hoje, são 10%, o equivalente a 17 milhões de pessoas. A projeção é que esse número dobre nos próximos 15 anos.

Levantamentos do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo indicam que há instituições em número insuficiente no Estado para atender a essa população.

Muitas das que se dedicam à atividade — o que indica lucratividade — são clandestinas, a despeito do rigor com que o Estatuto do Idoso pune essas irregularidades. Na Capital, mais de 70% dos asilos não têm autorização para funcionar.

S.VICENTE DE PAULO

Há entidades que ganharam o respeito da comunidade, mas que vivem no limite da receita e despesa, em crônicas dificuldades. Uma das casas que atende a idosos carentes acima de 65 anos e sem família, é a Sociedade São Vicente de Paulo, na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 311, Macuco. Tem 114 anos.

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Mantida pelo quadro associativo através de doações e da parca ajuda de alguns internos — que contribuem com a aposentadoria — tem apoio da Prefeitura (médico que atende em dias de semana) e subvenção do Governo Federal: R$ 13 mil anuais.

A sociedade devolve 30% da aposentadoria aos idosos, sendo 15% em dinheiro, para despesas pessoais, e o restante em remédios.

Com uma folha de pagamento estimada em R$ 40 mil, a entidade se vale de tradicionais rifas de automóveis em dezembro, época de pagar o 13º, para poder manter em dia os direitos dos 35 funcionários.

Ex-almoxarife de ferramentas da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, Carlos Ribeiro Leal — casado, dois filhos, dois netos e uma bisneta — é tesoureiro da diretoria presidida por Marizilda do Nascimento.

Ontem ele estava de plantão pelo prazer de atender aos assistidos, pois os cargos de diretoria não são remunerados.

Bem organizado e conservado, apesar de se situar num imóvel com mais de 100 anos (a sociedade foi criada em Paris, em 1833), o asilo tem exemplos de longevidade entre seus 54 assistidos (metade mulheres). Um deles, Vitor da Costa, tem 15 anos de internação e 95 de idade. Há poucas semanas, faleceu uma internada prestes a completar 103 anos: Maria da Glória Felipe.

O valor da contribuição no São Vicente de Paulo é módico se comparado ao de asilos privados, que estão na outra ponta desses serviços. Há asilos que só aceitam idosos mediante o pagamento de três salários mínimos em média, ou com aposentadoria que garanta esse valor mensal.

Personagem: Raimundo Corrêa, 74 anos

O marajoara Raimundo Corrêa, nascido em Ponte de Pedra, Pará, a poucos quilômetros do encontro do Rio Amazonas com o mar, nunca viu ou ouviu a pororoca. Mas viveu pouco tempo na Ilha de Marajó. Em busca de saídas para a pobreza, soube de uma cidade que estava sendo construída no Planalto Central.

Foi ser candango em Brasília, atuando como ajudante de pedreiro. Cansou de ver o então presidente Juscelino Kubitschek andando no meio das obras. Ao longo da vida, não juntou dinheiro, não casou nem ganhou filhos.

Ainda no Planalto Central, ouviu falar de Pelé e de Santos.‘‘Larguei tudo outra vez, vim conhecer o mar do sul’’.

Aos 74 anos, aparentando boa saúde, mas com o olhar perdido no vazio que caracteriza os solitários, vive no São Vicente de Paulo, onde voluntariamente é porteiro. Por isso, ganha um ‘‘pró labore’’. E, de vez em quando, sai para passear, com autorização e vigilância (situação comum a todos os idosos, para a preservação da integridade recomendada pelo Estatuto do Idoso). Ou passa o final de semana na casa de alguma família amiga.

Nega a solidão. ‘‘Aqui é bom. Tenho amigos, vejo TV, jogo dominó’’.

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Fonte: Jornal A Tribuna Online, 8/10/2007. Disponível Aqui

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