Construindo uma cidade inteligente para o idoso: pessoas no centro, tecnologia como meio

Construindo uma cidade inteligente para o idoso: pessoas no centro, tecnologia como meio

O conceito de cidade inteligente exige atuar em três dimensões simultâneas: infraestrutura digital, inclusão social e governança participativa.


Antonio Brito (*)

O debate sobre cidades inteligentes ganhou força nos últimos anos nos centros urbanos brasileiros, mas o conceito ainda é frequentemente associado apenas à adoção de tecnologias digitais.

Na prática, uma cidade inteligente vai muito além disso: nasce do compromisso com ambientes acessíveis, mobilidade segura, serviços públicos de qualidade e inclusão real colocando as pessoas, especialmente os idosos, no centro das decisões.

O desafio das próximas décadas será garantir que inovação tecnológica caminhe lado a lado com inclusão social, sustentabilidade e bem-estar coletivo, reconhecendo que o envelhecimento populacional é uma realidade central para o futuro das cidades.

Em meio à euforia por inovação, o risco é que as pessoas – sobretudo aquelas historicamente excluídas, como a população idosa – sejam esquecidas no planejamento urbano. Não basta digitalizar serviços se parte da população não consegue acessá-los, nem falar em mobilidade conectada quando a infraestrutura urbana permanece inadequada para diferentes corpos, idades e capacidades.

O ponto de partida deve ser sempre o cotidiano de quem vive, cuida e caminha pela cidade: soluções eficazes surgem quando o planejamento urbano é orientado pelas experiências e necessidades concretas dos moradores, não apenas por algoritmos ou dados impessoais.

Construir uma cidade inteligente exige infraestruturas interconectadas e sensíveis à diversidade da população. Isso significa investir em acessibilidade nas ruas, transporte público adaptado, plataformas digitais compreensíveis para todas as idades e redes de apoio comunitário.

A digitalização dos serviços públicos precisa ser acompanhada de alfabetização digital e canais de engajamento direto, garantindo que ninguém fique para trás.

O efeito é coletivo

Uma cidade que se adapta às pessoas idosas torna-se mais eficiente e acolhedora para todas as idades, promovendo o envelhecimento ativo e digno. Falar em cidades inteligentes para o futuro é, na verdade, falar de cidades mais humanas no presente.

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Essa visão se conecta ao conceito de Sociedade 5.0, que propõe o uso da tecnologia a favor do bem-estar, da sustentabilidade e da inclusão. Gestores urbanos que desejam aplicar o conceito de cidade inteligente de forma completa precisam atuar em três dimensões simultâneas: infraestrutura digital, inclusão social e governança participativa.

Projetos de iluminação pública, mobilidade urbana ou saúde conectada devem ser integrados em plataformas que cruzem dados, atendam a múltiplos públicos e possibilitem decisões mais justas. Experiências internacionais, como as de Amsterdã, Seul e Medellín, mostram que técnica e participação social não são caminhos opostos, mas complementares.

Nesse cenário, inovar socialmente é tão fundamental quanto inovar tecnicamente. Temas como inclusão, mobilidade, sustentabilidade e impacto social devem ser incorporados desde o início dos projetos urbanos, com diretrizes permanentes que assegurem que essas soluções sejam parte da espinha dorsal do planejamento, e não apenas etapas paralelas ou opcionais.

A construção de cidades inteligentes demanda articulação entre tecnologias da informação, capital humano, envolvimento direto da sociedade e sustentabilidade urbana. Sem isso, há o risco de criar cidades modernas apenas na aparência, mas que perpetuam antigas desigualdades sob uma nova estética digital.

O verdadeiro desafio está em transformar dados em engajamento, engajamento em decisão e decisão em transformação concreta. Só assim será possível construir cidades inteligentes de fato: cidades humanas, inclusivas e preparadas para todas as gerações, com especial atenção à qualidade de vida e à dignidade no envelhecimento.

Referências
BARON, G. Do We Need Smart Cities for Resilience? 2012.
BRASIL. Escola Nacional de Administração Pública – ENAP. Cidades Inteligentes: conceitos e aplicações. Brasília: ENAP, 2021.
RAMPAZZO, R. F. P. Cidades Inteligentes e Humanas: Estudo da Cidade de Vitória – ES. 2020. Dissertação (Mestrado em Gestão Pública) – Universidade Vila Velha, Vila Velha, 2020.
MORA, L.; BOLICI, R. How to Become a Smart City: Learning from Amsterdam. In: Green Energy and Technology. Springer, 2017.

(*) Antonio Brito, 36 anos, Gestor Técnico com mais de 8 anos de experiência em inovação, tecnologia e transformação digital. Mestre em Ciências da Computação pela UFF-RJ. Atua liderando projetos em ecossistemas de inovação, tanto no setor público quanto no privado. Tem experiência em metodologias ágeis, Design Thinking, inteligência artificial aplicada a processos e inclusão digital. Atualmente, é Especialista de Inovação na Firjan-RJ, onde coordena iniciativas de inovação aberta, transformação digital e desenvolvimento de soluções para startups e empresas. E-mail: acdbj23@gmail.com.

Foto de Gije Cho/pexels.


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