“Não há um dia em que a palavra ‘depressão’ deixe de ser veiculada por um meio de comunicação brasileiro”, garante Ericson Saint Clair. Parece exagero, mas o trabalho do comunicólogo comprovou a inquietação que o motivou: “todos os dias há jornalistas que insinuam que seus leitores podem estar deprimidos.”
Déborah Araujo – Ciência Hoje On-line
Ericson Saint Clair acompanhou quatro décadas (1970-2010) e textos do jornal Folha de São Paulo e da revista Veja em que a palavra ‘depressão’ com sentido psíquico (médico ou não) foi mencionada, independentemente das editorias em que se deram essas menções.
“São dois veículos que geram grande impacto no cenário cultural brasileiro há décadas”, afirma o pesquisador, justificando a escolha das publicações. “Além disso, tem a facilidade metodológica: a Veja e a Folha disponibilizam os arquivos digitalizados de suas edições antigas em seus sites.”
Mais do que inquietação, uma antipatia à superexposição do tema na mídia e sobretudo ao viés cientificista e prescritivo que a acompanhava levou o pesquisador à seguinte questão: “como a depressão tornou-se objeto de atenção midiática?”, a qual buscou responder em seu doutorado na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com base na análise de uma amostra expressiva da imprensa brasileira, Saint Clair não só observou nesse meio um vertiginoso aumento das referências à depressão nas últimas décadas, como também uma ruptura radical de sentido que a palavra sofreu nos anos 1990.
De um mal coletivo, reflexo das agruras sociais, políticas e econômicas do Brasil, especialmente durante a ditadura militar, a depressão passaria a ser compreendida a partir desse período como um mal privado, explicado objetivamente pela ciência e afastada do contexto sociocultural do país.
O comunicólogo atribui essa cisão a uma série de fatores, entre eles o desenvolvimento de novas formas de diagnóstico e tratamento da depressão e a significativa relevância conquistada pelo tema da saúde, tida, especialmente a partir da década de 1990, como uma responsabilidade individual.
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