Revisito períodos do parque que, como a vida, tem um passado memorável e passível de considerações. Nesse ir e vir, refleti sobre o conceito de confinamento no tempo da tuberculose e do Covid-19.
Sempre Viva (*)
Com o portão fechado, o que avisto do parque é o que vi ontem e verei amanhã e por um bom tempo, ainda que com as sutilezas de cada dia que, com atenção, nos mostra tons únicos do cotidiano que segue seu curso inexoravelmente. Nesse contexto, revisito períodos do parque que, como a vida, tem um passado memorável e passível de considerações que merecem ser pontuadas e associadas ao calendário que sinaliza para o dia 28 de março de 2020. Nesse ir e vir, refleti sobre o conceito de confinamento no tempo da tuberculose e do Covid-19. Algumas palavras fundamentais podem ser elencadas, tais como: sobrevivência, coragem, obediência, responsabilidade, bom senso, otimismo e fé, dentre outras.
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Já no dia 29 de março de 2020, sinalizo que não deve ter sido fácil para aqueles indivíduos, abandonar tudo e todos que lhes eram importantes a fim de tentar a recuperação de um mal ainda sem cura, diante da inexistência de medicações efetivas, sobretudo da vacina. Felizmente, no caso dos que, em São José dos Campos, se alojavam no Sanatório Vicentina Aranha, é sabido que dispunham de todas as condições recomendadas nos protocolos da época.
Inclusive, era aberto à indivíduos de todas as classes sociais, na medida em que aqueles que tinham recursos financeiros, efetuavam seus pagamentos de tal forma que, havia disponibilidade orçamentária para os desfavorecidos economicamente. Aliás, esse foi um dos objetivos e desejos da senhora Vicentina Aranha, embora não tenha assistido à finalização da obra por conta do seu falecimento anterior à conclusão.
Para os familiares que ficavam nas suas cidades, a luta e o luto (em muitos casos infelizmente) foram enormes e impregnados de saudade, tristeza e dor. Alguns, pela distância, não puderam chorar seus mortos e vivenciarem o simbolismo recomendado pelos entendidos nesse assunto.
A coragem foi revelada pelos profissionais da saúde e trabalhadores em geral, todos dependentes das ordens dos médicos que, notadamente merecem aplausos infinitamente. Nem todos os que vivem em São José dos Campos, conhecem os doutores Nelson D’Ávila, Ruy Dória, Ciro Guimarães e, com certeza, não os associam à fase desafiadora em que foram protagonistas diretos. Acrescenta-se o padre Rodolfo que, com suas incursões missionárias nunca abandonou um irmão carecido de cuidados espirituais. Expôs-se tanto a esse objetivo cristão, que hoje, há um espaço dedicado a esse religioso no interior do parque, aberto livremente à visitação, inclusive, ele também morreu de tuberculose.
Embora não tenha reescrito todas as palavras citadas anteriormente, compreendo que se percebe muitas semelhanças se comparadas à atualidade que, impactados vivemos no ano 20 do século 21. Sinalizo para algumas diferenças que podem ser apontadas como acréscimos decorrentes da realidade virtual que nos domina e comanda. Tais como: um número significativamente maior de informações, de redes de apoio que nos confrontam a ponto de exigir cautela em nome da nossa saúde emocional, tamanha a demanda que nos invadem deliberadamente.
Angustiada, constato que, outra diferença crucial entre as situações que menciono, se refere à uma pandemia que, indiscriminadamente assolou a todos!
Infelizmente, posso dizer que, por ora isso é só e é tudo!
O instante conclama a reunir nossas forças, fé, esperança e perseverança e, da forma possível, exercitar exaustivamente a prática daquelas palavras que têm sido gritadas em formatos e desenhos variados. No caso: generosidade, compaixão, gratidão, solidariedade, somadas em gestos daquele amor que tudo abarca, supera, agrega, partilha, zela, corrige e caminha com passos firmes e cautelosos rumo a outros mares e ares que certamente virão para todos, amém! Paz e bem….
São José dos Campos, 28 e 29 de março de 2020.
(*) Sempre Viva é uma flor que dura mais de 50 anos, possui um aspecto delicado, mas é muito resistente. Tem este nome porque são capazes de manter as cores e o aspecto vivo mesmo depois de secas e sobrevivem em qualquer clima. Este texto, assinado por Sempre Viva, é de autoria de Vera Helena Zaitune – Graduada em História, Mestre em Educação. E-mail: [email protected].