Os jogos de tabuleiro podem contribuir para o aprimoramento da cognição, bem-estar emocional e interação social.
Thais Bento Lima da Silva e Maria Antônia Antunes Fernandes (*)
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Os jogos de tabuleiro podem desempenhar um papel significativo na promoção do envelhecimento ativo, oferecendo uma variedade de benefícios que vão além do entretenimento. Para as pessoas idosas, essas atividades podem contribuir para o aprimoramento da cognição, do bem-estar emocional e da interação social.
Em termos de benefícios cognitivos, jogos clássicos como xadrez, damas e Scrabble têm sido associados a um melhor desempenho em funções como memória, atenção e capacidade de resolução de problemas. Pesquisas, como a realizada pela University of Edinburgh e publicada no Journal of Gerontology (Altschul et. al., 2020), sugerem que a prática regular de jogos de tabuleiro pode estar relacionada à manutenção da saúde cognitiva em pessoas idosas. Além disso, um levantamento da McMaster University (2020) indicou que esses jogos podem aumentar a criatividade e a agilidade mental, características valiosas para enfrentar os desafios cotidianos.
Um exemplo recente de inovação nesse campo é o desenvolvimento de um jogo de tabuleiro voltado à promoção do envelhecimento ativo e saudável, conforme descrito em um estudo sobre gerontotecnologia (Olympio et. al., 2018). A pesquisa qualitativa com 32 pessoas idosas revelou que o jogo foi criado a partir das discussões e saberes dos participantes. Essa iniciativa mostrou-se eficaz em promover a autodeterminação e a independência, atuando como um potencializador de memória, autoestima e socialização.
Os jogos de tabuleiro também podem beneficiar o bem-estar emocional das pessoas idosas. A prática dessas atividades pode ajudar a reduzir sintomas de ansiedade e depressão, promovendo uma qualidade de vida melhor. Jogar com amigos ou familiares não apenas proporciona momentos de diversão, mas também fortalece os laços sociais, importantes para combater a solidão e o isolamento. Jogos como Rummy e Jogo da Vida incentivam a interação e a troca de experiências entre os participantes.
Além disso, os jogos podem promover a intergeracionalidade, permitindo que avós e netos compartilhem momentos de lazer e aprendizado. Um estudo (Iizuka et. al., 2018) sobre a aplicação do jogo “Go” em residentes de Instituições de Longa Permanência (ILPI) demonstrou que a intervenção melhorou a função cognitiva, independentemente do nível de comprometimento cognitivo dos participantes. Essa inclusão ressalta como os jogos podem ser benéficos para a saúde mental, promovendo a aprendizagem e o engajamento.
Os jogos de tabuleiro abrangem diversos tipos que podem ser explorados por pessoas idosas. Jogos de estratégia, como xadrez e Go, são úteis para aprimorar a tomada de decisões. Jogos de palavras, como Scrabble, estimulam o vocabulário e o raciocínio. Os jogos colaborativos, como Detetive, incentivam o trabalho em equipe e a resolução conjunta de problemas, favorecendo um ambiente de amizade e cooperação. Jogos de memória, como Jogo da Memória, são especialmente valiosos para manter a retenção de informações.
Incorporar jogos de tabuleiro à rotina das pessoas idosas pode ser uma abordagem eficaz e acessível para promover o envelhecimento ativo. A combinação de diversão, estimulação cognitiva e fortalecimento das relações sociais torna essas atividades valiosas para a saúde mental e emocional. Portanto, reunir a família para uma partida pode ser uma maneira agradável de enriquecer a vida cotidiana e fomentar a convivência.
Referências
Altschul, Drew M.; Deary, Ian J. Playing analog games is associated with reduced declines in cognitive function: a 68-year longitudinal cohort study. The Journals of Gerontology: Series B, v. 75, n. 3, p. 474-482, 2020. Acesso em: 04 nov. 2024.
Mcmaster University. Board games for your health and well-being. 16 dez. 2020. Disponível em: https://www.mcmasteroptimalaging.org/blog/detail/blog/2020/12/16/board-games-for-your-health-and-well-being. Acesso em: 04 nov. 2024.
Olympio, Paula Cristina de Andrade Pires; Alvim, Neide Aparecida Titonelli. Jogo de tabuleiro: uma gerontotecnologia na clínica do cuidado de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, p. 818-826, 2018. Acesso em: 04 nov. 2024. Acesso em: 04 nov. 2024.
Iizuka, Ai et al. Pilot randomized controlled trial of the GO game intervention on cognitive function. American Journal of Alzheimer’s Disease & Other Dementias®, v. 33, n. 3, p. 192-198, 2018. Acesso em: 04 nov. 2024.
(*) Thais Bento Lima da Silva – Gerontóloga formada pela Universidade de São Paulo (USP). Mestra e Doutora em Ciências com ênfase em Neurologia Cognitiva e do Comportamento, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Docente do curso de Bacharelado e de Pós-Graduação em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP), pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia (ABG). Membro da diretoria da Associação Brasileira de Alzheimer- Regional São Paulo. É parceira científica do Método Supera. Coordenadora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da Universidade de São Paulo.
E-mail: thaisbento@usp.br
Maria Antônia Antunes Fernandes – Bacharel em Gerontologia pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP). Foi bolsista de iniciação científica PUB do projeto: “Intervenções psicoeducativas para a COVID-19 aliada à estimulação cognitiva no programa USP 60 +”. Atualmente é colaboradora do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo da USP (GETCUSP), atuando na área de pesquisa em treino cognitivo de longa duração.
E-mail: aantoniaantuness@gmail.com
Foto de Kampus Production/pexels.