Hermann Hesse reuniu escritos diversos na coletânea Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem(1), elaborando sua visão da velhice e de sua iminente partida. Mas outros escritores também escreveram sobre a morte.
Várias vezes Hermann Hesse escreveu sobre a transitoriedade do que é vivo, mostrando que deixar de sê-lo é uma constante possibilidade. Nascido na Alemanha e naturalizado suíço, o autor percorreu uma trajetória dolorida até uma introspectiva velhice, na qual o real do corpo foi marcado principalmente por forte isquialgia. Conforme recebeu os golpes de Cronos, sentiu-se mais pressionado: “qualquer pessoa sabe que a velhice (…) tem no seu fim a morte”,diz em Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem. (1)
A parte final da coletânea de poemas é sobre esse relacionar-se com a finitude enquanto velho.
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Herberto Helder
os capítulos maiores da minha vida, suas músicas e palavras,
esqueci-os todos:
octogenário apenas, e a morte só de pensá-la calo,
é claro que a olhei de frente no capítulo vigésimo,
mas não nunca nem jamais agora:
agora sou olhado, e estremeço
do incrível natural de ser olhado assim por ela
Aprendizado
Ferreira Gullar
Quando jovem escrevi
num poema “começo
a esperar a morte”
e a morte era um então
um facho
a arder vertiginoso, os dias
um heroico consumir-se
através de
esquinas e vaginas
Agora porém
depois de
tudo
sei que
apenas
morro
sem ênfase.
Mestre
Ricardo Reis
(…)
O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.
(…)
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
Nota
[1] HERMANN, Hesse. Com a Maturidade Fica-se Mais Jovem. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018
Imagem destaque de Tumisu/Pixabay
