O mais recente poema de Cláudio Guimarães dos Santos é uma pequena amostra das pequenas coisas que dão sentido ao humano, como a dor da finitude, o sorriso largo do filho, as coisas que nunca aprenderá, a esperança das partidas, enfim, o ano imponderável que virá…
Cláudio Guimarães dos Santos *
A manhã perfumada de silêncios.
O olhar do meu pai pouco antes de morrer.
O mergulho na tarde ensolarada.
A vista do vale que supõe o abismo.
O texto que jamais será escrito.
A ironia paciente do tempo.
O sonho criador das madrugadas.
A limpeza do primeiro amor.
A dor da minha finitude.
A aspereza das verdades.
O orvalho que, quietinho, se evapora.
A chama que inveja a escuridão.
A clareza das palavras importantes.
O dom que evitei desperdiçar.
A esperança das partidas.
O riso largo do meu filho.
A lembrança agridoce do Natal.
A retórica brilhante das estrelas.
O último poema que farei.
A vida pequenina das migalhas.
O caos macio das nuvens.
As coisas que nunca aprenderei.
A calma das folhas outonais.
A brancura elegante da neve.
O deus que desistiu da eternidade.
As memórias que comigo passarão.
O ano imponderável que virá.
* Cláudio Guimarães dos Santos, além de poeta e pai do Gabriel, é médico, mestre em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP e doutor em Linguística pela Université de Toulouse-Le Mirail (França). É, também, ensaísta e diplomata. Colaborador do Portal do Envelhecimento. Poema enviado desde Algarve, Portugal.