Cantos de móveis mais arredondados, portas mais largas, corredores maiores, espaços mais arejados. Privilegiando o conforto antes de tudo, o projeto da Casa Segura, da arquiteta Cybele Ferreira Monteiro de Barros e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, mostrou transformações dentro do lar que evitam os riscos de acidentes dentro de casa e garantem mais independência para a terceira idade. Mas, para quem achava que as dicas só valiam para os mais velhos, pode mudar idéia. Repensar pequenos detalhes da arquitetura da casa vale não apenas para quem tem uma visão do futuro em casa como também para aqueles que buscam projetar uma moradia inteligente e cômoda.
Simone Muniz
Quantas vezes você mesma sofreu ao tentar fechar um trinco mal-elaborado? No projeto da Casa Segura, atenta-se para que eles sejam deslizantes e não exijam força braçal. As portas também mantêm molas nas dobradiças e, portanto se fecham sozinhas. Um favor para os mais apressados ou distraídos.
Se fosse possível traduzir a Casa Segura em um princípio seria: para quê complicar? “Se o tapete provoca tombos até mesmo das crianças pequenas, está na hora de imaginar uma mudança”, conta Cybele.
O que parecem pormenores fazem a diferença. O corredor externo bem iluminado ajuda enxergar os números dos andares do elevador. As bordas arredondadas dos móveis amenizam o doloroso impacto de um esbarrão. Outra para os desatentos: quando há um degrau no meio do caminho, o piso apresenta uma mudança de cor, como um sinal de alerta.
Além disso, o projeto pensa o desenho de cada móvel de acordo com a estrutura do corpo que vai usar o espaço. O que inclui aumentar em alguns centímetros a altura das bancadas das cozinhas e dos banheiros para que o usuário não se curve. Assentos sanitários, sofás, poltronas e camas são elevados também, em função das dificuldades de articulação. A mesinha de cabeceira tem cerca de dez centímetros a mais do que a cama além de mais visível, torna mais fácil o alcance dos objetos.
A idéia de construir uma Casa Segura surgiu há dois anos. Na montagens de estandes em uma feira de arquitetura, o primeiro projeto prático, Cybele se baseou sobretudo na sua própria experiência com a avó, que viveu até quase os cem anos. Até o final da vida a avó de Cybele se manteve lúcida mas, com o corpo debilitado, necessitava de ajuda até para ir ao banheiro. “Se tivéssemos pensado em adaptar o banheiro com um pequeno corrimão, ou mesmo uma bancada mais alta, ela se sentiria menos constrangida e mais independente”, desabafa Cybele.
Depois de conquistar a feira de arquitetura, ganhar apoio da mídia e de vários outros setores da sociedade, os construtores da Casa Segura receberam patrocínio para criar de uma maquete em tamanho real. E, a partir de então, puderam buscar orientação de especialistas em geriatria e até abrir um concurso nacional da Casa Segura, no ano passado. Os vencedores, estudantes de arquitetura da Veiga de Almeida, tiveram seu projeto construído e receberam ainda um prêmio em dinheiro.
Hoje, a arquiteta Cybele concentra sua pesquisa, principalmente, na segurança – alarmes, intercomunicadores – no caso de roubo ou invasão, ou mesmo de acidentes pessoais. E continua a questionar as dimensões dos espaços físicos. “Depois da padronização industrial, as casas encolheram. Os espaços ficaram tão pequenos mal cabiam um porta”, brinca. “Estamos tentando tirar da cabeça das pessoas que a idéia de que o padrão é bom”, explica. Para ela, a estrutura de toda casa tem que ser construída já pensando na idéia de conforto até o fim da vida. “Só trará vantagens para o morador”, acredita.
Para ter mais informações ou entrar em contato com Cybele, visite o site da Casa Segura Aqui
_____________________________________
Fonte: Maisde50, 30/10/2001. Disponível Aqui