A matéria da Revista Veja “Porque os avós, hoje, são mais participantes e próximos aos netos”, assinada por Gabriela Carelli e Carolina Melo, começa com Mick Jagger, o gosto pelo excêntrico e um novo efeito, cada vez mais comum: os velhos, estão nessa, na onda do que lhes faz bem. Se é rock and roll, mpb, música clássica ou Nat King Cole (que, aliás, sempre adorei), não importa. Tudo isso permite movimento, troca entre gerações, interação com o novo, porque não dizer um resgate do antigo, agora repaginado. Mas não uma espécie de “forçação de barra” para ficar jovem por mais tempo.
A reportagem fala sobre esse novo jeito de ser avó (a) na relação com os netos: “Essa relação de camaradagem entre avós e netos é um fenômeno moderno, que só recentemente despertou a atenção dos demógrafos e passou a ser estudado a fundo por cientistas sociais”. A psicóloga paulista Lidia Aratangy, especialista em família e autora do “Livro dos Avós” explica: “Os avós atuais são o resultado de mudanças drásticas na demografia do Brasil e do mundo”.
Contextualizando essa avosidade, a psicóloga lembra que: “No Império Romano, os longevos não passavam dos 40 anos. Até meados do século XIX, só três em cada 100 pessoas chegavam a viver seis décadas. Como morriam cedo, esses avós conviviam um tempo mínimo com seus netos, o que explica por que o vínculo entre as gerações era tênue, quase distante.”
No cenário atual, vivemos uma realidade muito diferente nesta relação “moldada pelas mudanças demográficas e culturais”. A matéria traz como exemplo “a aposentada Jeny Alcântara, de 76 anos, que se define como uma vovó ‘desassossegada’. Ela participa ativamente da vida de seus cinco netos.
Thiago, 21 anos, um dos netos, resume o relacionamento: “Ela me entende, me apoia nas decisões e curte as mesmas músicas que eu. Tenho 21 anos e ela parece ter 18″. Jeny ainda conta que “a distância não é empecilho para o relacionamento com os outros netos, que moram em outras cidades”. Ela diz: “O Facebook e o Messenger nos aproximam”.
Bem, que fique claro que uma relação para ser satisfatória, “legal” não precisa estar suportada pelos mesmos gostos. Pode ser sim, um vai e vem de coisas diferentes que percorrem gerações, o bom e o ruim do antes e do hoje, juntos. A novela dos 18 horas da Rede Globo “Amor, Eterno Amor”, mostra um pouco dessa relação no personagem do ator Carlos Vereza e do jovem que partilha e aprende com as histórias do velho experiente, independente da ligação familiar.
Estatísticas
Segundo dados estatísticos, a reportagem explica que “os novos avós são pessoas que vivem por muito mais tempo e desfrutam muito mais saúde que seus próprios pais. Sua geração foi forjada por fatores como aumento da expectativa de vida, queda na taxa de mortalidade, diminuição das taxas de fecundidade e melhoria nas condições sanitárias”.
A razão desse novo fenômeno? O envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida. Se olharmos os números no mundo veremos que mais de 16 milhões dos 49 milhões de habitantes da Inglaterra são avós. Na França, 80% das pessoas com mais de 65 anos têm netos. Em breve, metade delas será bisavó.
Um convívio que se prolonga
No Brasil, atualmente, a situação não é diferente. Saltamos de uma expectativa de vida do brasileiro de 46 (em 1950) para 73 anos. O demógrafo Cássio Turra, da Universidade Federal de Minas Gerais diz: “Hoje são grandes as chances de uma criança e de um adolescente brasileiros não apenas conhecerem seus quatro avós, mas também conviverem com eles por duas décadas”.
Turra e Simone Wajnman, a pedido de Revista chegaram à seguinte conclusão (tomando como base a população feminina): “uma avó nascida em 1915, com a média de vinte netos, poderia conviver com alguns deles por quinze anos. Uma avó nascida em 1975, cuja média estatística é de três netos, pode esperar conviver por trinta anos com ao menos um deles. Os resultados comprovam a verticalização da família brasileira”.
Mudanças Culturais
A antropóloga Mirian Goldenberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro diz: “Hoje, é mais fácil encontrar uma vovó tatuada do que uma fazendo crochê. Os atuais avós foram os jovens que nos anos 60 e 70 romperam com tabus, preconceitos e obrigações sociais”. Essa percepção foi comprovada estatisticamente em pesquisa coordenada pela antropóloga desde 2007, com o lançamento do livro “Corpo, envelhecimento e felicidade“.
Mulheres mais velhas em disparada
Homens, cuidados, as mulheres mais velhas saíram em disparada para a vida. Explico. Segundo a reportagem, “as mulheres são maioria na nova geração de avós. Em parte, isso decorre do fato de que estatisticamente elas vivem mais que os homens. Mas, de acordo com Mirian Goldenberg, razões culturais colaboram nesse processo”.
Com a aposentadoria e a redução do nível de exigência externo (e até interno), os homens tendem a se recolher, enquanto as mulheres costumam encarar a velhice como uma oportunidade para aproveitar a vida. A antropóloga explica: “Por paradoxal que pareça, as mulheres mais velhas costumam se tornar mais interessadas no mundo dos jovens”.
Mas até este cenário masculino do “recolhimento ao lar” está mudando. E tudo graças as múltiplas possiblidades que hoje são apresentadas a homens e mulheres.
Referências
ARATANGY, Lidia Rosenberg e Leonardo POSTERNAK (2010). Livro dos avós. São Paulo: Primavera Editorial.
CARELLI, G. & MELO, C. (2012). Porque os avós, hoje, são mais participantes e próximos aos netos. Disponível Aqui. Acesso em 03/04/2012.
GOLDENBERG, Mirian (2011). Corpo, Envelhecimento e Felicidade. São Paulo: Civilização Brasileira.