Avós, crianças e Alzheimer, uma convivência possível e recomendada

Avós, crianças e Alzheimer, uma convivência possível e recomendada

Estudos comprovam e alertam que afastar as crianças do convívio com os avós com Alzheimer, por medo da doença, é prejudicial aos avós e às crianças, principalmente.

 

Até onde você vai na vida depende de ser terno com os jovens, compadecido com os idosos, simpático com os esforçados e tolerante com os fracos e fortes. Porque em algum momento da vida você vai descobrir que já foi tudo isso”. (George Washington)

O diagnóstico de Alzheimer é devastador não só para a pessoa com a doença, quando ainda possui entendimento, mas também, para a maioria das famílias, e traz consigo além de inúmeras dúvidas a respeito da doença, alguns mitos que, se não explicados, podem acarretar problemas emocionais em alguns membros da família, principalmente, nas crianças, que ainda estão constituindo sua capacidade de compreensão e discernimento sobre o mundo.

Sim, o foco do nosso texto serão as crianças e sua relação com os avós com Alzheimer.

É sabido que a perda de memória na Doença de Alzheimer é o sintoma mais significativo e assustador, pois muitas pessoas ainda não sabem lidar com esse evento. Esquecer, ser esquecido, além de angustiante para quem esquece e sofrido para quem é esquecido, acaba sendo um motivo convincente para aqueles que, por desconhecer sobre a doença, decidem afastar ou até mesmo barrar as crianças do convívio com os avós doentes.

E é neste contexto de afastamento que grandes oportunidades se perdem.

Estudos comprovam e alertam que afastar as crianças do convívio com os avós com Alzheimer, por medo da doença, é prejudicial aos avós e às crianças, principalmente.

É importante lembrar que antes do Alzheimer houve uma história de vida e convivência que não se apaga, ficando registrada de alguma forma na vida dos indivíduos em questão. Mesmo que a pessoa com Alzheimer não se lembre dos netos (as), ela se alegra com a presença das crianças e, impedir sua convivência, pode acarretar questões emocionais para estas quando adultas.

As crianças não devem ser excluídas das situações que fazem parte do ciclo da vida como perdas, morte, separações, doenças etc., pelo contrário, inseri-la nestes contextos de uma forma didática para sua idade auxilia na maturidade e no tipo de relação que irão estabelecer com as pessoas mais velhas no futuro bem como na sua capacidade de enfrentamento diante desses eventos.

O que é necessário quando envolvemos uma criança no contexto da doença é o diálogo. Converse, responda perguntas e esclareça dúvidas, explique sobre a doença de uma forma didática para a idade da criança em questão, respeitando a sua etapa do desenvolvimento.

Para a criança é confuso inicialmente tentar entender porque o vovô ou vovó está repetindo a mesma coisa várias vezes ou porque está ficando cada vez mais esquecido (a) chegando a não se lembrar dos netos. Então, uma forma de amenizar o sofrimento é conduzir a situação através do diálogo e de uma forma que a criança consiga assimilar.

As crianças menores entendem melhor uma explicação mais lúdica, então, livros, desenhos, bonecos, uma historinha com esses personagens pode ser mais efetiva. Com as crianças maiores, a explicação pode ser mais elaborada, o importante é situar as crianças nos acontecimentos.

De qualquer forma, alguns cuidados devem ser tomados durante essa explicação: evitar mentiras; não usar termos pejorativos como ‘caduco’, ‘gagá’, ‘louco’; usar de palavras simples e objetivas para explicar.

A melhor forma de conduzir essa situação é explicar que o vovô ou vovó tem uma doença chamada Alzheimer, que a doença faz com que eles se esqueçam de algumas coisas e, portanto, precisam da ajuda deles para se lembrarem. Explique sobre outros sintomas de forma simples e das dificuldades dos avós para algumas atividades de vida diária. Aos poucos a criança vai assimilando todas essas informações.

Devemos nos atentar que a assimilação de informações por parte da criança ocorre de forma lenta, portanto, devemos evitar sobrecarregá-la de informações de uma única vez, pois podem ficar ainda mais confusas. O importante é que a criança compreenda que os avós precisam ser acolhidos e protegidos.

A criança precisa compreender que os avós continuam sendo parte da família e que continuarão os amando da mesma forma. Logo, separá-los desta convivência é uma crueldade para ambas as partes, chegando a ser prejudicial. A criança pode e deve passar um tempo com os avós como sempre fizeram e isso será muito benéfico para ambos.

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Dicas para auxiliar no convívio

– Incentivar o convívio inserindo a criança nas atividades de rotina como caminhar, jogar um jogo, regar plantas, dobrar roupas, ver álbuns de fotografia etc.;

– Explique à criança que ela deve ter paciência e não apressar os avós;

– Explique à criança sobre os assuntos repetidos e diga para que ela não se irrite com isso;

– Ensine a criança a não rir, fazer piadinhas ou constranger os avós. O ideal é que ela aprenda a tratar a situação com naturalidade;

– Sugerir que as crianças usem frases curtas para se comunicar;

– Ensinar as crianças que muito barulho e gritos podem deixar os avós muito confusos.

Lembrem-se, as crianças se comportam e agem tendo os adultos como exemplo. Logo, se os adultos da família empenham um cuidado tranquilo, amoroso e respeitoso, as crianças farão a mesma coisa.

Assim como em toda situação, há ressalvas. Um cuidado que devemos esclarecer também é com relação aos avós que apresentam agressividade ou, outros comportamentos inadequados. Neste caso, a supervisão de um adulto auxilia na convivência sadia.

Já para os avós que gostam de passear com os netos, a sugestão é sempre que os passeios sejam em família para evitar que o idoso se perca e a criança não encontre o caminho de volta.

Mesmo que conduzir a situação seja, a princípio, angustiante, é possível promover a convivência de uma forma benéfica com a participação e auxílio de toda a família. Incentive um carinho, um abraço, um toque, afinal, o amor não pede licença para chegar.

Sugestões de livros infantis
-Vovô super-herói
-A vovó virou bebê
-Alzheimer – A história da doença e a vida do médico que a descobriu.

Sugestão de livro para adultos
Alzheimer: identificar, cuidar, estimular

Sugestões de vídeos
Documentário Alzheimer’s Project_Granpa do You Know Who – HBO
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=M6uOXdWrWYM
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=_kIPPzAIcFQ
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=UsgTFt-is9k

 

jovem de cabelo longo, preto, e de roupa preta, sorri
Simone de Cássia Freitas Manzaro

Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Atua como psicóloga no Centro-dia Angels 4U. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos 50+. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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Simone de Cássia Freitas Manzaro – Psicóloga formada pela Universidade Nove de Julho, Pós-graduada em Gerontologia. Aperfeiçoamento em Atenção Domiciliar. Capacitação em Saúde da Pessoa Idosa. Atua como psicóloga no Centro-dia Angels 4U. Realiza atendimento psicológico de adultos e idosos e de familiares e cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer e similares. Atuação voltada para o contexto do envelhecimento frágil. Possui experiência em Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação para pessoas com Doença de Alzheimer e similares e, Estimulação Cognitiva/Psicoestimulação preventiva para grupos 50+. Realiza consultoria em Psicogerontologia; orientação e treinamento de familiares e cuidadores formais sobre o contexto da doença bem como, os manejos psicológicos, emocionais e comportamentais necessários, auxiliando-os a criar estratégias e atividades para lidar com a pessoa doente no cuidado diário, supervisionando treinamento prático. É membro colaborador dos sites Portal do Envelhecimento, Blog Recorda-me e Alzheimer- Minha Mãe tem. E-mail: [email protected]

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