A Avaliação Global do Idoso (AGI) não é recente e seu primeiro registro de aplicação vem da década de 30, com a médica inglesa Marjory Warren (1890- 1960). A Dra. Warren, também conhecida como a “mãe da geriatria”, foi chamada para coordenar um grande Hospital de doentes crônicos, em Londres, e notou que os idosos que estavam internados ali, embora recebessem ótimos cuidados de enfermagem, não recebiam alta médica.
Gabriela Correia de A. Goldstein(*)

Ela percebeu a necessidade de se avaliar de forma global cada um desses pacientes, buscando diagnósticos mais precisos e identificando os problemas individuais, podendo assim propor a reabilitação multiprofissional mais adequada.
Após esta avaliação sistematizada e a prescrição de tratamento mais efetivo, os pacientes começaram a receber alta e a partir daí a AGI vem evoluindo e incorpora hoje questões de assistência social, reabilitação, nutrição e questões neuropsicológicas (Jacob Filho, Kikuchi, 2011).
A AGI não é uma avaliação voltada à doença e sim às características individuais do paciente. De forma preventiva ela é um valioso instrumento que complementa a anamnese tradicional resgatando um olhar holístico da equipe e que leva a um acompanhamento voltado às necessidades específicas da pessoa idosa.
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Por que é importante a realização da AGI?
O envelhecimento populacional é desafiador ao profissional da saúde que muitas vezes não está preparado para lidar com questões específicas e complexas do envelhecimento. A diminuição da reserva funcional presente no envelhecimento senescente (fisiológico) deixa o idoso mais susceptível aos efeitos colaterais dos medicamentos. As doenças crônicas e o comprometimento da funcionalidade exigem do profissional um olhar cuidadoso para que possa se pensar no acompanhamento mais adequado. A AGI auxilia a detecção de disfunções que não seriam detectadas em uma consulta padrão, proporcionando intervenção precoce, reabilitação e prevenção de agravos.
Quem pode se beneficiar da AGI?
Todos os indivíduos 60+ podem se beneficiar da AGI, porém, os mais beneficiados são aqueles que apresentam alguma alteração de funcionalidade ou multimorbidades. Ou seja, a presença de duas ou mais doenças crônicas. Também são beneficiados aqueles indivíduos que utilizam com muita frequência o sistema de saúde, os que apresentam as síndromes geriátricas ou os que estão em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI´s).
Que profissional pode realizar a AGI?
O ideal é que a AGI seja realizada por uma Equipe Multiprofissional. Na ausência desta possibilidade os profissionais, médico, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, assistente social e psicólogo ou qualquer outro profissional da saúde bem treinado podem realizar a AGI.
Onde a AGI pode ser realizada?
A Agi pode ser realizada em qualquer ambiente onde a pessoa idosa estiver: hospitais, ambulatórios, unidades básicas de saúde, o próprio domicílio e ILPI´s.
Vantagens x Desvantagens
A AGI é uma ferramenta flexível e que pode se adaptar ao contexto de saúde da equipe que a utiliza e as características dos pacientes alvo.
Estrutura
A avaliação investiga questões cognitivas e funcionais através de testes específicos como o Mini exame do estado mental, teste de fluência verbal, teste de equilíbrio (Time up and go), escala de depressão geriátrica, avaliação social, estado nutricional entre outros. Não existe um formato único para a AGI, ela tem seu modelo padrão, mas como já citado, se adaptará às necessidades de saúde do indivíduo e às condições da equipe avaliadora.
Algumas considerações
O indivíduo é singular e, sempre que avaliado, deve ser considerado o contexto no qual está inserido. Quanto mais minuciosa e precoce a avaliação, maiores as chances de se impedir o avanço da perda funcional (Regis et al, 2011). Neste contexto, a AGI é um instrumento que estimula a interdisciplinaridade, é flexível, barato, de fácil aplicabilidade e aumenta o número de diagnósticos. Apresenta-se como uma importante estratégia de rastreio para ser utilizada nos três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e terciário. Na atenção básica, com foco preventivo, pode ser uma importante aliada da promoção de saúde e detecção precoce de disfunções, norteando a terapêutica do paciente.
Referências
EVANS, JOHN GRIMLEY. Marjory Warren. Disponível Aqui. Acesso em 13/04/14
COSTA, E. F. A.; MONEGO, E. T. – Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Revista da UFG, Vol. 5, No. 2, dez 2003 on line. Disponível Aqui
JACOB FILHO, W; KIKUCHI E L. Geriatria e gerontologia básicas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
REGIS, M.O.R., ALCÂNTARA, D. & GOLDSTEIN, G.C.DE A. Prevalência da Síndrome da Fragilidade em idosos residentes em Instituição de Longa Permanência na cidade de São Paulo. Revista Kairós Gerontologia,16(3), pp.251-262, 2013. Diponível Aqui, acesso em 15/04/14.
(*)Gabriela Correia de A. Goldstein – Fisioterapeuta com Mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo. É especialista em Fisiologia e Biomecânica do aparelho locomotor pelo Instituto de Ortopedia do HC- FMUSP, pós graduanda em Gerontologia Social pela PUC-SP. É blogueira e atua na área de Saúde Pública e Gerontologia. Escreve na Categoria Saúde-doença e Políticas. É membro da Rede de Colaboradores do Portal. Email: [email protected]. Blog: Disponível Aqui. Currículo Lattes: Disponível Aqui