Na minha prática profissional em atendimento individual e em pequenos grupos, desenvolvo projetos de vida através da reconstrução da estória de vida através das etapas existenciais. Esse procedimento promove um fortalecimento e restituição do senso de identidade através de reintegração do passado com presente e de novas ideias e sentidos vivenciais.
Acabei de me aposentar, tenho 62 anos e me sinto muito solitário, com tempo ocioso. Percebo a falta da rotina do trabalho, da companhia dos colegas e de um novo sentido de vida para meu tempo livre.
O aumento da população idosa brasileira nos revela que em 2050 a expectativa de vida será de 81 anos e as estimativas mostram que uma em cada três terá 60 anos e uma em cada dez pessoas terá 80 anos. Em função dessa realidade e no sistema vigente, o discurso tem sido: teremos três trabalhadores para sustentar um aposentado (IBGE, 2010), como se o aposentado nunca tivesse contribuído para este país.
Aposentadoria revela uma ambivalência, pois ao mesmo tempo em que é uma conquista, por meio do trabalho, é também marginalizada pela sociedade produtiva como período de decadência, pela concepção social que valoriza o jovem e saudável. Assim, a aposentadoria, ao invés de ser o auge do bem-estar psicossocial, passa a ser um período de inatividade profissional e de exclusão do mundo produtivo (Oliveira, Torres e Albuquerque, 2009). Chega-se a falar de conflitos geracionais por causa disso.
O trabalho tem um aspecto relevante à identidade, autoestima e sociabilidade. Segundo Paulo Freire é inviável para o ser humano viver se ele para de pensar no amanhã, pois somos seres de tal maneira constituídos pelo presente, passado e futuro que nos enlaçam.
Como estamos ficando longevos, a longevidade representa um imenso desafio no século XXI, pois exige que cada idoso desenvolva uma adaptação vivencial através de projetos existenciais que contemplem as novas urgências dos muito idosos, tais como a dependência física e financeira, adequação de moradia e principalmente cuidados com a saúde.
A palavra projeto vem do latim projectu e significa lançar para frente, ou seja, saber trabalhar as dificuldades e problemas realizando planejamento. O projeto de vida se caracteriza por uma ação por antecipação, através de construções mentais nascidas por hipótese que pressupõe uma imagem “a priori” e se apóiam em referências múltiplas e podem ser imaginárias, pessoais, profissionais e culturais (Vercauteren, R.; Hervy, B.; Schaff, J. L. (2009).
Na minha prática profissional em atendimento individual e em pequenos grupos, desenvolvo o projeto de vida através da reconstrução da estória de vida através das etapas existenciais: infância, adolescência, adulta, maturidade e velhice. Esse procedimento baseia-se na terapia de revisão de vida que promove um fortalecimento e restituição do senso de identidade através de reintegração do passado com presente e de novas ideias e sentidos vivenciais (Buttler, 1963).
Por meio da integração das vivências do passado com o presente as pessoas descobrem novos interesses e significados existenciais numa construção pessoal e na possibilidade de novos projetos de vida.
Planeje agora para viver o amanhã!!!
Referências
BUTLER, R. N. (1963) The Live Review: Interpretation of Reminiscence in Old Age. Psychiatry, Journal for the Study of Inter-Personal Processes, 26, 65-76.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Projeção da população do Brasil por sexo e idade par o período 1980-2050. Revisão 2004. Disponível em: HTTP://www.ibge.gov.br. Acesso em maio de 2010.
OLIVEIRA, C.; TORRES,A.; ALBUQUERQUE,E. Análise do bem -estar psicossocial de aposentados de Goiânia. Psicologia em Estudo, Maringá, v.14, n.4, out/dez.2009.
VERCAUTEREN, R.; HERVY, B.; SCHAFF, J. L. (2009) Projet de Vie Personnalisé des Personnes Âgées: Enjeux et Méthode. France: Editions Érès