Na apneia do sono o corpo “luta para respirar” quando deveria estar descansando. Trata-se de um problema invisível.
Estima-se que um em cada três adultos sofra de apneia obstrutiva do sono, mas a maioria sequer possui diagnóstico. O distúrbio, marcado por interrupções repetidas da respiração durante a noite, provoca roncos, microdespertares e queda na oxigenação do sangue. O corpo “luta para respirar” quando deveria estar descansando.
O resultado é devastador: fadiga crônica, déficit de memória, oscilações de humor, hipertensão difícil de controlar, risco cardiovascular elevado e até predisposição a demência. Tudo isso evolui de forma silenciosa, confundindo médicos e pacientes.
Na minha prática clínica, observo inúmeros idosos polimedicados – com prescrições para ansiedade, insônia, depressão, hipertensão, diabetes. Muitos deles continuam com queixas diárias, apesar do arsenal de comprimidos.
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O que ninguém pergunta é: “E a qualidade do sono, como está?”
Se a pessoa não dorme bem, nenhuma farmacoterapia consegue entregar resultados satisfatórios. Continuamos tratando sintomas de um corpo cansado, quando o problema está na base fisiológica: a falta de sono reparador.

O sono como pilar do envelhecimento saudável
Envelhecer com saúde não depende apenas de exames e medicamentos. O sono é um dos pilares da longevidade, tão importante quanto alimentação equilibrada e atividade física. É durante o sono profundo que o cérebro consolida memórias, regula hormônios, controla a pressão arterial e fortalece a imunidade.
Quando essa etapa é interrompida pela apneia, o corpo envelhece mais rápido, e os medicamentos parecem “falhar” em seu propósito.
Um aliado decisivo é o farmacêutico clínico, que pode atuar revisando medicamentos que prejudicam a arquitetura do sono; identificando sinais de apneia em pessoas que não respondem ao tratamento; encaminhando para diagnóstico adequado e acompanhamento multiprofissional; e recolocando o sono no centro do cuidado farmacoterapêutico.
Trata-se de um olhar integrativo e gerontológico, pois não basta prescrever mais um remédio, é preciso enxergar o que está por trás da não-melhora da pessoa.
Uma provocação necessária
Se a pessoa não dorme bem, ela não melhora.
Se não melhora, acumula comprimidos.
E assim, o ciclo da supermedicação continua.
A pergunta é direta: de que adianta empilhar medicamentos se a base da saúde – o sono – continua negligenciada?
Refletir sobre o sono é fundamental. Refletir sobre os sintomas que tem sido tratados com comprimidos, mas que não resolveram, também é importante. Talvez o que falta não seja mais um medicamento, mas um diagnóstico esquecido, a apneia do sono.
Foto de Shvets production/pexels.
